Justiça derruba liminar que barrava construção de moradia popular em horta comunitária na zona leste de SP
Terreno da Horta das Flores, que existe há 17 anos na Mooca, foi cedido pela prefeitura para construção de moradias populares
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O Tribunal de Justiça de São Paulo derrubou, nesta quarta-feira (11), a decisão liminar que impedia a corte de vegetação do espaço Horta das Flores, que fica na praça Alfredo Di Cunto, na Radial Leste, no bairro da Mooca (zona leste da capital paulista). O terreno foi cedido pela Prefeitura de São Paulo, gestão Ricardo Nunes (MDB), para uma PPP (Parceria Público-Privada) de habitação.
Uma audiência pública na Comissão de Constituição e Justiça na Câmara dos Vereadores de São Paulo está marcada para a próxima sexta-feira (20), às 17h, para falar sobre a horta. Representantes da Cohab (Cia Metropolitana de Habitação de São Paulo) e da construtora, além de integrantes do Coletivo Horta das Flores, que faz a gestão do local, estarão presentes.
A liminar respondia a um pedido feito pelo Ministério Público de São Paulo para que a obra não avançasse até que possíveis irregularidades fossem esclarecidas. A decisão é da juíza Paula Micheletto Cometti, da 12ª Vara da Fazenda Pública da Capital.
“Verifico que não há ato praticado pelo Poder Público que transborde a ilegalidade e que exija, ao menos por ora, intervenção judicial”, afirma a juíza na decisão.
Segundo Paula Micheletto Cometti, não houve determinação para início da execução das obras, pois ainda é necessária a aprovação da SEL (Secretaria Municipal de Licenciamento) e dos outros órgãos competentes como a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente.
“Não há nos autos determinação para o corte da vegetação, nem tampouco provas de que a vegetação existente no local estaria imune ao corte em legislação específica”, diz a juíza.
A parceria da prefeitura prevê a construção de mais de 22 mil unidades habitacionais na cidade de São Paulo, em 11 lotes já contratados, para pessoas com renda entre 2 e 5 salários mínimos. Entre eles está o espaço da horta na Mooca.
Em contato com a reportagem, Geraldo Rangel de Franca Neto, 3º promotor de Justiça do Meio Ambiente da Capital e promotor responsável pelo caso, disse que ainda não tomou ciência da decisão. “Não tenho como me posicionar neste momento. Vou aguardar a intimação”, diz. Segundo o MP, o promotor vai se manifestar após analisar a decisão.
Gestora ambiental da horta comunitária, Regina Grilli lamentou a queda da liminar, mas diz que não vai desistir de manter a área verde no local.
“Ficamos mais vulneráveis, mas ainda temos chance. Vamos continuar lutando por esse espaço tão importante, pelo menos para a comunidade e para os munícipes de toda a São Paulo”, ressalta Regina.
Um dos representantes do coletivo Horta das Flores, José Luiz Fazzio afirma que a defesa já planeja outros meios para manter a horta.
“Temos algumas possibilidades como pedir para a liminar ser renovada ou até mesmo um tombamento verde do local, algo nessa linha. Ainda estamos pensando com tranquilidade porque acreditamos no nosso projeto”, destaca Fazzio.
A horta
O espaço ao lado da Radial Leste, de quase 7.000 metros quadrados, conta com uma horta comunitária com mais de 200 árvores nativas e exóticas, uma grande estufa com verduras e legumes, um jardim de plantas medicinais e aromáticas, além de frutíferas como laranja, banana, acerola e abacate.
A horta foi instalada em 2004 pela gestão Marta Suplicy, então prefeita da cidade pelo PT, em um terreno que tinha um galpão da prefeitura da capital paulista. O local, que abrigou uma estufa depois, contou com ações do programa Escola Estufa Lucy Montoro, com o objetivo de promover a segurança alimentar e nutricional na cidade.
Depois, o programa foi descontinuado e a gestão Gilberto Kassab, então no DEM, tentou vender o local para a construção de creches. Contudo, a proposta não avançou.
Já em 2015, o coletivo Horta das Flores assumiu a gestão do local voluntariamente com moradores do bairro e desde então promove a sustentabilidade.
Resposta
Em nota à reportagem, a Prefeitura de São Paulo, por meio da Cohab (Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo), informou que o local foi selecionado para receber as moradias criadas pela PPP da Habitação Municipal.
“Trata-se de área dominial do município, em um local com grande acesso a meios de transportes públicos para atender e facilitar o deslocamento dos moradores da região”, diz a nota.
O órgão ainda diz que o terreno pertence à municipalidade e está desafetado por lei desde 2011. “A área está sendo ocupada ilegalmente pela Coletividade Horta das Flores, servindo a um grupo restrito de pessoas”, afirma a Cohab.
José Luiz Fazzio, um dos representantes do coletivo Horta das Flores, contesta a afirmação da gestão sobre "ilegalidade" do uso do espaço.
A Cohab ainda diz que o projeto prevê a manutenção de 60% da área verde do espaço, sendo que os 40% restantes serão objeto de compensação ambiental.
“Diferente do que ocorre hoje, em que a área é cercada e trancada por um ente privado, o novo espaço será totalmente aberto ao público”, diz.
Por fim, o órgão disse que a horta será remanejada para outro endereço no Distrito da Mooca (zona leste da capital paulista).