A voz do povo e a da Justiça

Ao comentar os questionamentos à conduta do ministro Sergio Moro (Justiça) nos tempos de juiz da Lava Jato, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) se saiu com uma declaração que mostra o jogo do governo: “O povo vai dizer se estamos certos ou não”.

 

Para o Planalto, portanto, o prestígio do titular da Justiça, obtido no processo de combate à corrupção, vai falar mais alto que o mal-estar provocado pelo vazamento de conversas impróprias com procuradores da operação.

Solenidade de entrega de equipamentos de segurança pública da Força Nacional aos estados. O ministro da Justiça, Sérgio Moro, participam - Pedro Ladeira/Folhapress

Em 30 de junho, um domingo, houve manifestações em favor de Moro em todos os estados do país. “Eu vejo, eu ouço”,  disse ele —muito satisfeito, pelo visto.

Dois dias depois, o ministro mostrou disposição para o enfrentamento político: em um depoimento de mais sete horas na Câmara dos Deputados, respondeu sem cerimônia aos oposicionistas que querem rever a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

É uma aposta, claro, no merecido apoio da sociedade à Lava Jato. Para muita gente, as críticas ao ex-juiz são coisa de quem defende corruptos.

Mas uma nova pesquisa Datafolha mostra que a opinião do eleitorado em geral não é tão simplista. Para 58%, as conversas reveladas apontam que Moro agiu de forma imprópria, enquanto 31% aprovaram os procedimentos.

Quanto a Lula, 54% acham que a condenação foi justa, e 42%, injusta. Os percentuais são praticamente os mesmos de uma pesquisa de abril de 2018.

De qualquer forma, o respaldo popular pode ser até decisivo para a permanência do ministro no governo, mas resta uma decisão jurídica difícil sobre a validade de sentenças da Lava Jato. Essa vai caber ao Supremo Tribunal Federal —e só.

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