O risco do ensino a distância

Cada vez mais gente opta por fazer um curso superior a distância. Os dados oficiais mostram que, em 2018, o número de vagas oferecida nessa modalidade ultrapassou pela primeira vez a do ensino presencial: foram 7,2 milhões ante 6,4 milhões. A quantidade de cursos saltou de 2.108, no ano anterior, para 3.177.

Esse é um mercado dominado pelo setor privado e que apresenta grande concentração. Os dados mostram que mais de 80% dos alunos a distância estão matriculados em 20 instituições (somente uma delas pública) e 52% estudam em cinco grandes faculdades particulares.

O crescimento registrado no ano passado veio a reboque de uma mudança na lei. Em 2017, o governo Michel Temer (MDB) afrouxou as regras: a criação de novas unidades passou a não depender mais da visita de técnicos do Ministério da Educação, mas apenas do cumprimento de indicadores de qualidade.

A modalidade --que enfrenta custos menores e, por isso, cobra mensalidades mais baixas-- virou opção preferencial de universidades privadas após a desidratação do Fies, fundo que financia alunos matriculados em cursos presenciais.

Com a crise econômica, que encolheu o orçamento das famílias, muitos estudantes também fizeram essa escolha.

Se essa tendência persistir, o risco mais óbvio é de queda da qualidade da educação superior do país, que já não é lá grande coisa. Os exames de desempenho de estudantes apontam que apenas 15% dos cursos a distância tiraram as notas mais altas, enquanto nos cursos presenciais a proporção foi de 29%.

A tarefa de impedir a proliferação de alunos e profissionais mal preparados cabe ao poder público. É preciso muito cuidado com as arapucas no ensino.

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