Nem as hienas riram

Em mais uma demonstração da falta de compostura nas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) publicou vídeo no Twitter em que um leão é intimidado por um bando de hienas famintas, preste a atacá-lo.

O vídeo deixa claro quem são as tais hienas: o Supremo Tribunal Federal, a Ordem dos Advogados do Brasil, veículos da imprensa, o PT e até o seu partido, o PSL --que o presidente luta para controlar com a mão pesada do bolsonarismo.

Também não resta dúvida sobre a identidade do felino rodeado pelos bichos carniceiros: Jair Bolsonaro.

Fantasiado de rei leão, o presidente talvez sonhe com o poder absoluto dos monarcas. O traje combina com os elogios que sempre fez aos horrores da ditadura militar (1964-1985), seja ao longo de sua extensa carreira de deputado de baixo clero, seja mais recentemente, como candidato e presidente do Brasil.

Não há graça nessa fábula. Onde ele vê hienas há o Estado brasileiro e organizações civis, cujas funções, entre outras, são as de evitar o abuso do exercício do poder. Onde ele vê o leão está o chefe do Executivo, um servidor eleito pelos brasileiros --e que está lá não para atender a seus desejos soberanos, mas para cumprir as leis como qualquer cidadão.

Não demorou para Bolsonaro retirar o vídeo do ar e pedir desculpas. Disse ainda que não se pode culpar o filho Carlos, já que mais pessoas têm a senha de suas redes sociais. O 02, como se sabe, costuma aprontar das suas no Twitter do pai.

Trata-se de uma velha estratégia. De tanto repeti-la, afasta qualquer ilusão de que o presidente esteja de fato arrependido ou que tenha se convencido das regras democráticas --se é que um dia já foi capaz de compreendê-las.

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