Regalia nas alturas

A falta de vergonha com que certas autoridades usam de seus poderes para obter mordomias injustificáveis é uma infeliz tradição na vida brasileira.

Apesar dos tempos de crise, o desleixo com o dinheiro público permanece. E, como sempre, quem paga a conta é a sociedade, que a duras penas é obrigada a sustentar tamanhos absurdos.

O último exemplo dessa extravagância partiu do presidente do CJF (Conselho da Justiça Federal), ministro João Otávio de Noronha. Ele alterou uma portaria de 2015 para propiciar a outros 17 membros do conselho o conforto de viajar em classe executiva nos voos internacionais. Até então, só o presidente do órgão tinha essa vantagem.

Neste mês, Noronha voou à Alemanha. Levou consigo um cortejo de ministros do STJ (Superior Tribunal de Justiça) e presidentes de Tribunais Regionais Federais, ligados ao CJF. Foram participar do Seminário Alemanha-Brasil, na Universidade de Friburgo.

A comitiva simplesmente não divulgou informações sobre a viagem, como os valores gastos e o total de autoridades que ganharam o bilhete executivo.

A sociedade brasileira já deixou claro que está indignada com tanta gastança no setor público. Mesmo assim, alguns parecem viver num mundo de fantasia. É o caso daquele procurador de Minas Gerais que chamou de "miserê" um salário médio de R$ 24 mil.

Tamanha arrogância é ainda mais chocante num país que sofre com grave concentração de renda, desigualdade social e inchaço da máquina governamental.

Trata-se de um quadro dramático, mas que não parece sensibilizar os ilustres servidores que cruzam o Atlântico com regalias às custas de nossos impostos.

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