Intolerância é pior

O atentado com coquetéis molotov à sede do programa humorístico Porta dos Fundos, no Rio de Janeiro, fecha de modo triste um ano carregado de episódios de intolerância na área cultural.

Ocorrido na madrugada da véspera de Natal, o crime ainda é investigado, mas parece óbvio que os idiotas reagiam ao recente filme do grupo, uma sátira que retrata Jesus como homossexual.

Manifestações do tipo não são novidade: terreiros de candomblé vêm sendo destruídos, inclusive em São Paulo. Outros casos de hostilidade também atingiram autores e obras em universidades e festivais de cinema.

É normal que muitos cristãos se sintam ofendidos com o programa. Por outro lado, engraçada ou não, trata-se de uma comédia e, claro, ninguém é obrigado a assisti-la. Atos como esse agridem a liberdade de expressão e a democracia.

Infelizmente, a disputa política que tomou conta do país parece ter atiçado radicalismos religiosos e culturais. A chegada de Jair Bolsonaro à Presidência também contribuiu para isso. 

Ele faz questão de deixar seu desprezo por boa parte do mundo artístico, que vê como esquerdista. O presidente pode ser conservador, mas não tem o direito de impor preferências políticas, estéticas ou morais a ninguém.

Uma coisa é o governo querer reduzir verbas para o cinema e o teatro, medida razoável em tempos de crise. Outra é querer determinar, com base no conteúdo, que tipo de produção terá o apoio do poder público. Esse tipo de escolha precisa ser impessoal, a partir de normas previamente definidas.

Como presidente, Bolsonaro prestaria melhor serviço se tentasse acalmar os ânimos e não pôr mais lenha na fogueira.

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