Infratores fardados

O chocante episódio em que o senador Cid Gomes (PDT-CE) foi baleado após investir uma retroescavadeira contra policiais militares amotinados em um quartel de Sobral, no Ceará, vai além da sequência de atos tresloucados.

Trator em que o senador licenciado Cid Gomes foi baleado nesta quarta-feira (19) em frente ao 3° Batalhão da PM de Sobral (CE) - Marcel Rizzo/Folhapress

Em um movimento por aumento salarial que já dura mais de dois meses, parte da PM cearense usa métodos ilegais para intimidar as autoridades e a população. E o fenômeno não é isolado no país.

A Constituição proíbe paralisações de militares, norma que vale para todas as forças de segurança. No Ceará, houve ataques a batalhões e roubos de viaturas por pessoas encapuzadas, provavelmente policiais, esposas e parentes. 

Em tempos de vacas magras, a corporação já arrancou do governador Camilo Santana (PT) um reajuste salarial generoso. O pretexto para a brutalidade é tão somente apressar a chegada da grana.

A chantagem armada se repete em outros estados, ainda que sem a mesma violência. Em Minas Gerais, Romeu Zema (Novo) propôs espantosos 41,7% de reajustes ao setor de segurança. 

Motins policiais, alguns com consequências trágicas para a população, não são novidade no Brasil --e tal baderna é estimulada por leis que, depois, anistiam os infratores fardados.

O momento atual é ainda mais preocupante. É notória a afinidade entre o capitão reformado e presidente Jair Bolsonaro e as forças de defesa e segurança (refletida, por exemplo, em tratamento privilegiado na reforma da Previdência).

O abuso e a intimidação devem ser contidos antes de ultrapassarem as divisas do Ceará. Para tanto, é preciso que os governantes ouçam o repúdio da sociedade, negociem com altivez, zelem pelo Orçamento e punam esses infratores.

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