O chocante episódio em que o senador Cid Gomes (PDT-CE) foi baleado após investir uma retroescavadeira contra policiais militares amotinados em um quartel de Sobral, no Ceará, vai além da sequência de atos tresloucados.
Em um movimento por aumento salarial que já dura mais de dois meses, parte da PM cearense usa métodos ilegais para intimidar as autoridades e a população. E o fenômeno não é isolado no país.
A Constituição proíbe paralisações de militares, norma que vale para todas as forças de segurança. No Ceará, houve ataques a batalhões e roubos de viaturas por pessoas encapuzadas, provavelmente policiais, esposas e parentes.
Em tempos de vacas magras, a corporação já arrancou do governador Camilo Santana (PT) um reajuste salarial generoso. O pretexto para a brutalidade é tão somente apressar a chegada da grana.
A chantagem armada se repete em outros estados, ainda que sem a mesma violência. Em Minas Gerais, Romeu Zema (Novo) propôs espantosos 41,7% de reajustes ao setor de segurança.
Motins policiais, alguns com consequências trágicas para a população, não são novidade no Brasil --e tal baderna é estimulada por leis que, depois, anistiam os infratores fardados.
O momento atual é ainda mais preocupante. É notória a afinidade entre o capitão reformado e presidente Jair Bolsonaro e as forças de defesa e segurança (refletida, por exemplo, em tratamento privilegiado na reforma da Previdência).
O abuso e a intimidação devem ser contidos antes de ultrapassarem as divisas do Ceará. Para tanto, é preciso que os governantes ouçam o repúdio da sociedade, negociem com altivez, zelem pelo Orçamento e punam esses infratores.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.