Militares em alta

Antes de ser levado a sério como presidenciável, Jair Bolsonaro era visto pela maior parte do alto escalão do Exército como um militar indisciplinado.

Durante a campanha ao Planalto, ele cercou-se de generais da reserva, que fizeram pontes com os comandantes da ativa. Eleito, Bolsonaro montou o governo com um número inédito de ministros vindos dos quartéis: 8 de 22. 

No primeiro ano de mandato, porém, ocorreram vários choques entre essa ala e a turma ligada aos filhos do presidente e ao escritor Olavo de Carvalho.

Alguns acabaram caindo, caso do general Carlos Alberto dos Santos Cruz, da Secretaria de Governo. Para lá foi outro general, Luiz Eduardo Ramos. Enquanto fardados eram chamados para tratar de temas como os incêndios na Amazônia, Ramos viu a sua influência crescer.

Agora, com a nomeação do general Walter Braga Netto para a Casa Civil, a ligação de Bolsonaro com o verde-oliva parece mais forte do que nunca. "Ficou completamente militarizado o meu terceiro andar", gabou-se o presidente, citando a área do Planalto em que despacham os titulares da Casa Civil, da Secretaria de Governo e do Gabinete de Segurança Institucional --todos generais.

Não há nenhum impedimento legal à presença de representantes das Forças Armadas em cargos públicos civis. A maioria, inclusive, é bastante qualificada, principalmente os de alta patente.

Mas, nessas proporções, essa militarização não deixa de ser preocupante, ainda mais pelo nosso histórico de golpes e ditaduras. Mesmo que no futuro todos eles sejam enviados à reserva, o precedente está aberto. Por ora, essa presença exagerada já resulta em privilégios para as carreiras militares.

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O presidente Jair Bolsonaro ao do vice-presidente, Hamilton Mourão, durante cerimônia de lançamento do Programa Nacional de Escolas Cívico-Militares, no Palácio do Planalto, em Brasília (DF) - Pedro Ladeira - 5.set.19/Folhapress

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