Causou estranheza a forma como o governador João Doria (PSDB) decidiu não reconduzir o sociólogo Benedito Mariano ao cargo de ouvidor da Polícia de São Paulo, que ocupava desde 2018.
Órgão independente, a Ouvidoria serve como porta-voz da população em ilegalidades ou crimes cometidos por policiais civis e militares, como homicídios, torturas e abusos de autoridade. O mandato, renovável, é de dois anos.
Mariano reclama que não foi avisado com antecedência sobre o afastamento, o que, diz ele, prejudicará a transição.
O mal-estar maior, porém, foi o fato de o desligamento ter ocorrido no mesmo dia em que o ouvidor divulgou o balanço de 2019 do órgão --que apontou, entre outros fatos, a explosão de mortes cometidas em serviço por policiais da Rota. Os casos praticamente dobraram: 101 no ano passado, ante 51 em 2018.
A escolha do ouvidor é decisão do governador. Foi apresentada a ele uma lista tríplice, na qual Mariano havia sido o mais votado. Doria, contudo, deu preferência ao terceiro nome, o advogado Elizeu Soares Lopes. Ligado ao movimento negro e ao PC do B, ele já foi assessor do ex-prefeito Fernando Haddad (PT).
Não há dúvida de que o processo foi legítimo, como Doria fez questão de frisar. "O governador escolhe um dos três nomes. E foi feita a escolha. Ponto final."
Teme-se, no entanto, que alguns trabalhos não tenham ponto final --como o relatório que apura as responsabilidades da Polícia Militar no massacre dos nove jovens de Paraisópolis, que Mariano foi obrigado a deixar pelo caminho.
A Corregedoria da PM, por sua vez, já pediu o arquivamento do inquérito após concluir que a ação foi correta. Resta, por enquanto, a investigação da Polícia Civil.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.