Naquilo que já virou um trauma recorrente, o sistema eleitoral americano fez o mundo prender a respiração. Foi assim em 2000, quando George W. Bush triunfou só um mês depois do pleito, numa dura disputa judicial.
Em 2016, Donald Trump repetiu seu colega republicano Bush e também venceu sem maioria no voto popular. A distorção vem do confuso modelo em que ganha quem conseguir mais votos no Colégio Eleitoral --ou seja, a maioria dos votos de delegados dos 50 estados.
Nessa eleição indireta, quando a polarização se acentua, pequenas diferenças podem mudar o resultado final.
Como já esperado, Trump tumultuou o processo ao cantar vitória antes da hora, com apenas resultados parciais favoráveis em estados nos quais a corrida contra Joe Biden estava apertada.
Pior, disse que iria à Justiça com o objetivo de parar a contagem, de modo a interromper o jogo antes do fim. Sua tese furada é que os democratas estimularam o voto antecipado pelo correio, o que poderia gerar manipulação.
A pandemia impulsionou a modalidade neste ano. Mas, para o presidente, "isso é uma enorme fraude". "É uma vergonha para o nosso país. Francamente, nós ganhamos esta eleição", atacou.
Trump tinha, àquela hora, motivos para celebrar. A "onda azul", em referência à cor do Partido Democrata de Biden, não se concretizou. Os democratas falharam em garantir o apoio de minorias, como os latinos na Flórida. E a divisão do país se aprofundou, o que favorece Trump.
Biden promete barrar o absurdo. Com a aparente reação de seu partido na apuração, parecem estar garantidas novas rodadas de ataques à democracia. Prender a respiração terá mais uma utilidade.
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