Descrição de chapéu Opinião

Claudinei Queiroz: De paraquedas na política

São Paulo

Kirsty Coventry é a melhor esportista do Zimbábue, um país em crise no coração da África. Uma das melhores nadadoras da história, ela conquistou 42 medalhas internacionais na carreira, sendo sete olímpicas (2 ouros, 4 pratas e 1 bronze). Ao dar adeus às piscinas, após os Jogos Rio-2016, sua quinta Olimpíada, ela passou a se dedicar à sua fundação para ajudar as crianças de sua terra natal e à comissão de atletas do COI.

A ministra do Esporte do Zimbábue, Kirsty Coventry, em evento comemorativo ao Dia da Juventude na capital Harare
A ministra do Esporte do Zimbábue, Kirsty Coventry, em evento comemorativo ao Dia da Juventude na capital Harare - Reprodução do Twitter @kirstycoventry

Tudo seguia como planejado, até 7 de setembro do ano passado, quando ficou sabendo pela TV, em um pronunciamento do presidente  do país, Emmerson Mnangagwa, que ela seria a nova ministra do Esporte.

Depois ela soube que o anúncio tinha sido feito porque a lista de ministros havia vazado. Então, após o susto, ela decidiu aceitar.

O problema foi que, fora do mundo da política, ela passou a encontrar entraves de todos os tipos. O primeiro é racial, já que ela é branca em um país com mais de 99% da população negra. Políticos e dirigentes esportivos não se sentiram representados por ela. 

Outro desgaste surgiu quando ela percebeu o nível de corrupção presente no país. O dinheiro que seria usado em competições sumia, na maioria das vezes. 
Isso em um país que ocupa apenas a 176ª posição na lista de renda per capita. O Brasil, por exemplo, é o 76º.

Kirsty Coventry comemora a conquista de sua primeira medalha de ouro olímpica, na prova dos 200 m costas dos Jogos de Atenas, em 2004
Kirsty Coventry comemora a conquista de sua primeira medalha de ouro olímpica, na prova dos 200 m costas dos Jogos de Atenas, em 2004 - Tim Clary - 20.ago.2004/AFP

Então, o que Kirsty fez? Começou a cortar gastos. Foi assim que ela ganhou mais uma briga quando desistiu de receber um torneio de críquete e a seleção do país foi suspensa pela Federação Internacional.

No futebol, ela também passou a acompanhar mais de perto as finanças. Seu objetivo, segundo disse ao jornal The Telegraph, é fazer o que for possível para salvar o esporte e evitar que atletas promissores deixem o país para representar outra nação, devido à falta de apoio e infraestrutura.
    
Sua perseverança frente a tantas intempéries me faz sonhar com uma figura semelhante no Brasil, que lute com unhas e dentes para melhorar o esporte. Uns vêm, outros vão, mas até hoje, ninguém apareceu.

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