Descrição de chapéu Opinião

Claudinei Queiroz: Mania de grandeza

São Paulo

O Qatar é um pequeno país árabe localizado no Oriente Médio, uma península dentro do Golfo Pérsico que é praticamente a metade de Sergipe, o menor estado brasileiro. No entanto, o que ele tem de pequeno tem de rico. Situado em cima de uma grande reserva de petróleo, como toda a região, o país tem a terceira maior renda per capita do mundo e possui dinheiro para fazer o que quiser. 

Pois, nos últimos tempos, os governantes resolveram investir pesado no mercado esportivo e garantiram a realização da Copa do Mundo de futebol de 2022 e de campeonatos importantes de várias modalidades.

A portuguesa Carla Salomé Rocha se refresca durante a maratona do Mundial de Doha; ela foi uma das 40 competidoras que conseguiu cruzar a linha de chegada
A portuguesa Carla Salomé Rocha se refresca durante a maratona do Mundial de Doha; ela foi uma das 40 competidoras que conseguiu cruzar a linha de chegada - Mustafa Abumunes - 27.set.19/AFP

Um deles é o Mundial de Atletismo, que está sendo realizado na capital Doha até o próximo domingo (6). Até aí, tudo bem, já que a infraestrutura do país é a melhor que o dinheiro pode comprar. A questão, porém, está no que ele não pode: o clima e as questões políticas com os vizinhos.

Dentro do climatizado estádio Khaliffa, a temperatura é amenizada por cerca de 500 canhões de ar condicionado, que dá boas condições para os atletas competirem. O problema fica com as modalidades disputadas nas ruas. Como durante o dia a temperatura média nesta época é de 40ºC, as provas foram agendadas para o meio da noite, como a maratona feminina.

Mesmo com a largada à meia-noite, a temperatura estava 32,2ºC e a umidade do ar, em sufocantes 73%. Resultado: 28 das 68 atletas não finalizaram, algumas até passaram mal. O tempo da vencedora, a queniana Ruth Chepngetich, foi 15min acima de sua melhor marca, conquistada em janeiro. Após a prova, 30 corredoras ficaram em observação no centro médico do estádio. 

No dia seguinte, foi a prova masculina de 50km de marcha atlética. Apesar de o clima estar um pouco mais ameno, 14 dos 46 competidores desistiram, também não aguentando o calor excessivo.

Um dos maiores corredores da história, o etíope Haile Gebrselassie, hoje aposentado, criticou duramente a organização, afirmando que competir nessas condições extremas poderia até causar a morte de alguém.

O ucraniano Maryan Zakalnytskyy terminou a prova de marcha atlética de 50km em nono, mas precisou ser levado para o centro médico para se recuperar
O ucraniano Maryan Zakalnytskyy terminou a prova de marcha atlética de 50km em nono, mas precisou ser levado para o centro médico para se recuperar - Mustafa Abumunes - 29.set.19/AFP

Dentro do estádio, por outro lado, o ponto negativo foi o público minguado, longe de parecer um clima de Campeonato Mundial.

Nesse caso, o comitê organizador colocou a culpa em um suposto boicote imposto ao Qatar por Bahrein, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Egito, que o acusam de apoiar o terrorismo. O Qatar nega.

Isso mostra que não basta ser rico se o país não tiver boas relações e um clima menos danoso aos atletas.

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