O primeiro 10 de dezembro que não te dei um beijo foi o de 2012, quando você fez 4, Basílio. Estava a trabalho, no Japão. Você sabia e já entendia. Mas eu sofria. Chorei muito, filho, no teu dia. Chorei muito mais, de alegria, seis dias depois quando não conseguia completar a ligação e sua mãe postou uma foto sua com a minha camisa do Corinthians para comemorar o bi mundial.
Teve também o primeiro jogo teu que eu não pude acompanhar. Corinthiano sofredor de verdade é quem é pai de lateral e ala direito de categoria de base. Sofri por não estar lá para apoiar mesmo sabendo que ser pai também é dar o exemplo de que a obrigação, o trabalho vem primeiro.
Mas nem sempre é trabalho. Não sabe como doeu a consciência da primeira viagem que fiz com sua mãe e não o levamos. Navio, com parada no estrangeiro, e você curtindo a casa dos vovôs em Caraguá... Lembra a primeira vez que você trocou o colo do papai por outro, sem chorar? Foi pelo de sua prima Thayná. E ela é são-paulina vira-casaca de origem palestrina!
A primeira viagem que você fez com os amigos da escola, papai, obviamente, não estava. O que você não sabe é que eu não fui na porta da escola dar tchauzinho na porta do ônibus só porque eu acho ridículo, como te disse. Acho também. Muito. Mas mais ridículo ainda seria se o pai chorasse na hora. Então, “mandei” só a mamãe e ainda brinquei que você era o bebezão dela...
A tua primeira crise de bronquite que eu não estava em casa para a inalação foi de matar o papai. Sorte que mamãe estava lá para me relatar e te acalmar. Isso não foi nada perto de sua primeira operação. Sete dentes (quatro canais, três obturações), anestesia geral, mais de quatro horas para você acordar... Foi em 2012, você tinha 3 anos...
Mas, disparada, a pior primeira vez de todas foi quando o papai foi à Africa, em 2010, e não pude te explicar, diferentemente do que aconteceu no Japão em 2012, porque você só tinha um ano e cinco meses e ainda não falava nem entendia.
E soube que você teve febre e chorava sem explicação. Como chorou copiosamente e me agarrou quando o papai voltou, 54 dias depois. E ainda trouxe dez bolas de presente na sacola.
Filho, a vida não para, não para, não para. E seu pai nem sempre estará presente.
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