Há 30 anos, o Leão de Bragança rugia na Série B do Brasileiro

No ano em que volta à Série A nacional, Bragantino comemora o aniversário do seu primeiro título nacional

São Paulo

Localizada a 85 km de São Paulo, Bragança Paulista é conhecida como a Capital Nacional da Linguiça. Há 30 anos, porém, a cidade passou a ter algo novo para se orgulhar: o Bragantino.

Coincidentemente, no ano em que o clube do interior voltou a vencer a Série B do Brasileiro para retornar à elite, após 21 anos, comemora-se também as três décadas de sua primeira conquista nacional.

No dia 20 de dezembro de 1989, o Massa Bruta encarou o São José (SP) na grande decisão da Divisão Especial do Campeonato Brasileiro, a atual Série B, e conseguiu um triunfo por 2 a 1 diante de sua torcida no clássico estádio Nabizão. Como havia vencido a partida de ida por 1 a 0, ficou com o troféu e ganhou o reconhecimento de todo o país.

Peças essenciais, Biro Biro, Gil Baiano e Luiz Müller (da esq. para a dir.) voltam ao estádio Nabizão, em Bragança Paulista, 30 anos após a conquista da Divisão Especial do Brasileiro, em 1989, pelo Bragantino 
Peças essenciais, Biro Biro, Gil Baiano e Luiz Müller (da esq. para a dir.) voltam ao estádio Nabizão 30 anos após a conquista da Divisão Especial do Brasileiro, em 1989, pelo Bragantino  - Eduardo Knapp/Folhapress

“Para mim foi muito especial esse título. Eu já estava com 36 anos e foi uma emoção muito grande. Diziam que eu estava aposentado”, relembrou o ex-meia Gatãozinho, ao Agora. Ele já havia faturado a Taça de Prata de 1983 no Juventus.

Disputado em um formato diferente do atual, a competição começava com 16 grupos de seis equipes. Os dois primeiros avançavam ao mata-mata.

“O modelo da competição foi a nossa maior dificuldade, trazia muita insegurança. O campeonato começou com 96 times. Era muita coisa”, disse o ex-goleiro Marcelo Martelotte.

"Na época, o presidente de honra, que era o Nabi, perguntou se eu preferia jogar a Série B ou fazer uma excursão pela Europa. Eu optei pelo campeonato nacional, tracei como meta ser campeão e consegui", falou Vanderlei Luxemburgo, então técnico da equipe.

No Grupo J, o Leão de Bragança chegou favorito à competição após alcançar as semifinais do Paulistão daquele mesmo ano. Assim, o time não enfrentou dificuldades e avançou com oito vitórias e dois empates para a segunda fase.

 

“O campeonato foi mais tranquilo para nós no início. Emblemático foi passar pelos mata-matas e conseguir alcançar a sonhada final”, comentou o ex-lateral direito Gil Baiano.

No caminho para alcançar o seu primeiro título nacional, o Bragantino passou por Catanduvense e Juventus antes de chegar às quartas de final, o momento mais tenso da campanha.

Então invicta, a equipe do interior paulista enfrentou o Criciúma, o campeão do Catarinense comandado pelo ex-jogador Sérgio Lopes. Na ida, em casa, o Tigre impôs a primeira derrota ao time de Luxemburgo.

“Tivemos muitas dificuldades no primeiro jogo. Pressão, torcida hostilizando e a imprensa colocando a gente como um time pequeno. Era um clima muito ruim e perdemos por 1 a 0”, comentou Luiz Müller.

Porém, na volta, um herói improvável salvou o clube. “Nós conseguimos vencer por 3 a 0 com um gol meu. Como lateral esquerdo, era muito difícil fazer gol, mas ajudei”, disse Biro Biro.

“Sem dúvida foi o nosso adversário mais difícil”, assegurou Martelotte.

Depois, o Leão encarou uma dura disputa com o Remo, vencida nos pênaltis, e chegou à decisão.

Arte Agora

Título marcou início do sucesso do técnico Vanderlei Luxemburgo

Antes de construir seu enorme legado como treinador de futebol, Vanderlei Luxemburgo deu o pontapé fundamental na sua carreira em 1989. O então comandante de 37 anos assumiu o Bragantino no início daquele ano e mudou para sempre sua história.

Vanderlei Luxemburgo ganhou projeção como técnico à frente do Bragantino
Vanderlei Luxemburgo ganhou projeção como técnico à frente do Bragantino - Matuiti Mayezo - 18.mar.14/Folhapress

Com apenas nove anos de experiência no banco de reservas e um título do Campeonato Capixaba (1983) pelo Rio Branco-ES, o ex-lateral esquerdo assumiu o Massa Bruta depois de rápidas passagens por times como América-RJ, Vasco e Fluminense, além de dois clubes árabes.

“Ele veio com toda a sua experiência como jogador e treinador na Arábia, apesar de ainda pouco conhecido no Brasil, e conseguiu montar um bom esquadrão vencedor”, relembrou Biro Biro, ao Agora.

O treinador foi o responsável por conduzir o time de Bragança à semifinal do Paulistão daquele ano e ao título da Segundona.

“O Vanderlei motivava muito o grupo tirando o máximo de cada jogador e utilizando o que cada um tinha de melhor”, celebrou o ex-meia Luiz Müller.

"A motivação é uma característica minha. Quero sempre tirar o máximo de cada atleta. Eu parto do princípio que em um esporte coletivo como o futebol, devemos sempre partir do plural e não do individual. O nós é um fator fundamental de um esporte coletivo", frisou o treinador carioca.

Depois da conquista, Luxa fez sucesso: foram cinco Brasileiros, uma Copa do Brasil, 13 Estaduais, uma Copa América entre outros. 

Goleiro jogou o mata-mata com o dedão quebrado e infiltrações

Com apenas 20 anos, Marcelo Martelotte foi contratado com o aval de Vanderlei Luxemburgo pelo Bragantino. Depois de boas atuações pelo Taubaté na Série A-2 do Paulista, o goleiro chegou por empréstimo e logo assumiu o posto de titular com a lesão do titular, Marquinhos, no início do torneio nacional.

O ex-goleiro Marcelo Martelotte foi essencial no título nacional do Bragantino
O ex-goleiro Marcelo Martelotte foi essencial no título nacional do Bragantino - Fernando Santos - 20.out.10/Folhapress

O goleiro adquiriu a confiança do treinador pelo momento debaixo das traves e por outra postura. No decorrer do torneio, o jogador sofreu uma fratura.

“Quebrei o dedão da mão há dois dias do jogo contra o Criciúma [na quarta fase], fora de casa. Eu viajei com o braço engessado, mas fiz uma infiltração e quis jogar mesmo assim. Foi uma decisão minha”, relembrou Marcelo Martelotte.

“Fui fazendo tratamento com parafina, mas era uma fratura. Eu não treinava para não agravar a situação. Joguei o segundo jogo contra o Criciúma ainda com infiltração, mas fazia uma proteção, uma bandagem e ainda assim jogava com dor”, completou o ex-jogador.

Sorte do grupo que contou com a estrela do lesionado goleiro nas semifinais, quando Martelotte foi crucial e defendeu dois penais contra o Remo. “Jogava com dor, mas fui acostumando e vencemos”, concluiu.

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