Sem tempo para livros com muitas coisas escritas, o bezerrinho Biroliro jogava bola no time da família e se informava do que acontecia no mundo pela corrente de amigos do grupo “Gado do Bem” do WhatsApp. E, ao dar carrinho, repetia o gesto da arminha do volante do seu time, aquele mesmo do “dar porrada com responsabilidade”.
Mas Biroliro nunca foi violento nem contra a cultura. Ele até ri com o pum do palhaço. Patriota, só ouve música nacional desde que se apaixonou por “pra frente, Brasil, salve a seleção”.
Cresceu pastando com os seus amiguinhos ao som de “inútil, a gente somos inútil”.
Apesar de negar ser racista, Biroliro nunca gostou de “boi, boi, boi da cara preta” e de outras cantigas subversivas.
Biroliro cresceu e, graças a Deus, virou um boi gordo sem pegar no pesado. Seu negócio, que passou aos filhos, é sombra, água fresca, ruminar asneiras e mamar nas tetinhas que pastam nas fartas terras planas.
Adora caçar em áreas públicas proibidas porque é contra essa frescura de preservação da fauna e da flora. Se pudesse, o líder da manada não veria problema ético em trotar com as quatro patas por cima de indígenas e de quilombolas de sete arrobas.
Biroliro acredita que sua condição privilegiada é meritocracia. E ignora a ciência. Considera-se a própria ciência! Não acredita em febrezinha aftosa. É contra vacina, acha bobagem de comunista. “Morrer, um dia, todo boi vai morrer”, minimiza. “Os mais velhos, se não for por febrezinha, vão morrer de mamite ou de velhice, faz parte.”
Sem vacina nem qualquer cuidado, Biroliro, que se acha protegido pelo seu histórico de atleta, não mostrou o teste, mas todos sabem que testou positivo para estupidez.
Doente, tomou um drible da vaca duplo. Caneta na Saúde, chapéu na Justiça. E, se não pedir para sair, será expulso de campo pela maioria formada pela parcela sã e por ex-aliados oportunistas que roeram a corda e pularam do barco fantasiados de heróis.
Parte do gado, acéfalo, muge. E, como Biroliro, também levará o vermelho da história. E, desta vez, não terá juiz ladrão para barrar o time adversário.
Trata-se de ficção, talkey? Qualquer semelhança da fábula com a vida real é uma trágica coincidência. Povo marcado, povo feliz, vai passar!
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