Nome de imperador, sobrenome italiano, alma operária, Adriano Pessini encarna os valores de uma sociedade esportiva miscigenada, apaixonada, complexa, plural, mezzo família, mezzo rebeldia, de quem não sabe levar a vida se não for com toda fibra e intensidade.
Italiano do ABC, careca de esquerda, bom humor emburrado para quem enxerga o copo cheio, mal-humorado engraçado para quem vê o copo meio vazio, de um “saraivismo” quase estereotipado, ninguém fez tão bem o papel social real e o de antissocial virtual que o comunicador social habilitado em jornalismo.
Roqueiro sambista da Mancha, Pessini será, ad aeternum, Palmeiras acima de tudo. Amor alviverde que não o impediu de fazer um ótimo trabalho como repórter-setorista do São Paulo e de ter produzido, apurado e escrito, disparado, o mais saboroso relato jornalístico da vida de Carlitos Tevez no sofrido Forte Apache. Está nos arquivos do jornal e, mais importante, registrado de forma indelével e atemporal nas digitais inconfundíveis do humor ferino, temperando texto claro, objetivo e muitíssimo bem escrito.
Palestra sempre na boca independentemente do tema do discurso, pilastra que sustentou por 46 anos de vida que agora segue outro curso, Pessini ostenta o P de Palmeiras com orgulho no peito, na alma e como DNA eterno e imutável em seu perispírito. O verde da esperança ajudou em sua vitória contra o câncer no pâncreas, mas quis a trágica ironia que uma metástase afetasse até a coluna do cerebral jornalista, encerrando seu ciclo terrestre.
“Repolho”, quando fui seu bicho no curso de jornalismo da Metodista, ou Pessa, quando foi meu editor no Agora, ganhou o passaporte para seguir a luta da vida eterna em outro plano. E foi à Pessini, fazendo-me rir e chorar da ironia da dor de ter partido justamente no Dia do Trabalho. Se sempre estivemos de lados opostos da arquibancada no Dérbi, fomos abraçados à Paulista em 2002 comemorar, na pessoa do Lula, o que sonhamos e acreditamos juntos ser a vitória do povo preto, branco, alviverde e alvinegro sobre o sistema desigual.
É, Pessa, mesmo aí vai ter muito trampo para convencer que 51 é Mundial. Um dia, quando quem sabe é Deus, o Dérbi continua: a dureza do prélio o aguarda!
Chico Xavier: “Saudade é uma dor que fere nos dois mundos”.
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