Passou, passou, do mal eu me esquivo e sei que corro perigo… “O apelido de Macaca já é da origem escravocrata de Campinas, a última cidade a abolir a escravidão no Brasil. Todos os resquícios de violência contra a população negra estão lá até hoje. A violência policial, não só em Campinas, está liberada nas periferias, onde não têm câmeras em cada poste.”
A declaração é do Diogo Silva. O medalhista de ouro no Pan-2007 é de São Sebastião (SP) e morou em Campinas dos 12 as 22 anos e, dos 15 aos 22, defendeu o taekwondo da Ponte Preta.
“As maiores ocupações, como o Parque Oziel, onde me criei, são periferia. A violência policial eu conheço, com a polícia apontando arma para mim, desde os 14 anos. Fiquei com esse medo e essa memória da violência policial.”
O que pode ser pior que isso? Ser visitante no Dérbi campineiro. “A torcida da Ponte é periférica, de pretos, operários. A ofensa que transformou no apelido ‘Macaca’ já é um símbolo racista de uma cidade cheia de barões, viscondes, senhores feudais. A polícia lá é direcionada a ser violenta e, nos jogos de futebol, ela é mais violenta ainda. Meu trauma é porque achava que poderia até morrer”, relatou Diogo à coluna.
“Como eu tinha acesso livre na Ponte, como atleta, não tinha problema. Mas, no Guarani, era violência do começo ao fim. Para entrar, a polícia está te batendo, para sair, a polícia está te batendo. Na volta para casa, eu pegava ônibus e vinha a polícia dando tiro de borracha aleatoriamente, por maldade, até porque eu nunca tive envolvido em briga. Nem andava com camisa de torcida para não chamar a atenção, diz.
“Aí eu falei: ‘o futebol para mim não representa esporte’. O futebol não representa mais o prazer de levar a família, de estar com os amigos. Eu perdi o prazer justamente pela violência. E hoje eu não acompanho mais futebol.”
E a nossa cultura, baseada em monocultura esportiva e foco centrista partindo do olhar da classe média, sempre associou as lutas, como o taekwondo, à violência.
Chico Xavier: “A desilusão é a visita da verdade”.
Sou o Vitor Guedes e tenho um nome a zelar. E zelar, claro, vem de ZL. É tudo nosso! É nóis na banca!
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