"O importante é competir."
Distorcida do espírito esportivo original e traduzida para a sepulcral atualidade mercantil, a máxima do Barão de Coubertin faz todo o sentindo.
E a preparação completamente atropelada e atrapalhada dos atletas por causa da pandemia da Covid-19? Dane-se o resultado esportivo e as distorções provocadas pelo problema sanitário mundial! "O importante é competir" e cumprir os contratos previamente assumidos.
E a impossibilidade da convivência harmônica entre atletas de nacionalidades e modalidades diferentes na Vila Olímpica por causa dos protocolos do combate ao coronavírus? "O importante é competir" do jeito que der e preencher a grade mundial de quem pagou pelos direitos de transmissão.
E o congraçamento entre os povos? A troca de culturas entre os torcedores nas arenas? A emoção do atleta em ser ovacionado pela massa? Mesmo sem público nem turistas, "o importante é competir", entregar o produto olímpico e minimizar os inevitáveis prejuízos consequentes do adiamento por um ano e da ausência de plateia.
E os recordes que não serão batidos porque os atletas não puderam completar o ciclo de treinamentos programado para que o auge fosse atingido em 2020? "O importante é competir" e, com mais ou menos recordes, isonomia e justiça esportiva, o pódio será preenchido e a história será contada pelos olhares vencedores.
E a rejeição de parcela significativa do povo japonês com o ritmo lento da vacinação com a prioridade da imunização dada a atletas e, mesmo assim, com os novos casos e cepas consequentes da realização dos Jogos no país? "O importante é competir" e salvar a saúde financeira das multinacionais que investiram dinheiro nos Jogos.
O aristocrata Pierre de Frédy, o Barão de Coubertin, fundador dos Jogos Olímpicos Modernos, era contra a participação das mulheres e do esporte coletivo, mas, até os padrões dele, vencidos pela evolução dos tempos, Tóquio-2020 não faz o menor sentido esportivo nem civilizatório. Já não fazia em 2020 e, como a pandemia não acabou e, ao contrário, vive fase crítica no Japão, continua não fazendo sentido em 2021. Não para quem não sente apenas o bolso.
Jesse Owens: "As batalhas que contam não são as travadas por medalhas de ouro. As lutas dentro de você --as batalhas invisíveis dentro de todos nós--, isso que conta".
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