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Caneladas do Vitão: Lição de Rayssa

Joga y Joga

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São Paulo

A sociedade evolui e, ao pavimentar o caminho do progresso, atropela o preconceito retardatário.

A rota civilizatória não distingue origem. Premia, igualmente, imperatriz maranhense, rainha japonesa, não-binária americana. Na rua e no street, em número e grau, todo mundo igual, independentemente de gênero e nomenclatura. Adeus, amarras. Padrões impostos ridicularizados, expostos. Ruptura!

Menina azul e rosa, poema e prosa, perrengue e troça. Dança, cai, esborracha-se no chão, paira no ar. Vai, vem. Homem também. “No creo en brujas, pero que las hay, las hay”. Há conto de fadinha. Só vara mágica para fazer de corrimão de pista.

Mano na ginástica, solo. Mina no skate. Vice-versa. Jogo de equipe. Cada um no seu cada um, aceitando e vibrando com o cada um do outro porque o mundo, com todos os muitos defeitos, é muito melhor agora do que foi outrora!

charge da coluna Caneladas do Vitão com a skatista brasileira Rayssa, segurando a medalha de prata com um Y escrito nela
Cláudio Oliveira

Novos tempos, boas novas. Rainha Rayssa é da hora, Letícia Bufoni fez escola: mulher, também na pista, pode tudo. Em 1997, quando conheci a minha mulher Lays, não aceitava que fosse como Rayssa. Ninguém podia. Mulher, então, era pior ainda. É o bê-á-bá, fui criado assim. Tradição. Não era normal. Não foi assim que aprendi na escola, não foi a educação que tive em casa dos meus pais. Era um problema meu. E, quando virei professor universitário e me deparava com outras Rayssas na lista de chamada, continuava sendo um problema só meu. O mundo era aquele independentemente da minha concordância ou aceitação.

Quando a conheci, Lays, por escolha de Alderico e Izolete, já era assim. E o nome original dela foi parar, inclusive, na certidão de nascimento do nosso Basílio.

O homem é fruto do seu meio. Fui criado, como toda a minha geração, para escrever Raíssa e Laís. Agora, em 2021, quando vejo Rayssa brilhar não estranho nem me incomoda mais. Foi um processo de aceitação. Enfim, venci o preconceito com o “y”. O nome é respeito. Se nascesse hoje, não mudaria a grafia do meu filho para Basylio. Mas hoje, depois de muito relutar, aceitei. E respeito até a minha cunhada Thays por registrar minhas sobrinhas como Thayna e Thaysa.

Andar de skate? Joga y joga! Mais amores, menos Damares. As Rayssas do amanhã vão rir que um dia existiu esporte de menino e menina!

Ariano Suassuna: “Não troco o meu ‘oxente’ pelo ‘ok’ de ninguém”!

Vitor Guedes
Vitor Guedes

44 anos, é ZL, jornalista formado e pós-graduado pela Universidade Metodista de São Paulo, comentarista esportivo, equilibrado e pai do Basílio.

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