Com preço em queda, batata pode substituir o arroz na mesa

Brasileiro tenta encontrar alternativas diante da alta do produto; veja quais alimentos estão mais em conta

São Paulo

Diante do preço do arroz, que subiu 25% nos últimos 12 meses nos supermercados de São Paulo, o consumidor vem buscando substituições para o produto. Dentre as opções mais em conta e que são indicadas por nutricionistas está a batata.

"O arroz, junto com o feijão, é a base da alimentação do Brasil, como mostra o Guia Alimentar para a População Brasileira do Ministério da Saúde publicado em 2014. Nesse caso, em que precisamos substituir o arroz, é necessário pensar em alimentos que façam parte do mesmo grupo deste cereal", explica a nutricionista Fernanda Lancellotti.

Ela recomenda que o consumidor procure comprar outros cereais, além de tubérculos e raízes, como a batata, por exemplo. "Batata, mandioca, mandioquinha, inhame, cará, batata-doce, pão, massas, fubá, preparações com milho e farinha de mandioca, assim como o arroz, são fontes de carboidrato e são boas opções de substituições pensando no valor nutricional", diz a nutricionista.

Preço do arroz dispara e supermercados limitam compra do produto - Elaine Granconato/Folhapress

"As opções de preparações desses produtos são variadas e, além disso, existem muitas receitas com esses itens, mas o importante na hora da troca é pensar em um alimento do mesmo grupo. Vale ainda a complementação do prato com verduras e legumes da época, que têm valor mais acessível e podem garantir uma refeição saudável e equilibrada", ressalta Fernanda

Com pacotes de 5 quilos do arroz custando mais de R$ 40 e outros itens da cesta básica subindo, o caminho pode ser substituir o produto. Segundo dados do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), que faz medição mensal dos preços de uma cesta com 13 itens, o óleo teve alta de 14,18% em agosto em relação a julho em São Paulo. O arroz subiu 6,31% na mesma comparação.

De acordo com a Abras (Associação Brasileira de Supermercados), o câmbio e o aumento das exportações trouxeram alta de 20% na cesta básica no acumulado de 12 meses no país, o que acabou afetando as refeições dos brasileiros, principalmente as das famílias mais pobres.

Com safra, batata tem queda

O IPS (Índice de Preços dos Supermercados), da Apas (associação paulista do setor), medido pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) em agosto, mostra que a batata é boa para o prato e para o bolso. No mês, ela teve queda 14,07% e, em 12 meses, o valor caiu 5,28%.

Os preços aos produtores mostram que essa é uma tendência do produto. O saco de 50 quilos da batata agata padrão especial no atacado baixou de R$ 73,68 para R$ 69,33 em seis dias em São Paulo, segundo medição do Cepea (Centro de pesquisas econômicas da USP).

A cesta do Dieese aponta ainda que o item vem tendo redução em todas as cidades do país. Com a demanda retraída e o avanço da colheita, que elevou a oferta do tubérculo, os preços caíram 15,52% somente em São Paulo.

Gastos com alimentos pressionam orçamento

Estudo do Dieese mostra que, em agosto, na cidade de São Paulo, o valor da cesta básica com 13 itens essenciais chegou a R$ 539,95. Uma variação mensal de 2,90% em comparação a julho e de 6,60% em comparação com os outros meses de 2020.

Segundo o órgão, são necessárias 112 horas e 40 minutos de trabalho para que um profissional que recebe um salário mínimo (R$ 1.045 neste ano) consiga comprar todos os produtos da cesta na cidade. Em agosto, os itens correspondem a 55,86% do valor desse salário, diz o estudo.

Em contrapartida, atualmente, o auxílio emergencial do governo federal paga R$ 600 aos beneficiários, logo o valor do benefício será alterado para R$ 300.

Dentre outros alimentos indicados como substitutos ao arroz, a mandioca, a farinha de milho, a farinha de trigo, o pão francês e a massa fresca estão com valores mais baixos do que no mês passado, segundo o IPS da Apas.

Já o milho, o macarrão, a farinha de mandioca tiveram alta, mas ainda estão com preços menores do que os do arroz.

Índice de Preços dos Supermercados da Apas de agosto

Produtos

2019

2020

2020

Acumulado

Agosto

Julho

Agosto

Ano 2020

%

%

%

%

Milho

3,31

-1,15

0,94

-0,74

Farinha de milho

1,41

-2,63

-0,43

0,81

Farinha de trigo

-1,08

4,28

-1,42

17,88

Macarrão

-1,04

1,48

1,04

6,73

Pão francês

1,74

0,34

-1,19

4,31

Farinha de mandioca

1

-2,91

1,81

-4,49

Mandioca

7,86

-1,91

-3,25

5,55

Batata

-4

-18,3

-14,07

-5,28

Mandioquinha

-6,26

9,78

5,51

2,49

Massa fresca

2,28

2,36

-0,59

2,96

Farofa

2,17

-4

3,46

1,03

Acesso dos brasileiro à comida piora

Segundo Fabiana Poltronieri, professora e doutora em ciência dos alimentos, esse alto preço do arroz e dos outros produtos da cesta básica acaba aumentando a insegurança alimentar no Brasil, ou seja, diminuindo o acesso dos brasileiros aos alimentos.

"Diante de uma pandemia, da crise econômica e do alto número de desempregados, a alimentação do brasileiro fica em xeque. Temos o hábito de comer arroz e feijão e essa alteração fica complicada para as pessoas, principalmente no campo nutricional, já que a combinação dos dois produtos é bem importante", diz ela.

"Podemos sim trocar os itens e pensar em substituições mais baratas dentro dos grupos alimentares, mas precisamos, principalmente, de políticas públicas que consigam garantir o acesso dos brasileiros aos alimentos, já que somos grandes produtores deles", ressalta Fabiana.

A estimativa para a safra nacional de grãos teve recorde e chegou a 251,7 milhões de toneladas em 2020, ficando 4,2% acima da safra de 2019. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (11) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A soja, o milho e o arroz são os três principais produtos da safra nacional de grãos, que, somados, representam 92,3% da estimativa da produção e respondem por 87,2% da área a ser colhida. Para o arroz, é esperado um acréscimo de 7,2% na produção, totalizando 11 milhões de toneladas do cereal, segundo o instituto.

Procon

O Procon-SP anunciou nesta sexta-feira (11) que em conjunto com a Secretaria de Agricultura e Abastecimento, iniciará, na próxima semana, uma operação especial de monitoramento e combate à precificação excessiva e injustificada de produtos da cesta básica, especialmente do arroz, no estado.

Os agentes de fiscalização contarão com apoio de funcionários da Secretaria de Agricultura e, na prática, o grupo observará custos, oferta, demanda e preços praticados na produção do campo e o valor praticado pelo varejo, de forma que abusos possam ser identificados. O Procon atuará para coibir os excessos que sejam eventualmente flagrados.

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