Supermercados da capital já limitam a venda de arroz e óleo de soja por cliente, aumentando as reclamações dos consumidores, que enfrentam a alta desenfreada dos preços dos dois itens da cesta básica que pressionam a inflação.
Nesta quarta-feira (9), a reportagem do Agora encontrou no Extra da rua Javari, na Mooca (zona leste), cartazes que informavam que “os pacotes de arroz estavam limitados até duas unidades por compra para que todos os clientes pudessem aproveitar da oferta”. Porém, funcionários disseram que objetivo era evitar o desabastecimento do produto na unidade.
Ao menos três prateleiras do arroz de um quilo, da marca São João, por R$ 4,69, estavam vazias. E restavam poucas embalagens de 5 quilos, por R$ 24,90, do mesmo fabricante. A situação era semelhante na gôndola do óleo de soja: a restrição, por cliente, era de até cinco unidades. O grupo Carrefour também está limitando, em algumas de suas lojas, a quantidade de produtos.
A garçonete Fernanda Araujo da Silva, 25 anos, moradora no Cambuci (zona sul), que fazia compras com o marido e o filho de 4 anos, se recusou a comprar arroz pelo preço. “Nem quero ver na prateleira de raiva. Hoje mesmo li na internet sobre o aumento. Tenho uns dez quilos em casa da outra compra que fiz tempos atrás. Terá de durar mais tempo ainda”, diz.
Segundo o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no ano, o arroz acumula alta de 19,25%.
Apesar de não haver desabastecimento nas prateleiras de arroz e de óleo, a unidade do Yamauchi Supermercados da Vila Prudente (zona leste) já fazia um alerta aos consumidores sobre o impacto do aumento do dólar, e informava que, consequentemente, o reajuste de preços, poderá acarretar “falta nos itens da cesta básica”.
Consumidores irritados
“É o fim do mundo um aumento destes no arroz. Qual o motivo? Não estamos na entressafra nem há deflação. Não dá para entender”, afirma, revoltado, o microempresário Durval Trevisan, 77 anos, que reside na Vila Santa Clara, Vila Prudente (zona leste). Ele conta que a filha pagou R$ 5,60 por um quilo de arroz de qualidade inferior ao de costume. “A gente começa a optar por outras marcas por conta do preço”, diz.
O motorista de aplicativo José Tadeu Branco, 66 anos, morador na Vila Prudente (zona leste), caiu de susto com o valor do preço do arroz de cinco quilos da marca Prato Fino: R$ 33,89, no Yamauchi. “Paguei R$ 20 e pouquinho há menos de duas semanas. Isso é um absurdo. Sem falar no preço do óleo de girassol, hoje em torno de R$ 8, antes R$ 5”, diz.
O que diz o setor
A rede de Supermercados Yamauchi, com seis unidades na zona leste, não respondeu até a publicação deste texto.
A Apas (Associação Paulista dos Supermercados) informou, em nota, que como é de conhecimento público, os produtos da cesta básica têm sofrido forte pressão de aumento nos preços repassados pelos fornecedores de alimentos. Itens como arroz, feijão, leite, carne e óleo de soja tiveram aumentos significativos em todo o Brasil, o que motivou a Abras (Associação Brasileira de Supermercados) a solicitar ao governo federal, que retirasse a taxa de importação do arroz para atender o mercado interno, medida que foi aceita.
A Apas entende que “a retirada da taxa não reduzirá os preços para patamares do início do ano, porém pode atenuar o aumento”. A entidade informa que continua recomendando aos supermercados associados que negociem com seus fornecedores e comprem só a quantidade necessária para a reposição.
Segundo a entidade, a indisponibilidade e o consequente encarecimento de alguns produtos ocorrem por conta da valorização do dólar frente ao real, o que motivou a exportação recorde de muitos produtos, a quebra de safra. Também houve crescimento da demanda de produtos básicos no país durante a pandemia.
A entidade ressalta ainda que os supermercados associados são orientados a oferecer ao consumidor produtos de qualidade que possam substituir o arroz. "Porém, tão importante quanto a substituição do produto, é o consumidor entender as reais motivações das altas de preço."
A Abras (Associação Brasileira de Supermercados) não se manifestou.
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