Com incertezas sobre volta às aulas, pais reduzem compras de material escolar

Itens podem custar mais do que o dobro; confira dicas para economizar

São Paulo

As incertezas sobre o retorno das aulas presenciais em 2021 são muitas. Mesmo assim, as escolas já mandaram as tradicionais listas de material escolar.

Para não tornar esse processo uma dor de cabeça para os pais, o Agora ouviu especialistas para dar dicas, principalmente para economizar em meio à pandemia do coronavírus.

O primeiro passo ao receber a lista é verificar o material que você já tem em casa. “Busque o que você tem, como livros, cadernos, lápis, borrachas e canetas, e reaproveite. Por exemplo, aquele caderno que foi até a metade, aproveite a outra metade e depois compre outro. É fazer uso daquilo que você tem e reduzir a quantidade daquele número de produtos que você vai precisar cotar no mercado”, diz Reinaldo Domingos, presidente da Abefin (Associação Brasileira de Educadores Financeiros) e apresentador do canal Dinheiro à Vista no YouTube.

Ainda na leitura da lista, fique atento a dois pontos fundamentais. "Muitas escolas colocam na lista material de uso comum da escola, o que é absolutamente vedado pelo Código de Defesa do Consumidor. Então se os pais notarem que na lista tem coisas como papel higiênico, detergente para limpeza da sala, sabonete, e coisas de uso comum da escola, ele tem que se negar a comprar esse produto e comunicar a diretoria imediatamente”, comenta Marcus Vinicius Pujol, diretor da Escola de Proteção e Defesa do Consumidor do Procon-SP.

“Também sempre verifique a pertinência daquele material escolar que está sendo pedido. O pai pode contestar e pedir explicação da finalidade daquele produto”, completa Pujol.

Após esse primeiro passo, é importante os pais verificarem qual a disponibilidade de grana para investir em novos produtos, o chamado orçamento financeiro.

“O orçamento financeiro é aquele dinheiro que você tem ou não tem disponível. O orçamento que vai determinar as estratégias de compra do material. Se eu tiver uma boa reserva financeira, vai ser mais fácil buscar por preços à vista no mercado. Mas isso não é verdade para 95% das famílias brasileiras, que vão precisar buscar por uma condição a prazo e parcelado”, diz Reinaldo Domingos.

Com a pandemia, aumenta a relevância e o espaço das lojas virtuais. Por isso, aproveite para buscar valores de produtos em diferentes sites e elabore uma lista com os mais baratos.

“A pesquisa de preços é a mais importante. Como o acesso aos estabelecimentos pelas ofertas e preços pela internet é facilitado, o consumidor deve fazer uma grande pesquisa de preços, marcar as melhores referências de cada item e montar uma lista. Depois disso, partir para a compra, seja ela online ou ir direto à loja”, destaca Marco Quintarelli, consultor de varejo.

Em pesquisa realizada em novembro do ano passado, o Procon-SP apontou diferenças de preços de até 173,58% nos itens de material escolar em sites de sete lojas diferentes. Por isso é importante estar atento e realizar uma pesquisa aprofundada.

Caso seja possível se deslocar até uma loja física, normalmente os varejistas realizam descontos em compras coletivas ou até mesmo estão dispostos a negociar com o comprador. Outra dica para essa opção é deixar os filhos em casa.

“Após encontrar os produtos mais baratos no site e montar uma lista, você pode ir à loja e conversar com o vendedor. Tentar barganhar. A facilidade é você conseguir ir em apenas um lugar, parcelar e conseguir um preço melhor de uma vez”, diz Domingos. “Se você levar a criança, ela vai querer o caderno que tem personagem e vai ficar cansada logo. Você vai ter grandes limitações”, completa.

Se optar pela compra online, fique atento ao site acessado, verificando se é confiável e se apresenta segurança. Além disso, veja o custo do frete, que pode encarecer a compra.

Pais planejam reaproveitar produtos

Neste ano, os pais irão notar um aumento em quase todos os produtos. Em parte pelo aumento do preço da celulose, do impacto do dólar e até pelos próprios varejistas, que buscam recuperar o prejuízo do último ano.

“O que a gente nota é um aumento em quase todos os produtos e um aumento significativo em alguns produtos em específico. A pandemia, a suspensão das aulas presenciais e a inflação acabaram pressionando os preços para cima. Além disso, em 2021, o setor vai tentar reaver perdas do ano passado”, diz Marcus Vinicius Pujol.

Renata Azambuja Capello, 39 anos, professora na rede municipal, pretende reutilizar materiais do ano passado para as filhas Gabriela, 14, e Larissa, 9
Renata Azambuja Capello, 39 anos, professora na rede municipal, pretende reutilizar materiais do ano passado para as filhas Gabriela, 14, e Larissa, 9 - Arquivo Pessoal

A solução encontrada por algumas famílias é reaproveitar o material do ano passado. É o caso de Renata Azambuja Capello, 39 anos, professora na rede municipal, e mãe de Gabriela, 14, e Larissa, 9.

“Está bem difícil a lista deste ano. Ainda não fui atrás da papelaria porque como sobrou muita coisa do ano passado provavelmente não vou comprar muita coisa. Vou reutilizar os cadernos e a grande maioria das coisas. Está tudo muito novo e foi utilizado muito pouco. Vou tirar as páginas usadas e deixar o resto para uso”, relata Renata.

Já André Luiz Silveira, 39, professor na rede pública, destaca que a escola das suas filhas Heloísa, 8, e Thainá, 13, reduziu a lista e o gasto será bem menor.

“Apesar de perceber um aumento grande do preço dos produtos, foi mais tranquilo para mim porque a escola delas teve bom senso e reduziu a lista em pelo menos 2/3. Vou comprar só o que for necessário”, comenta André.

André Luiz Silveira, 39 anos, professor na rede pública, pretende comprar pouco material escolar para as filhas Heloísa, 8, e Thainá, 13
André Luiz Silveira, 39 anos, professor na rede pública, pretende comprar pouco material escolar para as filhas Heloísa, 8, e Thainá, 13 - Arquivo Pessoal

O presidente da Sieeesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo), Benjamin Ribeiro da Silva, destacou que as escolas devem pensar nos pais e não produzir a lista como rotineiramente.

“A escola não vende material escolar, mas sim serviço educacional. Por isso orientamos que elas exigissem o quanto menos, afinal todo mundo está perdendo nessa pandemia”, diz Silva.

Lista de material escolar | 2021

​Dicas para suas compras:

Antes de definir a lista

  • Verifique quais produtos da lista você já tem
  • Aproveite para limpar e reformar os produtos em casa, e os reutilize
  • Promova a troca de livros didáticos entre alunos

Grana no bolso

  • Verifique o seu orçamento financeiro, ou seja, aquele dinheiro que você tem ou não tem disponível
  • Se tiver uma boa reserva financeira, vai ser mais fácil buscar descontos para compras à vista
  • Caso não tenha condições de comprar à vista, pesquise por uma condição a prazo

Verifique preços online

  • Aproveite a internet para procurar preços do mesmo produto em diferentes sites. Fique atento aos valores de frete
  • Monte uma lista com os menores valores e imprima, anote no seu celular ou escreva em um papel

Às compras

  • O ideal é não fazer a compra com a criança
  • Avalie se precisa ir presencialmente ou se é possível comprar tudo pela internet, por conta do risco de contágio do coronavírus
  • Caso tenha mais de um filho de idades diferentes, busque produtos mais básicos, já que o material pode ser passado adiante
  • Fuja de itens personagens, que costumam ser mais caros. Uma saída é escolher, com as crianças, apenas alguns itens que serão de personagens

Tempo

  • Todo o processo demanda paciência, calma e muita atenção
  • Não tenha pressa para comprar o material e se planeje com antecedência

Barganha

  • Se possível, faça compras coletivas, as lojas costumam oferecer grandes descontos e a compra pode sair mais barata
  • Pesquise na internet as opções de compra de produtos em maior quantidade, para mais de uma família
  • Aproveite a lista que montou com os valores em sites para negociar com as lojas
  • Caso seu orçamento aceite, pague à vista e negocie um desconto por isso

Compras online

  • Fique atento ao site acessado, verificando se é confiável e se apresenta segurança
  • Na barra onde se escreve o endereço do site, é preciso aparecer a imagem de um cadeado. Sites seguros começam com https, e não só http
  • Verifique o custo do frete, que pode encarecer a compra

Importante!

  • O seu orçamento que dita as estratégias de compra da lista de material escolar
  • A pesquisa de preço é essencial
  • Qualquer dúvida que tiver em relação à lista e à pertinência dos produtos solicitados, fale com a diretoria da escola
  • É vedado pelo Código de Defesa do Consumidor a escola solicitar material de uso comum ou coletivo, como papel higiênico, detergente, sabonete etc.

Variação de preço do material

  • Pesquisa do Procon-SP feita entre 17 e 19 de novembro encontrou variações de até 173,58% nos itens de material escolar
  • Foram coletados preços de 80 itens em sites de sete lojas diferentes
  • A maior diferença em percentual foi de um apontador de lápis, que variou de R$ 1,06 a R$ 2,90

Outros exemplos

Régua acrílica de 30 cm, Trident: diferença de 148,61%

  • Maior preço: R$ 17,90
  • Menor preço: R$ 7,20
  • Preço médio: R$ 13,29

Lapiseira de 0.7mm, Top CIS : diferença de 119,73%

  • Maior preço: R$ 16,48
  • Menor preço: R$ 7,50
  • Preço médio: R$ 11,24

Borracha branca, Dust Free, Faber Castell: diferença de 137,35%

  • Maior preço: R$ 6,10
  • Menor preço: R$ 2,57
  • Preço médio: R$ 3,56

Caderno universitário espiral, capa dura, 10 matérias, 200 folhas, Tilibra: diferença de 81,80%

  • Maior preço: R$ 19,58
  • Menor preço: R$ 10,77
  • Preço médio: R$ 16,55

​*Fontes: Marco Quintarelli, consultor de varejo, Reinaldo Domingos, presidente da Abefin (Associação Brasileira de Educadores Financeiros), Marcus Vinicius Pujol, diretor da Escola de Proteção e Defesa do Consumidor, e Procon-SP

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