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Consumidor corta cafezinho e pão na chapa por causa da inflação

Com alta nas despesas, paulistanos reduzem café da manhã e lanche nas padarias

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Yara Ferraz
São Paulo

Com a alta da inflação —especialmente dos alimentos—, além das despesas com aumentos de luz e combustível, qualquer forma de economizar é válida. Até o tradicional pingado com pão na chapa na padaria, um hábito do paulistano, já entrou na lista de cortes do consumidor.

Fã do café coado com leite e pão na chapa, a artesã Leticia Stripeikis, 56 anos, da Vila Carrão (zona leste), vai na padaria duas vezes na semana para tomar café. "Mas sei que, atualmente, é um luxo poder fazer isso", diz ela, que repara na alta de preços. "Antes da pandemia, eu ia pelo menos quatro vezes por semana, inclusive no período da tarde para lanchar. Agora vou só para o café da manhã."

A artesã Leticia Stripeikis, em padaria no Tatuapé (zona leste de SP), toma um gole de café em uma xícara. Sobre a mesa também há um prato com pão na chapa, álcool em gel e condimentos.
A artesã Leticia Stripeikis, em padaria no Tatuapé (zona leste de SP); ela é fã do pão na chapa com pingado, mas reclamam da alta de preços - Rubens Cavallari/Folhapress

O gerente de loja Edimilson Pereira, 43, da Barra Funda (zona oeste), percebeu aumento de cerca de 20% nos gastos que tem com comida fora de casa. "Como eu recebo cesta básica no trabalho, passei a trazer marmita duas vezes por semana, pelo menos. Antes, eu comia todos os dias fora, mas essa é uma forma de economizar", afirma ele.

Mesma situação da farmacêutica Roberta Scholz, 38, da Mooca (zona leste). "Estou procurando fazer minha comida em casa e levar. Tive que reduzir por causa do preço, já que, na ponta do lápis, estava gastando mais de R$ 1.000 por mês com o cafezinho e um almoço simples todos os dias. Faz toda a diferença no orçamento."

O gerente Edimilson Pereira almoça em padaria
O gerente Edimilson Pereira almoça em padaria; ele passou a levar marmita ao menos duas vezes por semana para economizar - Rubens Cavallari/Folhapress

"Praticamente, ia todos os dias para tomar um café, hoje são três vezes na semana. Há pouco tempo, o pingado e o pão na chapa custavam cerca de R$ 5, e já está em R$ 10", conta o empresário Marcelo Asensio, 48, do Tatuapé (zona leste).

Segundo o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a prévia da inflação em outubro foi de 1,20%, a maior para o mês desde 1995.

No caso da alta do café e da farinha de trigo, matéria-prima do pão, o dólar e o clima pesaram. "As commodities estão valorizadas no mercado internacional e, no café, para agravar, tivemos problemas na produção desde o ano passado. A questão hídrica afetou Paraná e Minas Gerais, que são os principais produtores de café", explica o pesquisador de café do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da USP.

"Os estoques mundiais de trigo estão com sinal de redução e o Brasil é grande importador de trigo", diz o pesquisador responsável pelas áreas de arroz e de trigo do Cepea, Lucilio Alves.

Padarias não repassam todo o aumento

O IPC da Fipe mostra que os panificados tiveram alta de 9% de janeiro a setembro deste ano. "A alimentação geral subiu 7,84%, e a fora do domicílio, 6,67%, sendo o primeiro item que é cortado. Pelos números, o setor ainda não repassa toda a alta", disse o coordenador do índice, Guilherme Moreira.

Presidente do Sampapão, Rui Gonçalves diz que a maioria das padarias (são 6.000 na cidade) segura as altas e que há diminuição dos clientes, pela crise ou pela pandemia. "Mas este é um hábito do paulistano, tanto que a padaria é o único comércio que ele chama de seu: minha padaria."

Peso no bolso | Inflação dispara

A alta da inflação está pesando no bolso de quem precisa comer fora de casa
Com isso, o tradicional café com o pão na chapa tem sido deixado de lado por muitos brasileiros

Confira a alta dos itens do café da manhã neste ano em SP, segundo dados da Fipe

Produto De jan. a set. de 2021 (em %) Em 12 meses (em %)
Panificados 9 12,09
Pão francês 8,81 12,04
Pão de queijo 10,68 14,95
Bolo de forma 7,82 6,93
Pão de forma 9,44 11,62
Pão sovado 15,63 17,64
Torrada 8,72 12,63
Pão doce 7,32 6,51
Outros pães 9,55 15,58
Café em pó 26,93 31,40
Achocolatado em pó 2,91 4,86
Leite longa vida 7,66 3,10

No país
A prévia da inflação de outubro, medida pelo IPCA, do IBGE, é de 1,20%, a maior para o mês desde 1995

Veja o que mais subiu no mês:

Produto Variação (em %)
Alimentação fora do domicílio 0,97
Refeição 0,52
Lanche 1,71
Refrigerante e água mineral 1,51
Cafezinho 3,12
Doces 1,62

Corte de gastos

  • Pesquisa realizada em todo o país com 1.102 homens e mulheres a partir de 18 anos, das classes A, B e C mostra que:57% devem cortar a comida em bares e restaurantes para diminuir as despesas
  • Houve empate com viagens que serão cortadas para economizar
  • 60% dos que devem almoçar quando estiverem no local de trabalho, vão levar a comida de casa
  • Somente 12% devem sair para sentar em restaurantes ou padarias mais próximas

Fontes: Fipe, IBGE e Galunion

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