Volta do Papai Noel aos shoppings é oportunidade de renda extra

Profissional teve que se adaptar na pandemia e sua presença atrai clientela aos estabelecimentos

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São Paulo

"Oi amiguinho, que alegria ter você aqui", diz o Papai Noel Igor Castanheira, 40 anos, ao receber as crianças que vão até ele fazer pedidos para o Natal. Este é o primeiro ano que ele exerce a atividade, já que os trabalhos como ator --sua profissão-- estão parados em razão da pandemia.

Papai Noel Igor Castanheira, 40, se preparando para atender as crianças em um shopping de Pirituba (zona norte) - Rubens Cavallari/Folhapress

"Acabei de me formar, o mercado de arte foi bem afetado [pela pandemia], então, surgiu a oportunidade de uma experiência nova, que está sendo gratificante", conta o Noel, que está usando a formação como ator e também cursos extras para cativar as crianças.

A oportunidade surgiu porque o Cantareira Norte Shopping, em Pirituba (zona norte), estava procurando um profissional que não pertença ao grupo de risco da Covid-19. Assim como os demais shoppings da Grande SP, foi necessário uma série de adaptações para garantir a segurança de todos.

Segundo o Sindicato dos Comerciários de São Paulo, que anualmente oferece curso de qualificação para aspirantes a Papai Noel, a renda do profissional nesta época do ano varia de acordo com o local de trabalho (shoppings pagam mais do que o comércio de rua, por exemplo), a jornada e os dias de atividade. No geral, a remuneração é de pelo menos R$ 2.000.

"[O Papai Noel] É uma figura fundamental do Natal. A partir da qualificação e do perfil da pessoa, é uma oportunidade, mesmo que temporária, para trazer uma perspectiva financeira neste momento de fome e desemprego", afirma Ricardo Patah, presidente do sindicato.

Embora não divulgue quanto ganha, o Papai Noel Apolo Constant, 64, conta com os 41 dias ininterruptos de trabalho entre meados de novembro e 24 de dezembro para garantir a renda do ano seguinte. Ele tem uma pequena distribuidora de doces, portanto, o dinheiro mensal não é fixo. A grana que vai receber em 2021 como Noel já tem destino certo: uma cirurgia de catarata.

Ele atua profissionalmente em shoppings há nove anos. No ano passado, Constant conversou com as crianças por meio da vitrine de uma loja decorada especialmente para a ocasião. A comunicação foi por um microfone. Hoje, o atendimento é feito com distanciamento, cada uma na sua poltrona e com máscara.

"A garotada não perde a animação nunca. No ano passado, era a mesma animação, mas, neste ano, ficou mais bacana, mesmo mantendo o distanciamento. Fora que tem muito mais gente no shopping", conta Constant, que está recebendo os pedidos da criançada no Mauá Plaza, no ABC.

A Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shopping) aponta que a decoração natalina e a presença do bom velhinho ajudam a atrair o consumidor, principalmente após um ano onde a demanda por compras está reprimida e as crianças que não puderam visitar o personagem.

"O Papai Noel sempre foi uma figura que traz um retorno muito grande no trânsito do shopping, que aumenta muito, e os pais, que trazem as crianças, acabam fazendo uma ou outra compra", afirma Luís Augusto Ildefonso, diretor institucional da Alshop.

Tradição

A grana extra é sempre bem-vinda, diz o Papai Noel Sérgio Henriques Antão, 66, do SP Market, no bairro Jurubatuba (zona sul). No entanto, o amor pela tradição é a verdadeira motivação para ele estar há 32 anos no ofício. "Não é tanto pelo dinheiro, é porque eu gosto. O dinheiro ajuda muito, mas o que manda é o carinho que temos pelo ser humano", diz.

Se o prazer em lidar com pessoas motiva de um lado, o encanto e a esperança pelo Papai Noel criam tradições nas famílias. Moradora da Lapa (zona oeste), Fabiana Louvane, 41, leva o filho Caetano, 5, todos os anos para visitar o bom velhinho. Depois de interromper a tradição em 2020 por causa da pandemia, neste ano, a filha caçula, Marina, 1, também fez parte da tradicional foto com o personagem.

Papai Noel Igor Castanheira e a visitante Fabiana Louvane, 41, com os filhos Caetano, 5, e Marina, 1 - Rubens Cavallari/Folhapress

"É um evento", relata Fabiana, cujo primogênito é autista. "Eles [pessoas no espectro autista] gostam de rotina, de previsibilidade. Então, já fui preparando, avisando que ele não iria para escola e para terapia, mas que iria ver o Papai Noel. Ele gosta muito de datas comemorativas e é por elas que o Caetano se organiza no tempo", diz a mãe.

Em 2020, o avô das crianças se vestiu de Papai Noel na hora de entregar os presentes no Natal. Fabiana não tem certeza se o filho reconheceu a pessoa por trás do personagem, mas o que vale é o clima criado.

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