O eclético Bom Retiro, na região central de São Paulo, foi apontado como o bairro mais descolado do Brasil. No mundo, ele ocupa o 25º lugar de um ranking de 50 eleitos por 27 mil moradores de diversos países.
O mapeamento foi feito pela revista cultural britânica Time Out, que fez a lista de bairros "cool" [legal, em inglês]. Arroios, ponto clássico e de culinária marcante de Lisboa, lidera a lista dos mais legais.
No caso do bairro paulistano, a publicação cita prédios culturais históricos como a estação da Luz e a Pinacoteca do Estado, além da Sala São Paulo, que oferece o melhor espaço acústico para concertos do país.
Mas o velho e conhecido Bom Retiro dos paulistanos é também de várias comunidades de imigrantes que desde o século 19 unem judeus, gregos, italianos e mais recentemente bolivianos, colombianos e coreanos.
"De tudo você tem um pouco aqui", afirma Marcelo Ferreira, 41 anos, que há 15 trabalha como vigilante no tradicional Colégio de Santa Inês, que tem sua imponente edificação de 1907 tombada como patrimônio histórico e cultural no número 362 da rua Três Rios.
Além de trabalhar, o vigilante mora no bairro agora com fama internacional. "Eu vi na mídia digital do elevador do meu prédio, mas não sabia o que era cool. Fui no Google e achei: 'legal'."
Mas o legal da tradução literal também pode ser substituído, na gíria do bairro, por descolado.
A diversidade do Bom Retiro é como o público que costuma se reunir no Soul Coffee, espaço adquirido de um coreano por Fernanda Ferreira, 41, que reside no Jaraguá (zona norte de SP).
"Virou ponto de encontro dos estilistas das lojas do entorno. Também para reuniões de trabalho dos coreanos e gregos. Eles conversam na língua deles", conta.
Moradora no bairro há oito anos, Marlene Nogueira Schinaider, 47, diz que o Bom Retiro tem de tudo. "Transporte, diversão, cultura e ótimos cafés", aponta.
Referências e cultura
O Bom Retiro vai muito além da rua José Paulino, tradicional ponto de moda popular. Quem vai ao bairro encontra vários tipos de cozinha. E muitos desses restaurantes estão sendo comandados pela segunda e até terceira gerações.
É o caso do Acrópoles, restaurante grego com 60 anos de comida temperada e regada a azeite de oliva no Bom Retiro.
Há três anos, as irmãs Aglaia Claudia Petrakis, 46, e Niqui Zoi Petrakis, 33, comandam a casa, desde que o pai Thrassyvoulos Georgios Petrakis, o seu Trasso, morreu aos 97 anos. "Ele era a alma desse lugar", diz Claudia.
Chef de cozinha Nir Baruch, 49, nascido em Israel, é neto de Lina Levi, criadora da Casa Búlgara e que morreu aos 91 anos em dezembro de 2018. "Era a minha inspiração", diz ele, que comanda as panelas do restaurante Delishop, de cozinha judaica.
A cultura pulsa no Bom Retiro, principalmente dentro da Oficina Cultural Oswald de Andrade, uma das poucas remanescentes do estado de São Paulo.
Lá, tem atividades gratuitas de teatro, dança, música e fotografia, entre outros, de segunda-feira a sábado.
Coordenador-geral da Oficina Cultural, Valdir Rivaben, 53 anos, ressalta a programação variada. "Temos uma companhia de dança e um cine clube aqui", diz.
Um dos motivos para o colombiano Rubén Darío Manrique, 51, ter montado seu café dentro do espaço cultural desde 2012.
Por ali, já passaram nomes como o do cantor Arnaldo Antunes, da jornalista Marília Gabriela e do ator Ailton Graça. "O café está inserido dentro de um espaço aberto comunitário que fomenta arte", defende a publicitária brasileira Patricia Russo, 47 anos, casada com Manrique.
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