Descrição de chapéu Centro

Comerciantes acusam menores de fazerem ataques na avenida Paulista

Grupo de crianças e adolescentes estaria furtando e apedrejando estabelecimentos comerciais

São Paulo

Comerciantes da avenida Paulista, na região central de São Paulo, afirmam serem alvos de ataques de um grupo de crianças e adolescentes que, além de furto, é acusado de jogar pedras e azulejos contra os estabelecimentos.

A reportagem apurou que alguns destes menores vivem em situação de rua e passam as noites em acampamentos improvisados nas imediações da avenida.

Segundo um empresário, que pediu anonimato, crianças e adolescentes costumam abordar diariamente clientes de sua loja. Há ocasiões, acrescentou, que grupos de até seis meninos e meninas entram em seu estabelecimento, "coagindo" os frequentadores do local. 

"Quando começam a importunar os clientes, tentamos explicar que estão incomodando e pedimos para eles saírem da loja. Aí começa o problema", afirmou. 

Pedaços de azulejo encontrados com adolescente em comércio da avenida Paulista (região central); empresários e comerciantes locais reclamam de grupo por importunação - Rubens Cavallari/Folhapress

O empresário disse ainda que quando os jovens são retirados do comércio por funcionários eles pegam pedras, azulejos e o que estiver à mão, para arremessar conta a vitrine do estabelecimento. 

Funcionários disseram que acabaram fazendo um "escudo humano" para impedir que a vitrine e clientes sejam atingidos.

Um vídeo gravado por meio de um aparelho celular, no último dia 11, mostra o momento em que um funcionário retira um azulejo da mão de uma criança, no momento em que ela havia acabado de ser retirada de dentro do comércio. É possível ouvir o empregado argumentar com o garoto, que ofende e ameaça o funcionário. 

Outra comerciante, que também preferiu não se identificar, disse que esses menores furtam objetos de seu comércio e roubam frequentadores de uma lanchonete próxima.

Patinetes elétricas são usadas por grupo para cometer infrações

O grupo de crianças e adolescentes também costuma usar as patinetes da empresa Grow para cometer as infrações. Sem destravar os veículos, acabam danificando suas estruturas. 

Segundo Marcelo Loureiro, fundador e vice-presidente da Grow, a empresa identificou o problema e, por conta disso, reforçou a ação de colaboradores que atuam nas ruas recolhendo e disponibilizando as patinetes pela avenida Paulista. 

Garoto em patinete na avenida Paulista; grupo tem utilizado equipamento para furtar - Rubens Cavallari/Folhapress

"Temos uma parceria com um instituto para conseguir a recolocação de egressos do sistema prisional no mercado de trabalho", disse o empresário. A iniciativa, acrescentou Loureiro, faz com que os ex-presidiários dialoguem com os jovens carentes, na tentativa de conscientizar os menores. 

"Temos o trabalho de conscientização na rua e mantemos diálogo com a prefeitura e o governo do estado para ajudar esse pessoal de rua. Entendemos que isso não é um problema só de segurança, mas também uma questão social", afirmou.

Situação é reflexo da crise, diz juiz

Para Iberê Dias, juiz da Vara da Infância e da Juventude de São Paulo, a concentração de crianças e adolescentes em situação de rua e de vulnerabilidade na avenida mais famosa da capital paulista é uma "decorrência natural e direta" da atual situação grave de desigualdade social vivida no Brasil. 

"A questão de assistência social é historicamente negligenciada. Esta área não dá voto. Invariavelmente, os planos do Executivo são feitos com um horizonte de quatro anos. Não há estratégia de longo prazo, dos governos, nesta área social", afirmou Dias. 

Ariel de Castro, conselheiro do Condepe (Conselho Estadual de Direitos Humanos), propõe a necessidade de uma junção efetiva entre órgãos públicos para que pais e responsáveis de menores em situação de vulnerabilidade sejam procurados e ouvidos. 

"É importante verificar qual o apoio necessário para essas famílias, como a inclusão em programas sociais, de apoio e, se necessário, para restabelecer os vínculos entre os jovens e a família", afirmou Castro. 

O conselheiro tutelar Danilo Martinelle, que atua na região da Bela Vista (centro), explicou que o Conselho Tutelar age quando é acionado por órgãos que abordam crianças e adolescentes, que estejam em situação de vulnerabilidade nas ruas. 

"Somos a garantia de que as políticas públicas [de apoio aos menores] sejam realizadas", afirmou o conselheiro. 

Resposta

A Polícia Militar afirmou que vai reorientar o policiamento ostensivo e preventivo na região da avenida Paulista. "A instituição acompanha a variação de ocorrências para definir os itinerários das radiopatrulhas e os programas de policiamento complementares para a área", disse. 

A corporação acrescentou que neste ano apreendeu quatro menores em flagrante, acusados por furtos. 
Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), gestão João Doria (PSDB), entre janeiro e outubro deste ano, 92 menores foram apreendidos pela polícia acusados de praticar crimes diversos na região.

A Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, gestão Bruno Covas (PSDB), afirmou que, entre os meses de outubro e novembro de 2019, foram realizadas 140 abordagens na região da praça Oswaldo Cruz, local em que algumas crianças e adolescentes vivem em situação de rua.

O órgão também disse que todos os casos envolvendo menores são comunicados ao Conselho Tutelar da Bela Vista. A quantidade de encaminhamentos, no entanto, não foi informada. 

Segundo a pasta, a maioria das pessoas em situação de rua nesta área não é da região central. Algumas delas têm residência fixa "em localidades mais distantes do centro". "As equipes mantêm a vigilância socioassistencial no território de maneira sistemática visando efetivar atendimentos sociais, orientações e encaminhamentos, bem como o fortalecimento de vínculo", diz a nota. 

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