Descrição de chapéu Zona Norte Coronavírus

Líder em mortes, Brasilândia tem rua cheia e comércio aberto

No distrito da zona norte da capital paulista, aglomeração ocorre principalmente na área mais carente

São Paulo

Apesar de o distrito liderar o número de mortes pelo novo coronavírus ou por suspeita da doença na capital paulista, moradores da Brasilândia, continuam circulando pelas ruas, principalmente na comunidade carente da região, como contatou o Agora entre o fim da manhã e início da tarde desta sexta-feira (17).

A Brasilândia teve 54 mortes somadas pela prefeitura, gestão Bruno Covas (PSDB) até esta sexta, 21 a mais que o último balanço, de segunda-feira (13).

Moradores em rua da Brasilândia (zona norte), distrito com maior número de mortes por Covid-19 ou por suspeita da doença na capital paulista - Alfredo Henrique/Folhapress

Na parte de favela do distrito, a reportagem viu moradores nas ruas e comércios não essenciais abertos, como barbearias e bares, gerando aglomeração nos locais, desrespeitando a quarentena.

Moradores do bairro afirmaram que, aos fins de semana, são organizadas festas na comunidade. Fora dela, em ruas comerciais da região, a reportagem também flagrou bares e cabeleireiros atendendo a clientes, também gerando aglomeração.

O operador de supermercado Alex Ferreira Silva, 30 anos, aguardava um ônibus para ir ao trabalho, por volta das 12h30, na saída da comunidade, e afirmou estar assustado com a pandemia de Covid-19 e pelo fato de o bairro liderar as mortes pelo vírus na cidade.

“Eu só estou na rua pois preciso ir trabalhar. Uso álcool gel sempre que pego e uso o transporte público e tomo todas as medidas de pevenção quando volto para casa”, afirmou.

A passadeira Maria Eurides, 55, também disse manter a higiene e evita circular pela rua, onde estava nesta sexta para, segundo ela, ir ao banco. “As pessoas da comunidade não estão respeitando o isolamento. Elas duvidam que podem ser infectadas”, disse ela, que assim como Silva não usava máscara de proteção.

Já uma atendente de telemarketing, 22 anos, que pediu para não ter o nome publicado, afirmou não se importar com medidas protetivas contra o coronavírus.

Ela soube que a Brasilândia lidera as mortes pelo Covid-19 na capital, após ser informada pela reportagem. “Sinceramente, só uso o álcool gel na empresa, pois somos obrigados. Fora de lá, não me importo”, admitiu.

Dentro da comunidade a reportagem constatou, em seis quarteirões, que cerca de cem pessoas caminhavam em grupos ou se aglomeravam em rodas em comércios ou conversando em frente a imóveis.

Famílias inteiras infectadas

A professora de educação infantil Michele Tamara Fernandes Teixeira, 38 anos, testou positivo para o Covid-19 e afirmou ter infectado sua filha de 9 anos e o filho de 12.

Ela teve os primeiros sintomas, como dor de cabeça, diarreia, febre de 39 graus em 26 de março. Michele desconfia que foi infectada no Hospital Geral da Vila Penteado, onde permaneceu por dez dias como acompanhante da sogra, internada por causa de uma infecção urinária.

Como tem convênio particular, a professora foi até um unidade de saúde em Santana (zona norte), onde afirma que foi diagnosticada com gripe e liberada.

No dia 30, ela precisou ir novamente ao hospital, mas na Vila Mariana (zona sul), de onde também foi liberada, apesar de estar com suspeita de coronavírus.

No último dia 4, Michele acordou sem forças, inclusive para erguer a cabeça. Ela por fim foi internada, por três dias, no hospital metropolitano da Lapa (zona oeste). No dia 7, a professora testou positivo para o Covid-19.

Dois dias depois, seu filho de 12 anos foi internado também na Lapa, onde ficou permaneceu por três dias. A filha de 9 anos foi levada ao mesmo hospital, dia 10, mas foi liberada. Ambos também testaram positivo para coronavírus.

Michele já está em casa e, segundo afirmou, passa bem assim como seus dois filhos infectados. Moram com ela outra filha, 14, o sogro, 71, e o marido 38, que não manifestaram sintomas da doença, mas estão de quarentena.

Em Sapopemba, (zona lestes), onde 51 pessoas já morreram, o microempreendedor Anderson Maciel Fonseca, 40, diz conversar diariamente pelo celular com a mulher, uma técnica de imobilização hospitalar de 32 anos, que está internada no Hospital Emilio Ribas com Covid-19.

A técnica começou a manifestar sintomas do novo coronavírus após retornar, pela manhã do dia 6, de um de seus plantões noturnos em um hospital da zona leste Segundo Fonseca, ela foi duas vezes para unidades de saúde, de onde foi liberada. A mulher só foi internada no último dia 8 e, três dias depois, e transferida para o Emílio Ribas.

Fonseca afirmou que o filho do casal, 5 anos, seu enteado, 15 e a enteada, 18, manifestaram sintomas do coronavírus. Porém, eles estão em casa, sem necessitar de tratamento.

O microempreendedor, no entanto afirmou sentir taquicardia e falta de ar. “Estamos em completo isolamento. Se eu sentir alguma piora, vou procurar atendimento médico”< afirmou.

Migração

A Secretaria Municipal da Saúde admitiu que o vírus migrou para a periferia. Em Pinheiros (zona oeste) são 13 mortes atualmente. Até 31 de março eram 284 doentes na Uvis (Unidade de Vigilância em Saúde) Lapa/Pinheiros, área que inclui bairros ricos como Itaim Bibi, hoje com 18 mortes, 32% dos óbitos da Brasilândia.

Resposta

A Prefeitura de São Paulo gestão Bruno Covas (PSDB), afirmou usar carros de som com mensagens de conscientização sobre a pandemia nos distritos das subprefeituras, além de divulgar informações sobre a pandemia em suas redes sociais.

"A administração também realiza ações de conscientização junto ao comércio da região [de Brasilândia], alertando sobre a importância do isolamento", diz treco de nota.

Até o momento, ainda de acordo com o governo municipal, 143 estabelecimentos não essenciais foram interditados na capital paulista por não acatar a decreto de fechamento, dos quais dois na região da Brasilândia.

mapa das mortes por covid-19 na cidade de são paulo
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