Os bairros da zona sul chamam a atenção por terem uma incidência de mortes por coronavírus muito inferior ao do restante da capital paulista. Levantamento feito pela reportagem mostra que foram 15,9 mortes (suspeitas ou confirmadas) por 100 mil habitantes, quase a metade do que o registrado na região central da cidade (28,3), por exemplo, segundo dados divulgados na segunda-feira (27) pela própria prefeitura.
A taxa de mortes por 100 mil habitantes serve para evitar distorções e análises equivocadas, como quando se compara distritos com quantidades de moradores muito diferentes entre si. Por exemplo, a Brasilândia (zona norte) está no topo do número de mortos da capital paulista, mas tem quatro vezes a população da Água Rasa (zona leste), onde há maior concentração de mortes (suspeitas ou confirmadas) pela Covid-19 na capital. Os dados levam em conta o local de moradia dos mortos, não local de morte.
Membro da Sociedade Brasileira de Infectologia, Sérgio Cimerman afirma que, de forma geral, as zonas sul e oeste concentram os hospitais privados de melhor qualidade, o que favoreceria a recuperação de pessoas infectadas pelo coronavírus. "Você tem também maior número de pessoas com melhor poder aquisitivo, que conseguem fazer isolamento social, ficando em casa."
Chefe da coordenação de epidemiologia e informação da Secretaria Municipal da Saúde, Roberto Tolosa Júnior afirma que os dados dos quais dispõe atualmente não permitem análise detalhada, mas apenas a discussão de hipóteses. "Tem questões socioeconômicas, melhor condição para se fazer acompanhamento. Há regiões em que as pessoas, por mais agrupadas, não conseguem fazer um grande distanciamento social", diz.
A zona sul da capital paulista tem uma densidade demográfica menor do que o restante da cidade. Em média, são 5.292 habitantes por quilômetro quadrado, ante 15.710 da região central, por exemplo. Vale ressaltar, porém, que conta com bairros como Parelheiros e Marsilac, que são pouco populosos e têm quase a totalidade de seu território em área rural.
Extremo leste
Entre os distritos que tiveram maior aumento no número absoluto de mortes em uma semana, quatro estão no extremo da zona leste (Jardim Helena, Itaim Paulista, Vila Curuçá e Vila Jacuí). Os três primeiros são vizinhos, separados do último apenas por São Miguel. Em comum, todos são bairros pobres, com grande concentração de pessoas por quilômetro quadrado.
Os quatro distritos têm média de 17.399 habitantes por quilômetro quadrado, ante 12.768 da zona leste como um todo. "De modo geral, é importante ter políticas diferenciadas em áreas mais socialmente vulneráveis", diz o professor do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP, Eliseu Alves Waldman.
Atraso
O infectologista Helio Bacha afirma que o número de mortos é um ponto de partida para compreender como a doença avança, mas que os números, em geral, estão muito defasados. "As informações chegam muito atrasadas e não temos uma avaliação do número de infectados, que seria algo que ajudaria a entender o que está acontecendo", diz.
Segundo Bacha, o Brasil deveria seguir o exemplo de onde houve mais sucesso no controle da doença. "Os países que se deram melhor foram aqueles com maior estrutura hospitalar e que testaram mais pessoas", diz.
Veja os números
Região | Habitantes | Mortes | Por 100 mil |
Centro | 512.138 | 145 | 28,3 |
Norte | 2.311.597 | 612 | 26,5 |
Leste | 4.091.016 | 1.080 | 26,4 |
Oeste | 1.076.683 | 210 | 19,5 |
Sul | 3.878.226 | 618 | 15,9 |
Distritos | Na semana passada | Nesta semana | % |
Jardim Helena | 15 | 33 | 120 |
Itaim Paulista | 21 | 37 | 76 |
Vila Jacuí | 19 | 33 | 74 |
Vila Curuçá | 19 | 31 | 63 |
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