Descrição de chapéu Coronavírus

Capital paulista já ocupa até 89% dos leitos de UTI da rede municipal

Segundo a gestão Covas, na ultima quarta (13), 9 em 10 vagas estavam ocupadas, recorde na pandemia

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São Paulo

O coronavírus já provoca a ocupação de até 9 em cada 10 leitos de UTIs (unidades de terapia intensiva) dos hospitais públicos municipais da capital paulista e deixa o serviço de saúde da cidade à beira do colapso.

Segundo a gestão Bruno Covas (PSDB), na quarta-feira (13), São Paulo tinha, 89% das vagas de terapia intensiva ocupadas na rede municipal. Essa foi a maior taxa alcançada durante a pandemia do novo coronavírus.

Balanço divulgado na noite desta quinta (14) apontou que a taxa de ocupação havia caído para 84%. Nos últimos dias há oscilação próxima da capacidade máxima de internação.

Em apenas duas semanas, até o recorde de quarta, a taxa de ocupação dos leitos de UTI na rede municipal aumentou 23,6%.

Data Pacientes internados Com respiradores Ocupação de UTI
01/05/20 1.272 261 72%
02/05/20 1.348 272 79%
03/05/20 1.062 262 76%
04/05/20 1.336 281 82%
05/05/20 1.381 301 87%
06/05/20 1.493 308 82%
07/05/20 1.663 328 83%
08/05/20 1.673 350 85%
09/05/20 1.621 349 86%
10/05/20 1.652 313 87%
11/05/20 1.676 374 82%
12/05/20 1.666 334 83%
13/05/20 1.697 358 89%
14/05/20 1.757 358 84%

Presidente do Simesp (Sindicato dos Médicos de São Paulo), Eder Gatti afirma que a falta de leitos de UTI é um problema crônico, anterior à pandemia, e que se agrava. Ele diz que, sem vagas de terapia intensiva, ambulâncias vão ficar presas em hospitais com pacientes recebendo ventilação mecânica, o que poderá impedir o socorro na casa das pessoas.

Hospital Dr. Ignácio Proença de Gouvêa, na Mooca (zona leste); rede municipal atingiu 89% de ocupação de leitos de UTI na última quarta - Ronny Santos/ Folhapress

"A gente corre o risco de ter problemas parecidos com o do Amazonas e ou do Equador, com colapso funerário", afirma.

Em entrevista à TV Globo, o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, disse que seis hospitais municipais atingiram a lotação máximas dos leitos, com 90% de ocupação.

Coordenador de assistência do Hospital das Clínicas da Unicamp, o infectologista Plinio Trabasso afirma que o hospital não precisa estar com a capacidade 100% tomada para caracterizar a lotação.

"Entre 5% e 10% dos leitos precisam estar vagos para você poder gerenciar. Tem que ter um lastro para, se chegar alguém, você conseguir internar na hora", afirma.

Segundo ele, a ocupação total pode levar médicos a serem obrigados a definir quem receberá assistência.

O infectologista lembra também que um dos fatores que levam a Covid-19 a superlotar hospitais é que o tempo de permanência dos pacientes na UTI é maior do que a média de cinco dias, chegando a três semanas.

No estado, ocupação é de 85,5%

Segundo o governo João Doria (PSDB), a taxa de ocupação dos leitos de UTI está em 69% no estado e 85,5% na Grande São Paulo.

Um em cada cinco pacientes infectados pelo novo coronavírus internados em leitos de UTIs (unidades de terapia intensiva) no estado de São Paulo morre por causa da doença, diz o diretor do Hospital

Emílio Ribas, Luiz Carlos Pereira Junior, membro do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo.

O governo deve abrir o quarto hospital de campanha na capital, no dia 20, no AME (Ambulatório Médico de Especialidades) Luiz Roberto Barradas, ao lado do Hospital de Heliópolis (zona sul).

Superlotação aumenta a mortalidade

A superlotação de leitos de UTI deverá provocar aumento na taxa de mortalidade na capital, segundo o coordenador da frente de diagnóstico da Unicamp, o professor de Imunologia Alessandro Farias.
"Haverá óbito que não teria em outra situação. Não se conseguirá dar o cuidado necessário para aqueles que se recuperariam, mesmo em estado grave", afirma Farias.

O professor da Unicamp lembra a importância do isolamento social para evitar que tantas pessoas fiquem doentes ao mesmo tempo e diz que a UTI é apenas o primeiro setor a ficar sobrecarregado.

Professor da FGV e integrante do IEPS (Instituto de Estudos para Políticas de Saúde), Rudi Rocha afirma que, em geral, hospitais funcionam com capacidade alta mesmo em países desenvolvidos. Porém, diz que a situação em São Paulo está muito próxima do limite, porque mais gente deverá procurar ajuda na capital.

"Com a interiorização da doença, sendo as capitais polos tão importantes, o risco é que rapidamente a pressão de demanda aumente", diz.

Rocha fala ainda que o Brasil como um todo deverá assumir um protagonismo negativo na pandemia. "Existe uma chance razoável de se tornar o principal epicentro da Covid-19 no mundo", afirma.

Resposta

A Prefeitura de São Paulo, gestão Bruno Covas (PSDB), foi procurada durante três dias para informar quais hospitais estão com lotação em suas unidades de terapia intensiva e que, por isso, não aceitam mais pacientes, mas não respondeu à reportagem.

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde diz que paciente com suspeita de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) que precisar de UTI e não tiver vaga, será transferido para unidade de referência.

A prefeitura afirma que até o fim do mês o município terá 1.555 novos leitos intensivos", diz.

Números da Covid-19 na capital paulista

Data Mortes confirmadas Mortes Suspeitas Total
09/04/20 422 688 1.110
28/04/20 1.418 1.739 3.157
29/04/20 1.514 1.824 3.338
30/04/20 1.665 1.957 3.622
01/05/20 1.713 2.036 3.749
02/05/20 1.744 2.096 3.840
03/05/20 1.775 2.142 3.917
04/05/20 1.832 2.251 4.083
05/05/20 1.928 2.372 4.300
06/05/20 2.006 2.490 4.496
07/05/20 2.106 2.624 4.730
08/05/20 2.187 2.687 4.874
09/05/20 2.268 2.750 5.018
10/05/20 2.305 2.790 5.095
11/05/20 2.430 2.708 5.138
12/05/20 2.542 2.846 5.388
13/05/20 2.602 2.959 5.561
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