Distritos com maior índice de mortes causadas pelo Covid-19 na capital mantêm rotinas com comércios abertos e gente na rua.
Os vizinhos distritos do Belém, Pari e Água Rasa, entre a região central e a zona leste, estão entre os quatro com mais mortes para cada grupo de 100 mil habitantes provocadas pelo novo coronavírus ou por suspeita da doença, segundo a Secretaria Municipal da Saúde.
Os dados levam em conta as pessoas que moravam nos distritos.
Nesta terça (5), era grande o fluxo de pessoas no Pari (centro). Alguns serviços e comércios funcionavam com portas abaixadas.
Em uma confecção na rua Rio Bonito, funcionários trabalhavam em um espaço fechado e próximos uns dos outros. Alguns estavam sem máscara de proteção.
Perto dali, na rua Santa Rita, um grupo tomava cerveja na porta de um bar. Muitas das pessoas que circulavam pela região estavam sem máscaras.
"Acham que a doença é mentira. O pessoal daqui não está respeitando", diz a gari Jane Ribeiro, 58 anos.
Flávio Castro, 58, dono de uma oficina mecânica, admite que o movimento aumentou, mas avalia que a situação é inevitável diante na queda da atividade econômica. "Precisamos trabalhar. Se eu não fizer isso, não consigo pagar meu convênio médico", diz.
No Belém (zona leste), a jornaleira Rosângela Quintela, 47, avalia que, no início da quarentena, em março, os moradores evitavam sair de casa. "Nas últimas semanas eu tenho notado mais gente nas ruas", comenta.
No bairro, também foram vistos alguns estabelecimentos comerciais funcionando. Em um salão de beleza, que estava com o portão fechado, foi afixado um aviso informando que as atividades estavam sendo realizadas normalmente e orientando aos interessados que tocassem a campainha ou mandassem mensagem pelo celular.
A comerciante Irene Santana, 38, diz que em seu bairro, Água Rasa (zona leste), as pessoas só passaram a dar importância ao uso de máscara nesta semana, quando o prefeito Bruno Covas (PSDB) decretou que o item deve ser utilizado por todos em deslocamentos e locais públicos. A medida entra em vigor nesta quinta (7).
O mesmo ocorre no Belém e na Água Rasa, ambos distritos da zona leste.
Para o epidemiologista André Ribas de Freitas, da Faculdade São Leopoldo Mandic, o perfil comercial desses distritos pode ser um dos motivos que os colocou no topo do ranking de mortes por 100 mil habitantes. "O fato de ter muita circulação de pessoas nesse tipo de bairro favorece a introdução do vírus", diz.
O infectologista Marcelo Otsuka, da Sociedade Brasileira de Infectologia, afirma que o alto índice de óbitos nesses locais é resultado do enfraquecimento do isolamento social. "Acho que as pessoas só vão entender a gravidade da doença quando começar a morrer gente próxima", afirma.
Surpresa geral
A divulgação do ranking de mortes por 100 mil habitantes pegou de surpresa moradores das regiões.
"Eu vejo que o pessoal deu uma relaxada nos cuidados, mas não conheço ninguém daqui que tenha morrido da doença", diz a atendente Carla dos Anjos, 29 anos, do Belém. O distrito registrou 29 mortes relacionadas ao novo coronavírus, entre suspeitas e confirmadas. O índice por 100 mil habitantes é de 58,9, o mais alto da cidade.
O empresário Norberto Mensório, 69, que preside o Conselho Comunitário de Segurança do Belém, disse não ter informações sobre os 29 óbitos notificados pela gestão Bruno Covas. "Fiz apuração pelas redes sociais e com pessoas do bairro. Chegamos a cinco mortes, sendo uma suspeita", diz.
Por outro lado, Mensório admite que a região tem alto número de idosos, que são do grupo de risco. Segundo dados da Fundação Seade, Belém possui 17,76% de moradores com 60 anos ou mais, maior do que o da capital paulista (15,61%) e do estado (15,3%).
Para determinar o percentual da população da capital que já foi infectada pelo vírus, pesquisadores da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e da USP (Universidade de São Paulo) iniciaram um projeto para aplicar testes na população. Os distritos da Água Rasa, Belém e Pari estão entre os primeiros no cronograma. A iniciativa conta com o apoio da prefeitura e da iniciativa privada.
Resposta
A Secretaria Municipal das Subprefeituras garante que faz um trabalho de fiscalização para garantir o cumprimento da quarentena. A pasta diz que 299 estabelecimentos considerados como não essenciais foram interditados em toda a cidade por não acatarem a determinação pelo fechamento. Porém, se considerada apenas a área da subprefeitura da Mooca (que abrange os distritos da Água Rasa, Belém e Pari), foram 19 locais fechados. A subprefeitura possui 20 equipes responsáveis pela fiscalização.
Segundo a prefeitura, os estabelecimentos que descumprem o decreto estão sujeitos à interdição imediata. Na reincidência, podem ter o alvará de funcionamento cassado.
Mortes por distrito
DISTRITO | MORTES POR 100 MIL | HABITANTES | TOTAL DE MORTES |
Belém | 58,9 | 49.213 | 29 |
Pari | 57,7 | 19.069 | 11 |
Artur Alvim | 56,7 | 100.462 | 57 |
Água Rasa | 52,1 | 82.564 | 43 |
Limão | 51,5 | 79.657 | 41 |
Alto de Pinheiros | 48,8 | 40.962 | 20 |
Campo Belo | 47,1 | 63.744 | 30 |
Liberdade | 46,7 | 72.797 | 34 |
São Mateus | 46,3 | 155.387 | 72 |
Cachoeirinha | 45,8 | 146.387 | 67 |
Vila Formosa | 45,7 | 94.100 | 43 |
São Miguel | 44,9 | 89.173 | 40 |
Ponte Rasa | 44,6 | 89.774 | 40 |
Casa Verde | 44,2 | 86.004 | 38 |
Vila Matilde | 43,6 | 105.575 | 46 |
Carrão | 42,4 | 84.925 | 36 |
Santana | 42,4 | 113.253 | 48 |
Freguesia do Ó | 42,1 | 140.083 | 59 |
Cangaíba | 41,3 | 138.107 | 57 |
Bom Retiro | 41,2 | 38.877 | 16 |
Aricanduva | 40,8 | 85.868 | 35 |
Vila Medeiros | 40,5 | 123.456 | 50 |
Penha | 40,3 | 129.100 | 52 |
Consolação | 40,1 | 57.405 | 23 |
Mandaqui | 39,4 | 109.228 | 43 |
Brás | 39,3 | 33.045 | 13 |
Ipiranga | 38,3 | 112.222 | 43 |
Iguatemi | 38,1 | 149.739 | 57 |
Tatuapé | 37,5 | 96.045 | 36 |
Mooca | 37,3 | 80.330 | 30 |
República | 37,2 | 61.832 | 23 |
Barra Funda | 37,2 | 16.115 | 6 |
Lapa | 37,2 | 67.170 | 25 |
Cambuci | 36,9 | 40.667 | 15 |
Brasilândia | 36,5 | 281.977 | 103 |
Vila Prudente | 36,3 | 104.686 | 38 |
Cidade Lider | 36,2 | 135.247 | 49 |
Marsilac | 35,6 | 8.426 | 3 |
Jaçanã | 35,4 | 96.054 | 34 |
Tucuruvi | 35,3 | 96.358 | 34 |
Sapopemba | 34,9 | 289.759 | 101 |
Vila Mariana | 34,8 | 132.226 | 46 |
Guaianases | 34,6 | 109.730 | 38 |
Ermelino Matarazzo | 34,5 | 118.715 | 41 |
Itaim Bibi | 33,9 | 97.229 | 33 |
São Lucas | 33,6 | 142.948 | 48 |
Perus | 33,6 | 89.310 | 30 |
Cursino | 33,4 | 113.728 | 38 |
Vila Maria | 33,3 | 114.025 | 38 |
Santa Cecília | 32,8 | 88.518 | 29 |
Vila Guilherme | 31,5 | 57.079 | 18 |
Jardim Helena | 31 | 135.605 | 42 |
Sé | 30 | 26.693 | 8 |
Pirituba | 29,8 | 171.232 | 51 |
Parque do Carmo | 29,3 | 71.749 | 21 |
Moema | 29,1 | 89.382 | 26 |
Jaguaré | 29 | 55.192 | 16 |
Vila Curuçá | 28,7 | 153.500 | 44 |
Perdizes | 28,7 | 114.788 | 33 |
Saúde | 28,3 | 134.147 | 38 |
José Bonifácio | 27,8 | 136.560 | 38 |
São Domingos | 27,8 | 86.403 | 24 |
Vila Jacuí | 27,4 | 145.836 | 40 |
Pinheiros | 27,3 | 65.909 | 18 |
Rio Pequeno | 26,7 | 123.711 | 33 |
Vila Leopoldina | 26,6 | 45.092 | 12 |
Cidade Tiradentes | 26,3 | 235.630 | 62 |
Itaquera | 26 | 211.555 | 55 |
Lajeado | 24,6 | 174.539 | 43 |
Tremembé | 24,6 | 223.553 | 55 |
Cidade Dutra | 24,6 | 203.131 | 50 |
Jabaquara | 22,7 | 229.346 | 52 |
Jaraguá | 22,6 | 212.819 | 48 |
Sacomã | 22,4 | 263.621 | 59 |
Santo Amaro | 21,5 | 74.447 | 16 |
Jaguara | 20,9 | 23.950 | 5 |
Jardim Paulista | 20,9 | 90.719 | 19 |
Morumbi | 20,8 | 52.921 | 11 |
Bela Vista | 20,5 | 73.235 | 15 |
Cidade Ademar | 20,3 | 285.677 | 58 |
Capão Redondo | 20,2 | 296.378 | 60 |
Itaim Paulista | 19,6 | 234.912 | 46 |
Socorro | 19,4 | 36.033 | 7 |
Jardim São Luís | 18,7 | 293.660 | 55 |
Campo Grande | 17,8 | 106.722 | 19 |
Grajaú | 16,7 | 390.096 | 65 |
Jardim Ângela | 16,6 | 338.265 | 56 |
Vila Sônia | 16,4 | 121.663 | 20 |
São Rafael | 15,7 | 159.683 | 25 |
Parelheiros | 15,6 | 153.598 | 24 |
Butantã | 14,9 | 53.836 | 8 |
Pedreira | 14,3 | 160.976 | 23 |
Raposo Tavares | 14 | 107.426 | 15 |
Vila Andrade | 12,8 | 163.508 | 21 |
Anhanguera | 11,8 | 84.719 | 10 |
Campo Limpo | 11,8 | 228.893 | 27 |
Fonte: Prefeitura de São Paulo e Fundação Seade
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