Vídeos mostram agressão de guardas-civis a motorista que reagiu a abordagem em SP

Ação começou após condutor de caminhão jogar chave de veículo em um terreno, durante abordagem em Itaquera

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São Paulo

Um motorista de caminhão, de 36 anos, foi agredido por guardas-civis metropolitanos no fim da tarde desta terça-feira (23), conforme mostram vídeos gravados com celular, após ser abordado pelos GCMs no Jardim Cibele, região de Itaquera (zona leste da capital paulista), quando transportava entulho de uma construção. O condutor reagiu à violência, provocando confronto entre ele e três agentes da Divisão Ambiental da corporação.

Por causa de ferimentos, o motorista acabou levado ao hospital Santa Marcelina. Lá, algemado com as mãos nas costas e deitado de barriga no chão, foi sufocado na região do pescoço com o joelho de uma GCM. Os dois momentos foram registrados em vídeo.

O caminhoneiro afirmou ao Agora que transportava uma carga de entulho, quando foi dado sinal para que parasse. Ele diz ter trafegado mais alguns metros na rua Hirovo Kaminobo, para poder estacionar com segurança, já que atrás de seu veículo vinham uma moto e um carro. “Sou uma pessoa responsável. Qualquer acidente seria responsabilidade minha. Mas os GCMs não entenderam e por isso me xingaram”, relatou o condutor, que pediu para não ter o nome publicado.

Já na calçada, o motorista afirmou ter entregado aos guardas os documentos de seu caminhão, que estão em dia. Após isso, um GCM pediu a chave do veículo, mas o motorista se negou a entregá-la, alegando que não havia nada de errado, como teria sido constatado pelos guardas. “Aí peguei a chave, joguei em um terreno, e os guardas partiram para cima de mim. Eu reagi como qualquer ser humano faria ao perceber que vai apanhar”, disse.

Imagens feitas com celular mostram os guardas agredindo o motorista com socos e chutes. A camisa dele foi arrancada durante a violência. As imagens mostram que um dos GCMs chega a cair durante a abordagem. “Depois disso me algemaram e levaram para a delegacia”, relembra o motorista.

Já no 53º DP (Parque do Carmo), o delegado de plantão pediu para que o motorista fosse levado ao hospital, por causa de seus ferimentos, antes da confecção do boletim de ocorrência.

Quando chegou no hospital Santa Marcelina, também em Itaquera, o motorista afirmou que um dos guardas apertou ainda mais as algemas, machucando seus pulsos. “Aí pedi ajuda, gritando socorro para as pessoas que estavam no hospital”, diz. Um amigo do motorista, que havia seguido os guardas, desde a delegacia, começou a registrar a ação com um celular.

Segundo as imagens, uma guarda mantém o joelho sobre o pescoço do motorista, algemado com as mãos nas costas e que, aos gritos, afirmava estar sendo machucado. “Olha o que vocês [GCMs] estão fazendo comigo no hospital, me deixem levantar, nem com ladrão vocês fazem isso”, afirmava o motorista. A GCM tira o joelho do pescoço dele após perceber que a ação é gravada.

O homem foi medicado e encaminhado novamente ao 53º DP, onde o caso foi registrado como lesão corporal e resistência.

Com a ocorrência finalizada, o motorista voltou com parentes para casa, onde seu caminhão já estava estacionado. Durante o registro do caso, um amigo do condutor foi ao local da abordagem, achou a chave do veículo no terreno e o levou veículo, liberado pela polícia, à residência do motorista.

Guarda-civil metropolitana mantém joelho sobre pescoço de motorista, 36 anos, no hospital Santa Marcelina, na zona leste da capital paulista, nesta terça-feira (23). O condutor foi levado ao local após uma abordagem, feitas pelos mesmo guardas, que resultou em agressão - Arquivo Pessoal

Resposta

A SMSU (Secretária Municipal de Segurança Urbana) afirmou que está investigando o conteúdo das imagens. A pasta, porém, não diz se serão tomadas medidas contra os agentes. "A secretaria não compactua com atos de violência desnecessária. Todas as denúncias têm de ser investigadas dentro do devido processo legal e, se comprovadas irregularidades, serão aplicadas as medidas cabíveis", diz trecho de nota.

Ainda de acordo com a pasta, os guardas relataram terem sido desacatados pelo motorista, durante fiscalização de transporte de resíduos. "O motorista, que dirigia um caminhão atirou a chave do veículo no terreno ao lado, recebendo voz de prisão por desobediência e resistência, sendo contido, imobilizado e algemado", acrescenta trecho de nota.

Sobre a imobilização no hospital, a SMSU afirmou que o motorista "permaneceu resistindo, no intuito de chamar a atenção das pessoas [...] tendo que ser contido pelos GCMs."

A pasta disse ainda que um dos GCMs se machucou em um dos braços, após a abordagem, além de ter o uniforme rasgado.

Cinco casos de violência policial em menos de duas semanas

Desde o último dia 12, ao menos cinco casos de violência envolvendo policiais militares, na capital e Grande SP, foram registrados e compartilhados nas redes sociais.

No domingo (21) um rapaz de 19 anos desmaiou, ao menos duas vezes, após ser asfixiado por PMs, durante abordagem da Rocam (Ronda com Motocicletas) no fim da tarde em Carapicuíba (Grande SP). Os policiais envolvidos no caso estão afastados das ruas, segundo a corporação.

Um dia antes, PMs teriam ferido, com tiros de balas de borracha, dois ambulantes, dentro da casa das vítimas, após a dispersão de uma festa na Vila Santa Estefano, distrito do Jabaquara (zona sul da capital paulista). A Corregedoria da PM acompanha o caso.

Imagens feitas com celulares, no último dia 15, mostram moradores da Vila Clara (zona sul) sendo agredidos por policiais militares, após protesto pela morte de Guilherme Silva Guedes, 15 anos. O sargento Adriano Fernandes de Campos, 41 anos, está preso suspeito de participar do assassinato. Ele nega a participação no crime, segundo sua defesa.

Dois dias antes, de madrugada, policiais militares foram gravados quando agrediam um jovem, rendido, no Jaçanã (zona norte de SP). Os PMs apresentaram a ocorrência na delegacia como desacato e resistência.

Já no dia 12, um homem, já rendido, é agredido por policiais militares no bairro Jardim Belval, em Barueri (Grande SP). Os PMs ainda bateram em vizinhos que tentaram proteger a vítima.

Estes dois últimos casos fizeram com que 14 policiais fossem afastados das ruas, enquando as ocorrências são investigadas.

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