Descrição de chapéu Zona Sul

Vigia entra para programa de proteção à testemunha após depor sobre morte de jovem

Testemunha trabalhava com único suspeito preso até o momento pela morte de Guilherme Silva Guedes, de 15 anos

São Paulo

Um vigia que trabalhava com o sargento suspeito de envolvimento na morte de Guilherme Silva Guedes, de 15 anos, no último dia 14 em Americanópolis (zona sul da capital paulista), entrou para o programa de proteção à testemunha, de acordo com o DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa).

O delegado Fábio Pinheiro, diretor do DHPP, afirmou que o porteiro foi ouvido formalmente na sexta-feira (19). “Ele colaborou bem [com informações sobre o crime], tanto que pediu para entrar para o programa de proteção à testemunha.”

O vigia chegou a ser apontado como suspeito de envolvimento no crime, após a polícia não encontrá-lo em casa, na manhã de sexta, durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão, expedidos pela Justiça. Porém, ele se apresentou ao departamento de homicídios na tarde do mesmo dia, quando sua suposta participação no crime foi descartada pela polícia.

Ato em memória de Guilherme Silva Guedes, 15 anos, encontrado morto nesta segunda (15), após ter sido sequestrado, na zona sul da capital - Mathilde Missioneiro/Folhapress

Pinheiro disse ainda aguardar a conclusão de laudos periciais e exames, para que após isso colha o depoimento do sargento Adriano Fernandes de Campos, 41 anos, único suspeito pelo crime até o momento preso. O PM afirma ser inocente, segundo seus advogados de defesa.

O depoimento do policial suspeito, acrescentou o diretor do DHPP, será agendado após a chegado dos laudos no departamento de homicídios, que pode ocorrer até o fim desta semana. “O importante para gente é chegarem os laudos, para ele [sargento] ser ouvido sem dar escusas ou mentir. Com laudo na mão, fica mais fácil”, explicou o policial.

Nesta segunda, o DHPP deu continuidade aos trabalhos para descobrir a identidade de um segundo suspeito, que aparece em imagens de câmeras de monitoramento no dia em que o jovem foi morto.

Morto longe de onde foi encontrado

O corpo de Guilherme Silva Guedes foi encontrado, por volta das 9h30 de domingo (14), no limite entre a zona sul de São Paulo e Diadema (ABC), com tiros na cabeça e em uma das mãos. Ele, no entanto, teria sido morto em outro local, antes de seu corpo ser abandonado no terreno onde foi localizado.

Segundo registrado pelo DHPP, o corpo do adolescente estava calçado somente com meias brancas. “Vale consignar que o solado das meias brancas que a vítima calçava estavam parcialmente limpos, apesar do corpo ter sido encontrado em uma região de terra, valendo consignar também que seu par de tênis não foi encontrado”, diz trecho do documento policial.

Ainda de acordo com o departamento de homicídios, nenhum projétil de arma de fogo também foi encontrado perto do cadáver, indicando que ele teria sido morto em outra região.

A reportagem apurou que uma mulher, que terá a identidade preservada por segurança, prestou depoimento na noite desta quinta-feira (19) à Polícia Civil. Ela afirmou ter visto o momento em que Guedes foi colocado dentro de um carro e, instantes depois, ouvido ao menos dois sons semelhantes a tiros.

A morte do garoto provocou dois dias de protestos em Americanópolis, com ônibus queimados e vandalizados, um comércio foi furtado.

Vídeos com imagens de policiais militares agredindo moradores da Vila Clara, que fica na região, foram divulgados em redes sociais. Segundo pessoas que moram no bairro, as imagens foram gravadas na noite de segunda-feira, após a primeira onda de protestos.

Ao menos cinco ônibus foram incendiados, na noite do último dia 15, no Bairro da Vila Clara (zona sul da capital paulista). Segundo a Polícia Militar, moradores atearam fogo aos veículos em protesto contra a morte de Guilherme Silva Guedes, 15 anos, ocorrida na madrugada do mesmo dia - Reprodução/TV Globo

Resposta

A PM disse já ter instaurado um Inquérito Policial Militar para identificar os policiais que aparecem em vídeos contendo agressões a moradores. Sobre a prisão do sargento, não se manifestou.

A Secretaria da Segurança Pública, gestão (PSDB), afirmou que as circunstâncias da morte de Guilherme Silva Guedes estão sendo investigadas pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) e pela Corregedoria da PM.

Caso Guilherme - cronologia do crime

Sábado (13)

  • Guilherme Silva Guedes, 15 anos, vai a um churrasco na casa de parentes, na região de Americanópolis (zona sul), onde fica até o início da madrugada seguinte

Domingo (14)

  • Por volta de 1h50, o garoto é abortado por dois homens armados em frente à casa de sua avó materna, onde morava. Ele teria sido confundido com uma pessoa que invadiu um galpão próximo, segundo a polícia, e colocado em um carro escuro
  • Parentes e amigos iniciam buscas, ainda durante a madrugada
  • A polícia localiza um corpo, por volta das 9h30 perto de um terreno, no limite entre Diadema (ABC) e a zona sul de São Paulo
  • A mãe de Guilherme registra boletim de ocorrência, por volta das 19h, acreditando que o filho havia sido sequestrado

Segunda-feira (15)

  • Familiares reconhecem o corpo do adolescente, por volta das 8h, no Instituto Médico Legal da zona sul de SP
  • À noite, ônibus são incendiados em protesto pela morte do adolescente. Ato começou, de forma pacífica, por volta das 16h. Policiais militares reagem contra manifestantes
  • Agressões de PMs, supostamente contra moradores após os protestos, são gravadas em vídeo

Terça-feira (16)

  • Corpo de Guilherme é enterrado, por volta das 11h, em cemitério de Embu das Artes (Grande SP)
  • Moradores realizam segundo dia de protestos no fim da tarde, que termina com depredações e um comércio atacado, segundo a polícia

Quarta-feira (17)

  • Sargento da PM Adriano Fernandes de Campos, 41, é preso, suspeito de participação no crime. Ele seria dono da empresa que fazia a segurança do galpão invadido
  • Ele é encaminhado no mesmo dia ao presídio militar Romão Gomes, após ficar em silêncio em depoimento
  • Polícia investiga a participação de um outro policial militar, já que no local do crime foi encontrada uma tarjeta de um soldado com o nome Paulo

Quinta-feira (18)

  • Polícia Civil afirma “não haver dúvidas" sobre a participação do sargento na morte de Guedes
  • Advogados de defesa dizem que sargento nega o crime

Sexta-feira (19

  • Polícia cumpre mandados de busca e apreensão
  • Porteiro é apontado como suspeito de participar do crime e depois liberado, após prestar depoimento
  • Carro pertencente ao filho do sargento é apreendido


Fontes: Polícia Civil, Ministério Público de SP e reportagem

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