Um vendedor de 19 anos afirma ter sido agredido por seguranças, mesmo estando algemado, dentro de uma sala da estação Francisco Morato (Grande SP), linha 7-rubi da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), por volta das 17h20 da quinta-feira (2).
O rapaz afirmou ao Agora, nesta segunda-feira (6), que trabalha como ambulante há cerca de quatro anos. No dia que teria ocorrido a agressão, ele diz ter trabalhado desde o fim da madrugada até por volta das 13h. "Ai fiquei junto com uns amigos conversando [fora da estação]. Nem vimos o tempo passar e, quando percebi, já eram umas 17h", relembra.
Quando o ambulante descia as escadas rolantes para ir embora para casa, acompanhando de outro vendedor de 20 anos, ambos foram abordados por seguranças da CPTM. Os vigilantes, acrescentou o rapaz, pediram para que a dupla de amigos ficasse à frente dos seguranças. "Mas não confio, esses caras podiam estar na maldade. Aí, eu e meu amigo nos negamos a ficar na frente deles. Depois disso, um dos seguranças falou que a gente tinha jogado pedras neles."
Os vigilantes, acrescentou o vendedor, foram para cima da dupla, deixando um cassetete cair no chão. "Peguei o cassetete e segurei atrás de mim, não queria arrumar confusão, estava tentando explicar isso para os seguranças", garantiu o ambulante. Após devolver a arma a um vigilante, outros chegaram e um deles aplicou um mata leão no rapaz. O amigo dele conseguiu fugir.
Um vídeo, feito com celular, mostra o vendedor sendo conduzido, já imobilizado, por seguranças da CPTM e policiais ferroviários. "Já comecei a ser agredido aí, pois bateram em minha cabeça comigo já imobilizado", afirmou o vendedor.
Espancamento dentro de uma sala
O vendedor relatou que os seguranças o levaram até uma sala, na estação Francisco Morato. Quando entraram no local, ele garante que o derrubaram no chão, o algemaram e disseram: "como seu amigo correu, você vai apanhar pelos dois."
"Fechei os olhos e me preparei para apanhar. Depois não conseguia enxergar direito, porque começou a cair sangue nos meus olhos também", relembra o ambulante.
O rapaz afirma ter sido agredido em todo o corpo com pontapés, cassetatas, coronhadas e também com o cano de um revólver, na região da costela, que ficou marcada.
As agressões foram interrompidas após o amigo que estava com o vendedor, na hora da abordagem dos vigilantes, gritar para pessoas na estação, em frente à sala onde ocorriam as agressões, para que parassem de bater no colega.
Outro vídeo de celular foi feito após a violência. "Olha minha cara como está [toda ensanguentada]. Estou algemado parça. Apanhei de cinco caras algemado. Seus lixos, seus lixos", afirma o ambulante, ferido.
Após isso, todos foram encaminhados à delegacia de Francisco Morato, onde o caso foi registrado como lesão corporal contra o ambulante.
PM sem máscara conduz ambulante
Segundo imagens feitas com celular, um policial militar, sem máscara de proteção, conduz o vendedor agredido desde as catracas até a saída da estação da CPTM. Ao não usar o item de segurança, o policial descumpre resolução publicada no Diário Oficial que obriga o uso de máscaras em todo o estado de São Paulo.
O descumprimento da medida pode gerar multa de R$ 5.025,02, para comerciantes, e de R$ 524,59 para quem estiver circulando pela rua sem o item de segurança, incluindo policiais. As multas começaram de fato a ser aplicadas a partir da quinta-feira, mesmo dia em que o vendedor afirma ter sido agredido.
Resposta
A CPTM afirmou que quatro pessoas teriam jogado pedras, garrafas e latas em direção à plataforma 2 da estação Francisco Morato, na quinta-feira, "colocando em risco os passageiros que aguardavam o trem."
Além disso, a companhia acrescentou que agentes da estação foram agredidos por dois homens e, com apoio de policiais militares, a dupla foi encaminhada à delegacia, onde um boletim de ocorrência foi registrado. "A CPTM está apurando os fatos e irá representar a dupla [vendedores] pelos crimes de injúria e ameaça", diz trecho de nota.
Sobre o policial militar que atendeu à ocorrência sem máscara de proteção, a PM irá analisar as imagens e apurar a conduta do agente. A corporação acrescentou que "todos os seus policiais são orientados quanto ao uso correto das máscaras de proteção."
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