"Bom dia doutores, como foi a semana de vocês?". Essa era a primeira coisa que a estudante de medicina veterinária Julia Rosenberg Pearson, 21 anos, perguntava aos amigos de faculdade, todas as segundas-feiras, sempre com sorriso no rosto, segundo eles.
A universitária foi encontrada morta, em uma cova rasa, na segunda-feira (6), perto de uma trilha onde costumava caminhar em São Sebastião (191 km de SP), cidade onde estava com familiares desde o início da pandemia da Covid-19.
A morte de Julia chocou os amigos de faculdade. Um deles, Diego Armene Romero, 20 anos, afirmou que ela treinava boxe há mais de dois anos. Por isso, diz imaginar que a amiga possa ter reagido à abordagem do assassino. "Ela era grande, forte, praticava esportes. Com certeza iria lutar para se defender de qualquer um que tentasse fazer mal."
A jovem cursava o quinto semestre de medicina veterinária, na capital paulista. Na faculdade, junto com mais três amigos, formou um grupo inseparável, inclusive durante a quarentena —a turma mantinha contato frequente pela internet.
“No primeiro dia de aula, cheguei atrasado e sentei no primeiro lugar que achei. A Julia estava perto e puxamos papo. Daí em diante, ficamos cada vez mais amigos”, diz Igor Silva Silito, 20 anos.
“Ela me falou que, no litoral, as casas ficavam distantes e a probabilidade de contaminação pela Covid-19 era pequena. Ela se preocupava com os pais, que já estão idosos”, afirma Silito.
Romero diz que quando soube da morte da amiga, pensou ser uma notícia falsa. Ele diz que, na madrugada que antecedeu ao encontro do corpo, sonhou com ela deitada sobre gravetos. “Eu nunca havia sonhado com algo do tipo em toda a minha vida”, afirma.
Na manhã de segunda-feira (6), porém, o pesadelo virou realidade, quando o rapaz constatou no noticiário que os bombeiros e a polícia haviam confirmado a identidade do corpo enterrado em uma cova rasa e coberto com folhas. "Lembro que li a notícia com a mão tremendo. Vou sentir muita falta da nossas conversas, principalmente no carro, quando eu dava carona para ela ir para casa."
A estudante de veterinária costumava caminhar pela trilha, perto da qual foi encontrada morta, três vezes por semana. Ela afirmava aos amigos se sentir em paz no litoral, para onde sempre os convidava para ir. "Mas sempre a gente tinha alguma outra coisa para fazer. Agora, nunca mais poderemos conhecer o lugar que mais amava no mundo, junto com ela", diz Romero.
A última vez em que o quarteto conversou, por meio de uma chamada de vídeo, foi dois dias antes de a jovem ser encontrada morta. O grupo debatia o andamento de um artigo acadêmico, feito a oito mãos, sobre o coronavírus em animais. "Vamos concluir e publicar o trabalho em honra à memória de nossa amiga", afirma o amigo.
A polícia ainda investiga o caso. Na quinta-feira, policiais militares prenderam um homem, de 37 anos, em Ilhabela, que fica próxima de São Sebastião. Ele foi preso sob acusação de tentar beijar uma mulher de 23 anos à força. O suspeito foi fotografado perto de onde estava o corpo de Julia, quando ele foi localizado, segundo a polícia.
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