Vandalismo e furto de fios de semáforos disparam na cidade de São Paulo

Levantamento da CET mostra que ocorrências aumentaram 87% durante quarentena

São Paulo e São Paulo

O furto de fios e os atos de vandalismo nos equipamentos que controlam os semáforos de São Paulo cresceram 87% nos sete primeiros meses deste ano, na comparação com o mesmo período de 2019. O levantamento foi divulgado nesta semana pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego).

Agentes da CET controlam o trânsito no cruzamento da avenida Rudge coma rua Baronesa de Porto Carreiro, no Bom Retiro, região central de São Paulo. Segundo funcionário, furto de fios causou um curto-circuito no semáforo - Rubens Cavallari/Folhapress

Segundo a companhia, o período de quarentena, com ruas mais vazias e menor fluxo de veículos em circulação, contribuiu para o aumento deste tipo de crime na capital paulista. Ao todo, foram registradas 2.433 ocorrências. No ano passado, foram contabilizadas 1.303 ocorrências no mesmo período.

O número representa, em média, 12 semáforos danificados por dia na cidade. Nos sete primeiros meses de 2020 a companhia reinstalou 224 quilômetros de fiação elétrica nos equipamentos que sofreram algum tipo de dano por conta da ação criminosa.

Os furtos de cabo significam grande prejuízo para cidade. Até o mês de maio de 2020, o crime obrigou a gestão municipal a desembolsar R$ 5 milhões para consertar ou repor os equipamentos. Durante todo o ano de 2019, os prejuízos acumulados por essas ocorrências somaram R$ 6,1 milhões.

Um único controlador de semáforo, por exemplo, pode afetar o funcionamento de até cinco cruzamentos semaforizados numa mesma região. A área central da cidade costuma concentrar o maior número de falhas de funcionamento de equipamentos por conta dos furtos ou de vandalismo. No entanto, neste ano, a zona leste lidera o número de ocorrências, segundo a CET.

Rafael Francisco Santos, 26, é borracheiro em uma oficina da estrada do Imperador, em São Miguel Paulista (zona leste de SP). A avenida encabeça a lista de locais com mais furtos na cidade, com 98 ocorrências neste ano.

Ele conta que já viu os semáforos pararem de funcionar por vários motivos, de vento e chuva forte a furto. “Eles [funcionários da prefeitura] soldaram as tampas para não roubarem os cabos”, afirmou. Em seu trabalho na oficina, ele já encontrou carros que tiveram problemas por causa dessas falhas. “Tem batida pelo menos uma vez no mês”, disse.

O aposentado e divulgador Geraldo Lopes, 72, também já viu acidentes na avenida. Morador da região, ele comenta que é muito perigoso, principalmente para os pedestres. “Com o farol, [os carros] já vêm com tudo. Imagina sem”, diz.

“O pessoal não tem paciência para esperar a vez”, comenta o operador de máquina Dutra de Souza Castro, 63. Segundo ele, os semáforos quebram com frequência e isso “embaralha” o trânsito da região.

João Batista, 52, trabalha como motorista e entregador na região de São Miguel Paulista. Entre os pontos que ele circula, onde há mais problema com semáforo é a estrada do Imperador. Ele conta que já viu acidentes acontecerem entre carro e moto, além do trânsito ficar todo parado. “Quando quebra é complicado. Os motoristas têm que ter consciência e bom senso”, destaca.

Avenida Inajar de Souza (zona norte), com 89 casos; avenida Sapopemba (zona leste), com 74 casos, avenida do Estado (centro), com 60 casos; e rua da Consolação (centro), com 58 casos são outros locais com grande incidência de furto e vandalismo de semáforos na capital paulista.

Durante todo o ano de 2019, a CET registrou 1.969 ocorrências de furto e vandalismo de componentes semafóricos na cidade de São Paulo. Além dos equipamentos eletrônicos, foram furtados aproximadamente 176 quilômetros de cabos elétricos.

Em 2018, foram 1.911 ocorrências de furto e vandalismo, durante os 12 meses do ano, totalizando 90 quilômetros de cabos elétricos além de componentes eletrônicos de energia e controle. São Paulo tem o maior parque semafórico do país, com 6.570 cruzamentos e travessias.

O professor da Unicamp (Universidade de Campinas) e especialista em trânsito Creso de Franco Peixoto afirma que avançar em sistemas de inteligência e em tecnologias de trânsito podem ser alternativas para diminuir a dependência do cabeamento. O professor também afirma que é importante avançar nos procedimentos de enterramento dos fios.

Resposta

Para minimizar o volume das ocorrências, a CET afirma que tem feito a alteração dos controladores semafóricos, a concretagem e soldagem das tampas das caixas de passagem da fiação e das janelas de inspeção das colunas semafóricas.

Em nota, a empresa diz que "os danos causam prejuízos e, principalmente, colocam em risco a segurança dos pedestres e condutores". A CET afirma ainda que "mantém conversas frequentes com a Secretaria de Segurança Pública, polícias Civil e Militar e a GCM para a adoção de medidas que combatam esse tipo de crime tão nocivo à cidade. A população pode ajudar. Ao flagrar um ato criminoso, denuncie pelo 190 ou 156".

A Secretaria de Segurança Pública, gestão João Doria (PSDB), afirma que as polícias realizam operações constantes para combater o furto e receptação de fios e cabos.

Segundo a pasta, desde o início do ano, mais de uma tonelada de metais nobres, incluindo cobre, foi apreendida e ao menos 38 criminosos envolvidos com essa prática foram presos.

Em nota, a secretaria afirma que policiais civis do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) "realizam regularmente vistorias em estabelecimentos comerciais destinados à venda de sucata e investiga também crimes patrimoniais ocorridos contra concessionárias de serviços públicos".

Ainda segundo a pasta, "o policiamento ostensivo e preventivo nas regiões citadas é reorientado com base nos indicadores criminais. Paralelamente a essas ações, as forças segurança estaduais mantêm diálogo com as concessionárias envolvidas, moradores, poder público municipal e outros órgãos a fim de coibir esse crime".

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