A dois meses da eleição, obras se espalham por toda a capital

Canteiros estão em todas as regiões; prefeito Bruno Covas (PSDB) teve candidatura à reeleição confirmada no sábado

São Paulo

Faltando dois meses para as eleições municipais —o primeiro turno será em 15 de novembro— a cidade de São Paulo virou um canteiro de obras. O prefeito Bruno Covas (PSDB) teve sua candidatura à reeleição confirmada sábado (12).

A reportagem percorreu todas as regiões. E nelas encontrou calçadas sendo refeitas, recapeamento de vias, servidores pintando guias e corte de mato.

A previsão da prefeitura é de que até o fim do ano, 148 vias vão ser recapeadas. Como comparação, desde 2017 a gestão recapeou 358 vias.

Segundo a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras, existem 71 frentes de trabalho em andamento no município e a previsão é que pelo menos 51 obras sejam entregues ainda neste ano.

O prefeito também tem visitado os canteiros de obras. Entre 25 de agosto e esta segunda (14), ele esteve em oito deles, alguns que se arrastam há anos, como o CEU (Centro Educacional Unificado), iniciado em 2016 e prometido, inicialmente, para agosto de 2017, mas que deve ser entregue neste ano.

Desde 15 de agosto, por causa da lei eleitoral, o prefeito não pode participar de inaugurações, mas é permitida sua presença em fiscalizações de obras.

O tucano esteve na manhã desta segunda em um futuro piscinão entre as avenidas Aricanduva e Mazzaropi, na zona leste, e há promessa de que passe a funcionar até dezembro.

O prefeito nega que a ação de zeladoria intensa na cidade tenha relação com as eleições de novembro.

“O trabalho de equilibrar as contas públicas do município permitiu que este volume de obras pudesse ser realizado agora”, disse, durante visita às obras de drenagem e calçada na rua Guaicurus, na Lapa (zona oeste), no dia 2.

Covas afirma que “as obras já estavam previstas desde o começo do mandato e que foram planejadas desde o primeiro ano e que nenhuma delas foi inventada”.

Pela cidade

A reportagem encontrou obras de zeladoria em todas as regiões da cidade. Na avenida Sapopemba (zona leste), moradores e comerciantes reclamam que as reformas na calçada deixaram um desnível em relação aos comércios. Outra queixa é que reformas estão sendo realizadas duas vezes, no mesmo local, com poucas semanas de diferença.

Reforma de calçada na avenida Sapopemba, na zona leste de São Paulo - Rivaldo Gomes/Folhapress

"Não faz muito tempo que já tinham reformado aqui. Isso [obras na calçada] atrapalha a movimentação de clientes e o trânsito na região. É um desperdício de dinheiro público. Poderia ter sido resolvido na primeira obra", diz Everton Cavalcante, que tem uma casa de produtos religiosos na região.

Neusa Kamoniori, dona de uma relojoaria na avenida Sapopemba, afirma que ficou entulho na calçada em frente ao seu comércio por duas semanas. E que ele atrapalhou o movimento no local.

Dona de uma loja de tintas do lado oposto das obras, Zélia Queiroz afirma que depois da realização de algumas reformas, a calçada ficou pior. "Existe um desnível. Pelo que vejo daqui talvez o comércio [do outro lado da rua] precise fazer alguma obra", conta.

Na avenida Tucuruvi, na zona norte, pedestres se queixam da bagunça e da sujeira no local. No lado direito de quem sobe a via no sentido bairro, são quase 300 metros de calçadas sendo recapeadas.

Pedras em calçada em obras na avenida Tucuruvi, na zona norte da capital paulista, atrapalham os pedestres - Rivaldo Gomes/Folhapress

Quem passa pelo local precisa desviar do entulho e das calçadas quebradas caminhando, muitas vezes, pela via, junto aos carros em movimento. A região possui tráfego intenso, inclusive, de ônibus, o que se torna um perigo para os pedestres e dificulta que os passageiros saiam ou entrem nos coletivos. Segundo comerciantes, as obras começaram há cerca de quatro semanas.

Na rua Jeruaba, moradores afirmam que a obra na via começou há 20 dias e que não existia nenhum buraco. Outras obras também estariam sendo feitas em ruas paralelas.

As obras também começaram no último mês na rua dos Têxteis, na avenida Sara Kubitscheck e na avenida Souza Ramos —local no qual moradores reclamam que funcionários da prefeitura furaram uma tubulação da Congás— todos endereços na zona leste da capital.

Na zona sul, a rua Maurício de Lacerda, foi recapeada há algumas semanas. Servidores da prefeitura também reformaram guias e sarjetas. A rua dos Democratas ganhou iluminação nova e a rua Massaranduba, recapeamento recente —todas ficam no bairro da Saúde. Na zona oeste, a rua do Curtume, na Lapa, recebe reforma de calçadas.

Alexandre Modonezi de Andrade, secretário municipal das Subprefeituras, afirma que a lei de calçadas é feita para atender aos pedestres e isso pode gerar um estranhamento já que "para o público em geral pode parecer que a calçada está boa, mas é necessário adequá-la".

Ele cita como exemplo o nivelamento da calçada que deve ser feito pelo meio fio e não pela residência ou comércio. "Em alguns lugares, o lote compensou a diferença que tem da rua, sem pensar no pedestre ou cadeirante". Diz. "Nos trajetos de maior mobilidade, estamos fazendo calçadas adequadas, é uma mudança de cultura."

Sobre serviços que são feitos mais de uma vez no mesmo local, o secretário afirma que o trabalho é contratado uma única vez e que, eventualmente, a empresa responsável pela obra pode ter refeito o serviço antes de entregá-lo.

Resposta

A gestão Bruno Covas afirma que apesar das alternativas disponíveis para financiar a queda na arrecadação e o aumento das despesas no período da pandemia, "os investimentos da prefeitura, inicialmente orçados em R$ 7,5 bilhões neste ano, foram comprometidos com os contingenciamentos necessários até agora. No entanto, a capacidade de investimento ainda está próxima aos R$ 5 bilhões, valor significativamente maior do que os executados nos anos anteriores".

Segundo a administração municipal, com o ajuste fiscal foi possível que a prefeitura retomasse obras em diversos setores que haviam sido abandonadas pela gestão anterior. "Por exemplo, na área da educação, foram retomadas obras de 12 CEUs [Centros Educacionais Unificados], 11 CEIs [Centros de Educação Infantis) e uma Emef [Escola Municipal de Ensino Fundamental]".

A prefeitura diz também que o Departamento de Iluminação Pública modernizou mais de 94 mil pontos de iluminação com LED e instalou 8.000 novos pontos de luz em toda a cidade de São Paulo.

Ainda segundo a gestão, foram recapeadas 358 vias, desde 2017, totalizando 587,7 km. Até o final de 2020, a previsão é de que 148 vias passem por recapemento. A Secretaria Municipal das Subprefeituras diz que concluirá a requalificação de 1,5 milhão de m² de calçadas até o final deste ano em toda a cidade, com investimento de R$ 140 milhões.

"O programa tem como foco a acessibilidade, propiciando que pessoas com qualquer tipo de deficiência ou mobilidade reduzida possa ter liberdade e segurança pelas calçadas da cidade. As obras contemplam as 32 subprefeituras", diz nota enviada pela gestão.

"Já foram requalificadas mais de 827 mil m² de calçadas em toda a cidade, entre janeiro de 2019 e julho de 2020, e outros 651,6 mil m² estão em execução, 4.000 rampas de acesso também estão sendo construídas", segundo o documento.

"Além de ajustes contratuais em diversas áreas, a reforma da Previdência reduziu o déficit em R$ 400 milhões anuais", afirma nota da prefeitura. "Consequentemente, com essa disponibilidade orçamentária maior nos últimos dois anos, o volume de obras tende a aumentar, não havendo implicações políticas para isso, apenas eficiência da gestão".

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