Descrição de chapéu Interior

Defesa diz que aposentado morreu no hospital, e não no banco

Corpo de aposentado foi levado à agência bancária para sacar aposentadoria; prefeitura diz que ele chegou morto em unidade médica

Campinas

A defesa de Josefa de Souza Mathias, 58 anos, indiciada por levar um idoso morto para supostamente tentar sacar a aposentadoria dele, em uma agência bancária de Campinas (93 km de SP), afirma que o homem de 92 anos morreu no pronto-socorro Mário Gatti, questionando com isso o laudo pericial, no qual consta, segundo a polícia, que Laercio Della Colleta teria falecido cerca de 12 horas antes de ser levado ao banco.

“Minha cliente está com a declaração e a certidão de óbito [do idoso]. Em ambas consta que ele morreu em 2 de outubro, por volta das 14h20”, afirmou a advogada Andreza Carolina Dias Amador.

Um laudo entregue à Polícia Civil, na quinta-feira (15), indica que o idoso, um escrivão de polícia aposentado, havia morrido cerca de 12 horas antes de seu corpo ser levado por Josefa até uma agência do Banco do Brasil, na região central de Campinas. A causa da morte foi natural, ainda de acordo com o parecer.

Em depoimento, Josefa, que afirmou estar desempregada, disse que mantinha uma união estável de aproximadamente dez anos com o policial aposentado. Ela foi indiciada por tentativa de estelionato e vilipêndio de cadáver (desrespeitar corpo) na sexta-feira (16). Ela nega as denúncias.

Além do laudo, a advogada de defesa ainda questionou o fato de o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) ter socorrido o idoso. “Isso me causa estranheza, pois quando uma pessoa morre em local público, não é o Samu que transporta o corpo. Nestes casos é o SVO [Serviço de Verificação de Óbito [o que não aconteceu]”, argumentou.

Uma vizinha do escrivão, segundo boletim de ocorrência, afirma que o idoso foi levado pelo Samu, mesmo com a morte dele confirmada, reforçando a suposta irregularidade apontada pela defesa de Josefa. “A vizinha, inclusive, seguiu com o corpo dele [idoso] já com o óbito atestado até o hospital”, diz trecho do documento policial.

Fachada da agência do Banco do Brasil em Campinas, interior de São Paulo, onde a Polícia Civil investiga uma tentativa de estelionato e exposição de cadáver - Luciano Claudino/Código 19/Agência O Globo

Investigação quase concluída

O delegado Cícero Simões da Costa, titular do 1º DP de Campinas, afirmou nesta segunda-feira (19) ao Agora que o laudo “é a prova cabal” das contradições afirmadas pela desempregada no dia em que ela foi à agência bancária com o idoso morto.

Em uma das versões, Josefa afirmou ter conversado pela última vez com o escrivão aposentado na noite do dia 1º. Porém, ela entrou em contradição quando afirmou ter feito isso no dia em que levou o homem em uma cadeira de rodas ao banco.

Sobre a investigação, o delegado afirmou aguardar imagens de câmeras de monitoramento do banco, além de conversar com algum parente do idoso. “Após isso, vamos concluir o caso e o encaminhar à Justiça.”

Resposta

A prefeitura de Campinas, gestão Jonas Donizette (PSB), afirmou que a morte de Laércio Della Colleta foi constatada, ainda na agência bancária, por uma unidade de resgate dos bombeiros. “O Samu havia chegado ao local antes, com uma unidade básica, que não tem autonomia para constatar óbitos”, diz trecho de nota.

Neste tipo de situação, a causa da morte precisa ser averiguada pelos órgãos competentes, acrescentou o governo. “Como o corpo já estava dentro da ambulância do Samu, foi levado ao serviço de saúde mais próximo, no caso o Hospital Mário Gatti, e retirado pelo Instituto Médico Legal (IML), como manda o protocolo”, diz nota.

O Serviço de Verificação de Óbito, disse ainda a prefeitura, está fechado por causa da pandemia da Covid-19.

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