Descrição de chapéu Interior

Aposentado levado morto a banco tinha comportamento discreto, segundo vizinhos

Mulher foi indiciada por levar corpo de homem de 92 anos para sacar aposentadoria em Campinas (SP)

Campinas

A discrição com que o escrivão de polícia aposentado Laercio Della Colleta, 92 anos, manteve por cerca 60 anos morando no centro de Campinas (93 km de SP), mudou após sua morte.

A polícia afirma que no dia 2 deste mês, após cerca de 12 horas de seu falecimento por causas naturais, segundo laudo, seu corpo foi levado até uma agência bancária, no centro de Campinas, por Josefa de Souza Mathias, 58 anos, que afirma ter mantido uma união estável com o idoso.

Josefa, que disse estar desempregada, teria tentado sacar a aposentadoria do escrivão, segundo a polícia, levando-o morto à agência. Isso causou uma repercussão nacional que Colleta jamais imaginaria se envolver, segundo amigos e conhecidos ouvidos nesta segunda-feira (19) pelo Agora.

Moradora do mesmo andar onde o policial aposentado residia, na região central da cidade, uma aposentada de 89 anos afirmou que conhecia Colleta há 56 anos. “Ele sempre foi um homem discreto, na dele. Saía para comprar o que precisava e não dava muitos detalhes de sua privacidade.”

Fachada do edifício onde morava Laercio Della Colleta, 92 anos, em Campinas (93 km de SP) - Alfredo Henrique/Folhapress

Mesmo após ficar viúvo, há cerca de dez anos, ele continuou mantendo a discrição, inclusive quando começou a receber Josefa em casa, de acordo com os vizinhos. A desempregada afirmou, em depoimento, que se relacionava com o idoso havia cerca de dez anos. Ela foi indiciada por tentativa de estelionato qualificado e vilipêndio de cadáver (desprezar ou humilhar corpo). Josefa nega ter levado o aposentado já morto ao banco, segundo disse a sua defesa à reportagem.

A vizinha do idoso afirma que a filha de Colleta, adotada, deixou o apartamento após a desempregada entrar na vida do escrivão aposentado. “Não sei o que aconteceu, mas a filha sumiu depois que a mulher apareceu”, disse.

O delegado Cicero Simões da Costa, titular do 1º DP de Campinas, afirma que nenhum parente se apresentou na delegacia após a morte do policial aposentado. Nenhum familiar esteve presente no velório de sepultamento do idoso, no cemitério Parque Flamboyant.

“Essa mulher [Josefa] também não é muito de falar. Só sei que ela e o Laércio começaram a ser vistos juntos faz uns cinco anos”, afirmou a vizinha, que pediu para não ter o nome publicado.

Na rua, Colleta e Josefa costumavam caminhar lado a lado, indo até à praça dos Pombos, que fica a poucos metros do prédio onde ambos residiam. A suspeita mora três pisos acima do andar do policial aposentado.

“Quando eu vi os dois juntos, jurava que a moça era cuidadora dele. Achava isso pela diferença de idade e por eles não manifestarem nenhum carinho juntos”, afirmou a atendente Fátima Pereira dos Santos, 37 anos.

Ela trabalha há 17 anos na região e acrescentou que o idoso costumava comprar pão, geralmente sozinho, no comércio onde ela faz atendimento.

O jornaleiro Matheus Tinti, 25 anos, atendeu ao idoso entre 2014 e este ano. Ele também falou sobre a discrição de Colleta, que costumava comprar jornais e trocar dinheiro na banca próximo à sua casa.

Segundo Tinti, o idoso também permanecia longos períodos na entrada do prédio onde morava, observando o movimento da avenida Francisco Glicério. O edifício é misto, tendo escritórios e residências no mesmo imóvel.

A Associação dos Escrivães de Polícia do Estado de São Paulo não soube informar quando ele se aposentou ou ingressou na instituição.

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