Uma força-tarefa da prefeitura de Itaí (SP) abriu em cerca de oito horas 37 covas para que parte dos 41 mortos em um acidente, ocorrido por volta das 6h30 desta quarta-feira (25), na rodovia Alfredo de Oliveira Carvalho, região de Taquarituba (328 km de SP), sejam enterrados no cemitério municipal da cidade, que tem pouco mais de 27 mil habitantes, segundo o IBGE.
Isso representa mais do que o dobro das covas feitas mensalmente na cidade do interior onde, segundo o prefeito Thiago Santos Michelin (Republicanos), ocorrem entre 12 e 15 sepultamentos por mês.
“Mobilizamos funcionários e, com a ajuda de uma retro escavadeira, conseguimos abrir as 37 covas”, explicou.
O político acrescentou que somente dois coveiros trabalham no cemitério da cidade. Eles tiveram o reforço de mais cinco funcionários da prefeitura, durante esta quarta, para dar conta de garantir os sepultamentos das 37 vítimas, todas residentes de Itaí.
Até por volta das 6h desta quinta, 29 corpos haviam chegado a Itaí, e 22 deles já haviam passados pelos velórios da cidade. Outras cinco vítimas ainda se encontravam em casas ou igrejas, e duas delas foram transportadas para outro município.
Os demais corpos, acrescentou o prefeito, eram analisados no IML (Instituto Médico Legal) da cidade vizinha Avaré, onde os corpos de todas as vítimas foram periciados. “O estado destes corpos impediu o reconhecimento deles [até o momento].”
Cidade parada
Desta quarta até o fim de semana, somente serviços essenciais, como coleta de lixo e farmácia popular, funcionarão na cidade, que já está em luto oficial, afirmou o prefeito.
Os corpos começaram a ser velados por volta das 20h desta quarta no ginásio Absay de Almeida, em Itaí.
O local foi preparado para receber oito caixões, distanciados por cerca de seis metros uns dos outros, segundo a prefeitura. Até dez pessoas podem prestar as últimas homenagens aos entes queridos, por vez. Todos os caixões estão lacrados, sobre os quais há fotos das vítimas. As medidas foram tomadas por causa da pandemia da Covid-19.
Outros dois ginásios também foram preparados para receber, respectivamente, seis e 23 caixões. O início dos sepultamentos estava previsto ainda para a madrugada desta quinta-feira (26). “Foram instalados luzes no cemitério exclusivamente para isso”, disse o prefeito.
Todas as vítimas fatais do acidente iam para o trabalho, em uma indústria têxtil em Taquarituba. O ônibus que ocupava bateu de frente com uma caminhão, na altura do km 171 da rodovia. O ônibus era clandestino.
A encarregada de fábrica Cheila Fogaça Rodrigues, 37 anos, afirmou conhecer todos que ocupavam o ônibus. “Convivi por sete anos com todo esse pessoal. A fábrica era muito animada. Mas hoje [quarta] de manhã estava muito silêncio e tristeza.”
Dois feridos permaneciam internados na Santa Casa de Avaré, até a publicação deste texto. Segundo Miguel Chibane, mantenedor da unidade, as duas foram submetidas a cirurgias.
Outros dois feridos foram enviados para Taquarituba. Segundo a coordenadoria de saúde da cidade, uma delas já teve alta e a outra foi transferida. O local da transferência não foi informado.
Ela soube sobre o acidente quando ia para o trabalho, onde as atividades foram suspensas, segundo Cheila, até o início da próxima semana.
Despedida
A operadora de granja Juliana Mingote, 37 anos, veio ao velório no ginásio Absay de Almeida para se despedir da prima, Elisângela Aparecida Mingote.
A última vez que se viram foi no último dia 15, em um churrasco na casa de Juliana. “A última coisa que ela me disse, antes de ir embora, foi: ‘o próximo encontro será em minha casa, para gente falar mal dos parentes”, relembra a operadora.
Ela disse que a prima era uma pessoa muito animada, que se divertia com pouco, bastando para isso um bom papo, cerveja e churrasco. “Ninguém vai esquecer dela, das festas, da alegria”, acrescentou.
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