O comerciante Paulo Cupertino Matias, 50 anos, suspeito de matar o ator Rafael Miguel e os pais do jovem, em junho do ano passado, na zona sul da capital paulista, teria pedido carona a caminhoneiros para fugir dos policiais do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), no dia 28 de outubro, no Mato Grosso do Sul, segundo disse Fábio Pinheiro, diretor do departamento à reportagem.
A fuga ocorreu após a divulgação de uma identidade falsa usada por ele na região de Eldorado, cidade a cerca de 450 km da capital Campo Grande, segundo a polícia. A prisão dele chegou a ser anunciada na semana passada pela Polícia Militar no interior do Paraná, mas foi desmentida logo em seguida pela Polícia Civil paulista.
O delegado afirmou "ter sido já confirmado" que Cupertino pegou carona em Naviraí, com um caminhoneiro, até Dourados, para depois rumar para Ponta Porã, todas cidades do Mato Grosso do Sul.
Ao todo, o foragido trafegou ao menos 250 quilômetros nestes trechos. A polícia acredita que ele tente, ou já tenha fugido, para o Paraguai. "Sabemos que ele fugiu levando somente uma mala da viagens", acrescentou o diretor do DHPP.
As polícias de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul trabalham conjuntamente para localizar o suspeito. A polícia paraguaia também foi acionada para ajudar nas buscas.
O nome de Cupertino consta na lista da Interpol (policia internacional). Apesar de todos os esforços, não havia pistas do paradeiro do suspeito do triplo assassinato até a publicação desta reportagem.
Após cometer o crime, em 9 de junho do ano passado, no bairro Pedreira (zona sul de São Paulo), Cupertino fugiu para o Paraná, ainda segundo o diretor do DHPP. Depois disso, ele foi até Ponta Porã (MS), na fronteira com o Paraguai, onde teria feito o documento falso com o nome de Manoel Machado da Silva, diz a polícia. “Ele [Cupertino] ficou um mês na casa de um piloto de avião em Eldorado. Depois foi para uma chácara, também do piloto, na zona rural da mesma cidade, onde ficou por mais de um ano”, explicou o delegado.
Além de ser apontado pela polícia como a pessoa que ajudou Cupertino a se esconder, o piloto também é foragido da Justiça de Rondônia, que expediu contra ele um mandado de prisão em 16 outubro de 2018. Ele é suspeito de transportar drogas, em um voo, segundo a polícia.
Já a prisão preventiva de Cupertino foi decretada em 19 de junho do ano passado. O nome dele foi incluído na lista dos mais procurados da Polícia Civil de São Paulo.
O piloto usou uma identidade falsa, ainda segundo o delegado, para adquirir um celular, usado por Cupertino. A defesa dele não foi encontrada pelo Agora.
Vida pacata
O delegado acrescentou que Cupertino ganhava R$ 800 por mês para realizar serviços gerais na chácara do piloto, como cuidar do gado e fazer reparos —a polícia, inclusive, conseguiu uma foto dele diante dos animais. Ele complementava a renda vendendo sanduíches, com os quais garantia média de R$ 200 mensalmente. "Ele não saía de lá. Não recebia visitas, por isso foi difícil localizar", disse o diretor.
O paradeiro de Cupertino foi localizado após a polícia paulista enviar digitais dele ao Paraná, onde constataram, por causa disso, a realização do documento de identidade falso. Com a divulgação da foto do novo RG, o foragido foi reconhecido no Mato Grosso do Sul, mas já era tarde, pois conseguiu fugir antes de a polícia chegar. "Ele perdeu sua zona de conforto quando o documento [falso] se tornou de conhecimento público", afirmou o diretor do DHPP.
A investigação em Eldorado foi assumida pelo delegado Pablo Reis, titular da delegacia da cidade. Ele afirmou ao Agora que agricultoras e moradores da zona rural reconheceram Cupertino pela televisão.
“Ele [suspeito] costumava sair da chácara, uma vez por semana para ir até a cidade, onde jogava na lotérica e ia à barbearia. As pessoas que ouvimos afirmam que ele era uma pessoa educada, com uma vida pacata. Ninguém desconfiava do crime [do qual é suspeito]. Foi uma surpresa geral”, afirmou o delegado.
Imagens recentes de Cupertino, enviadas à reportagem, mostram ele com uma longa barba branca. “Ele envelheceu bastante [desde o crime]”, acrescentou o delegado.
Apesar de o DHPP trabalhar com a suspeita de que Cupertino fugiu pedindo carona, o titular de Eldorado também investiga se a fuga ocorreu pelos ares, com a ajuda do amigo piloto do empresário.
Documento do aeródromo de uma fazenda, onde há uma pista de pouso e decolagem para pequenas aeronaves, indica que um avião pilotado pelo amigo de Cupertino pousou no local, por volta das 11h do último dia 27. Porém, não há no documento o horário da partida. “Ninguém viu a aeronave partir”, disse o delegado.
O policial desconfia que a decolagem ocorreu em um horário de troca de turno do local, exatamente para não ser testemunhada. "Como ninguém viu o avião decolar, há a suspeita de que o Cupertino possa ter embarcado no voo", afirmou o delegado.
A polícia pede para quem tiver informação sobre o foragido ligar ao Disque Denúncia, no número 181.
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