A desorganização provocada pela pandemia no mercado de trabalho, mais a incapacidade do governo Jair Bolsonaro de comunicar claramente o que deseja para a área social, vêm provocando perdas acentuadas aos mais pobres.
É claro que a deterioração da renda e o aumento da miséria começaram antes da chegada do presidente ao Planalto. Mas seu governo perde a chance de amenizar o quadro, marcado por alto desemprego, predomínio de vagas informais e elevada inflação.
Após longo período de queda na pobreza extrema, o percentual de brasileiros vivendo com renda per capita inferior a R$ 261 por mês, segundo critério da FGV Social, voltou aos dois dígitos a partir de 2015. Atualmente, 13%, quase uma Venezuela, estão na miséria.
O cenário agravou-se após o Brasil deixar de controlar o aumento da despesa pública e do endividamento no governo Dilma Rousseff (PT), o que levou a forte recessão no biênio 2015-16 e crescimento econômico medíocre desde então.
Nos últimos dez anos, apesar do aumento de 27% na escolaridade da metade mais pobre do país, sua renda despencou 26,2%. A educação é considerada a mola mestra para a conquista de melhores rendimentos. Mas o percurso recente revelou que, sem equilíbrio orçamentário e crescimento, esse esforço pode acabar inutilizado.
No social, o Brasil gasta até bastante, mas o faz de forma muito desigual. O Bolsa Família, por exemplo, fica com uma parte muito pequena do bolo.
Reorganizar a despesa e modernizar programas precisam estar no topo da agenda do próximo governo. Mas, como a trajetória recente mostra, isso precisará ser feito com contas públicas em ordem.
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