Carolina Iara, 28 anos, integrante de mandato coletivo do PSOL na Câmara Municipal de São Paulo, afirmou que sua casa, na região de Itaquera (zona leste da capital paulista), foi alvo de ao menos dois tiros, entre às 2h07 e 2h10 desta quarta-feira (27), quando ela se preparava para dormir. Nenhum suspeito havia sido identificado até a publicação desta edição.
A covereadora, primeira pessoa intersexo eleita no país, integra a Bancada Feminista, composta por seis pessoas, eleita em novembro do ano passado, a partir dos 46.267 votos recebidos por Silvia Andrea Ferraro, de acordo com o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo.
Dois candidatos a prefeito, no litoral e no interior paulista, além de um candidato a vereador da Grande São Paulo também foram vítimas de atentados a tiros, durante suas campanhas em novembro do ano passado.
Carolina foi prestar depoimento no DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoas), por volta das 15h30 desta quarta. Ela entregou à polícia imagens de câmeras de monitoramento que mostram um carro branco, que teria sido usado pelos suspeitos.
Segundo as imagens, um veículo branco chega em frente à casa de Carolina, às 2h07. Cerca de três minutos depois, é possível ver pés caminhando com pressa até o veículo, que é manobrado e sai do local.
Carolina Colto, chefe de gabinete da Bancada Feminista, afirmou que a mãe da covereadora ouviu sons semelhantes ao de tiros, no mesmo horário em que o carro branco foi flagrado pelas câmeras de monitoramento. Com base nisso, a polícia afirma que irá analisar as imagens para localizar o veículo e os suspeitos.
Como medida de segurança, no entanto, a covereadora e sua família deixaram o imóvel.
A chefe de gabinete disse ainda que Carolina Iara, apesar de ser ofendida em redes sociais, não recebeu ameaças de morte. As ofensas, segundo a chefe de gabinete, são provenientes de pessoas que não aceitam o fato de ela ser representante do seguimento LGBTI+. Carolina Iara é mulher trans. “Entendemos que ela incomoda muita gente”’, disse.
Apesar de a mãe da vereadora ter ouvido os tiros por volta das 2h, somente pela manhã foi possível constatar que um dos disparos atingiu uma parede, perto da cozinha da residência, e o outro, um muro.
Ao verificar os tiros, Carolina acionou seus advogados que a orientaram a registrar o caso no DHPP. “Não sabemos o motivo para isso acontecer. Exigimos que a polícia investigue, pois isso é muito grave, pois precisamos entender a motivação deste crime”, acrescentou a chefe de gabinete.
Carolina foi à polícia acompanhada por uma comitiva de colegas de partido e da Bancada Feminista, além de outros vereadores e de representantes do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana e da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo.
Representante de muitos corpos
Além de ser a primeira pessoa intersexo eleita, Carolina Iara é uma cientista social negra e trans que vive com HIV e já declarou que, por isso, representa muitos corpos em um só.
Ela foi presidente da Associação Brasileira de Intersexos. Intersexo é o que no passado se chamava de hermafrodita, uma pessoa que nasce com variações genitais ou hormonais que não se encaixam nas definições de feminino ou masculino.E Iara sofreu várias cirurgias de redesignação sexual ainda na infância --que ela trata como mutilações.
Em nota, a Bancada Feminista do PSOL afirma acreditar que se trate de um crime político, “por tudo que a covereadora representa como liderança de movimentos de pessoas trans”.
“Vamos oficiar a Secretaria de Segurança Pública. Trata-se de uma autoridade política que tem sua trajetória ligada à luta pelos direitos humanos e pelos direitos da diversidade sexual e ao combate ao racismo. Ao alvejar a casa dela, entendemos que se pretendia intimidar sua atuação. Esse crime, portanto, é político e viola a democracia”, disse o presidente do Condepe, Dimitri Sales.
“No nosso ofício, vamos pedir absoluto empenho da Polícia Civil na investigação. Esse crime tem de ser repreendido e deve servir de exemplo de que precisamos preservar a nossa democracia”, completou Sales.
Em nota, a Marcha das Mulheres Negras de São Paulo prestou solidariedade à parlamentar em meio ao que chamou de “clima de insegurança que rodeia mulheres negras e transvestigeneres” agravado pela “anuência e inoperância do Estado em seus diversos níveis”. A nota cita o caso do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, também do PSOL, assassinada em março de 2018, e cujos mandantes do crime seguem desconhecidos.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.