Descuido na higiene bucal pode ocasionar consequências sérias

Problemas vão desde uma simples cárie a até perda dos dentes, doenças cardiovasculares e diabetes

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São Paulo

A saúde bucal é um importante indicador de saúde, bem-estar e qualidade de vida, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Além das cáries, que são obstruções nos dentes causadas pela proliferação das bactérias, a falta de higiene na boca pode resultar em infecções e inflamações que se relacionam com doenças sistêmicas, como problemas cardiovasculares e diabetes.

Segundo o médico cardiologista do InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP), Flávio Tarasoutchi, pacientes com predisposição a ter problemas cardíacos devem ter muita atenção ao cuidado bucal, principalmente aqueles com disfunções nas válvulas, sopros ou alterações estruturais no coração, que pedem o uso de próteses ou marca-passo.

"Quando o paciente não tem uma higiene bucal correta, há uma queda da resistência imune, as bactérias habituais da boca se proliferam e liberam substâncias inflamatórias na corrente sanguínea, que aderem às válvulas do coração", explica o cardiologista. "Isso gera uma inflamação e consequente infecção que chamamos de endocardite infecciosa."

A situação também atinge pessoas com problemas nas artérias coronárias. Segundo Tarasoutchi, a proliferação de bactérias na boca e liberação de substâncias inflamatórias pode desestabilizar as placas de gordura no coração e obstruir as artérias do paciente, levando até a infartos.

21.02 Viva Bem - Higiene Bucal
Arte Agora São Paulo

Esse processo inflamatório que afeta o corpo de maneira sistêmica deriva da chamada doença periodontal. "É uma doença que causa uma inflamação nas gengivas e que, de maneira vagarosa e crônica, vai destruindo a sustentação dos dentes na boca", conta Giuseppe Alexandre Romito, cirurgião dentista e professor da Faculdade de Odontologia da USP.

As características da doença periodontal fazem com que ela possa interferir negativamente em outras doenças. "Existe várias situações sistêmicas que podem estar associadas à doença periodontal, como em pacientes diabéticos, cardíacos, hospitalizados ou entubados. Ela também tem associação com obesidade e disfunção erétil", exemplifica o professor da FOUSP.

Em pessoas com diabetes, os mecanismos inflamatórios da doença periodontal dificultam o controle da concentração de glicose no sangue. "O paciente precisa controlar o nível glicêmico através de exercícios físicos, alimentação, remédios e da manutenção da saúde bucal", complementa Romito.

Cuidados básicos no dia a dia previnem complicações

Dentistas advertem que dores persistentes na boca, sangramentos, alterações na coloração das gengivas e o aparecimento de lesões são sinais de alerta para marcar uma consulta. A manutenção da saúde bucal deve ser feita unindo visitas periódicas ao profissional da saúde com hábitos diários.

Uma alimentação saudável é imprescindível para evitar problemas na boca. A elevada ingestão de açúcar, por exemplo, pode gerar cáries e inflamações na gengiva. "É preciso estar atento ao açúcar escondido em alimentos que não são doces, mas que são carboidratos ou levam açúcar em sua composição, como salgadinhos e biscoitos", explica Sofia Takeda Uemura, cirurgiã dentista e presidente da Comissão de Ética do CROSP (Conselho Regional de Odontologia de São Paulo).

A escovação dos dentes e o uso do fio dental são hábitos rotineiros que não podem ser deixados de lado. "Utilize sempre um creme dental que contenha flúor e se atente aos horários da escovação. O melhor momento de realizar a higienização dos dentes é sempre após as refeições e antes de dormir", orienta a dentista.

Junto a estas medidas rotineiras, as visitas periódicas ao dentista consolidam uma boa saúde bucal. Segundo Uemura, a periodicidade das visitas deve ser individualizada de acordo com o risco de cada pessoa. "Não dá para generalizarmos se as consultas devem ser de 6 em 6 meses ou de 1 em 1 ano, por exemplo. Quem determina isso é o dentista de acordo com as necessidades do paciente", defende.

Principais doenças resultantes da falta de higiene bucal

Cáries

  • Obstrução dos dentes causada pela proliferação das bactérias da boca após consumo exagerado de açúcar

Aftas

  • São pequenas feridas ovais e esbranquiçadas que surgem na mucosa, nas gengivas e sob a língua

Halitose (mau hálito)

  • Causado pelo gás sulfídrico, produzidos pelas centenas de micro-organismos existentes na boca

Gengivite e periodontite

  • É uma inflamação da gengiva, causada pela placa bacteriana, que pode comprometer um ou mais dentes

Endocardite bacteriana

  • É uma complicação grave da periodontite, quando as bactérias instaladas na boca se espalham pela corrente sanguínea

Herpes

  • Infecção causada por vírus com a presença de pequenas feridas agrupadas que em geral surgem nos lábios

Câncer

  • Pode afetar lábios, gengivas, área interna das bochechas, céu da boca e língua

Sinais de alerta para buscar um dentista fora das visitas periódicas:

  • Dores persistentes na boca (seja nos dentes, nas gengivas ou na mandíbula durante a mastigação ou movimentação)

  • Sensibilidade nos dentes

  • Sangramentos na hora da escovação ou ao passar fio dental

  • Aparecimento de lesões que não cicatrizam

  • Rangidos nos dentes durante a noite

  • Alteração na coloração das gengivas (que são geralmente rosadas e sem brilho)

Cuidados gerais com a saúde bucal:

  • Evitar o consumo exagerado de açúcar (atenção especial para alimentos com açúcar “escondido”, como pães, salgadinhos e biscoitos)

  • Evitar bebidas açucaradas ou muito ácidas

  • Não fumar

  • Manter uma alimentação saudável no dia-a-dia

  • Utilizar fio dental antes da escovação

  • Escovar os dentes sempre após as refeições e antes de dormir

  • Consultar um dentista periodicamente (a periodicidade é individualizada e deve ser determinada pelo profissional para cada paciente)


Fontes: Andréa Lusvarghi Witzel, cirurgiã dentista e professora da Faculdade de Odontologia da USP; Giuseppe Alexandre Romito, cirurgião dentista e professor da Faculdade de Odontologia da USP; Sofia Takeda Uemura, cirurgiã dentista e presidente da Comissão de Ética do CROSP (Conselho Regional de Odontologia de São Paulo)

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