Médicos a partir de 70 anos de idade esperaram até duas horas para tomar a primeira dose da vacina contra o novo coronavírus, nesta terça-feira (9), na sede do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), no centro da capital paulista. Uma enorme fila, com aglomeração dos idosos, chegou a se formar pela manhã na calçada da rua Frei Caneca.
A Secretaria Municipal da Saúde começou nesta terça a vacinar idosos que são profissionais da saúde autônomos. Por isso, o conselho disponibilizou o local para vacinar médicos idosos, cadastrados em seu registro principal, em parceria com a gestão Bruno Covas (PSDB).
Segundo o conselho, a demora ocorreu pois alguns dos médicos não haviam feito cadastro no site do governo estadual, o VacinaJá, para tomar a Coronavac. O registro precisou ser feito na própria sede da entidade, provocando a formação da fila pela manhã.
O 1º secretário do Cremesp, o cirurgião Angelo Vattimo, disse que a expectativa era vacinar até 700 pessoas entre as 9h e 19h desta terça. Porém, até por volta das 12h15, cerca de 850 médicos já haviam tomado a dose da vacina.
“Isso superou nossas metas e, dependendo de como for a procura, poderemos aumentar em uma semana o período de vacinação [no Cremesp]”, disse.
Segundo o porta-voz, nesta quarta-feira (10) serão vacinados médicos com idades entre 65 e 69 anos. Nos dois dias seguintes, será a vez de idosos, com registro médico ativo no Cremesp, entre 60 e 64 anos.
Essa logística será repetida na próxima semana, com exceção da terça-feira de Carnaval (16), que será compensada no sábado seguinte. Se a adesão for alta, como adiantou Vattimo, a entidade pode estender esse cronograma de imunização por mais uma semana. Não foi informado o número total de doses disponibilizadas ao conselho, mas, segundo o dirigente, serão suficientes.
O cirurgião cardiovascular João Maria Ferreira de Araújo, 78 anos, afirmou ter aguardado cerca de uma hora, na calçada do Cremesp, e o mesmo tempo no prédio da entidade, para tomar a primeira dose da vacina contra a Covid-19.
“Mas quando chegou minha vez, mostrei meu registro [do Cremesp] e o RG e foi bem rápido [para a aplicação da vacina]”, explicou, por volta das 13h40.
O cirurgião acrescentou que a pandemia o deixou isolado em casa, desde março do ano passado, de onde realizou poucos atendimentos a pacientes, por videochamadas.
“Em 2019 eu fazia média de seis a oito cirurgias por mês. Já no ano passado, até o início da pandemia, fiz meia dúzia”, afirmou ele, que após tomar a segunda dose da vacina, em março, pretende voltar à sua rotina de trabalho.
Diferentemente do cirurgião, a gineco-obstetra Emília Murata, 72, afirmou que a pandemia foi um incentivo para ela iniciar sua aposentadoria. De 25 pacientes semanais, ela passou a atender somente cinco e em apenas um único dia da semana. “Estou a um passo de parar com tudo para poder descansar e aproveitar a vida.”
Ela afirmou ter aguardado cerca de 40 minutos para ser vacinada, por volta das 14h.
Em toda a capital, de acordo com o Cremesp, há cerca de 18.800 registros ativos de médicos acima dos 60 anos. Desde o início da pandemia, até dezembro do ano passado, a entidade registrou quase 200 mortes de médicos por causa da Covid-19.
“Vamos criar um memorial para homenagear estas pessoas. Mas, neste momento, é hora de falar de vida [por causa da vacina] e não de morte”, concluiu.
A gestão Bruno Covas (PSDB) iniciou nesta terça a vacinação de profissionais de saúde autônomos a partir de 60 anos, que atuam em clínicas e hospitais, como médicos; enfermeiros, técnicos e auxiliares; nutricionistas; fisioterapeutas; terapeutas ocupacionais; biólogos; biomédicos e técnicos de laboratório que façam coleta de testes e análise de amostra de Covid-19; farmacêuticos; odontólogos; fonoaudiólogos; psicólogos; assistentes sociais; profissionais de educação física; e médicos veterinários.
Desde a última sexta idosos em geral com idade a partir de 90 anos estão sendo vacinados em unidades básicas de saúde, pontos de drive-trhu e outros locais. Na segunda-feira começam a ser vacinadas pessoas com idade a partir de 85 anos.
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