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Casais de moto unem trabalho e namoro para fazer entregas

Em meio à crise, eles mantêm parceria sobre duas rodas no momento de levar pedido a clientes

São Paulo

Parceria, cumplicidade e muito amor, mesmo quando fecha o tempo, fazem parte das vidas de motoboys e motogirls que contam com seus companheiros no dia a dia sobre duas rodas. Fazer entrega a dois, mesmo com ressalvas de empresas e do sindicato da categoria, é a forma encontrada para permanecerem juntos.

Vendedor ao longo do dia, Thiago de Souza Santos, 32 anos, se torna motoboy durante a noite em jornadas que, invariavelmente, passam da meia-noite. Ao menos quatro vezes por semana, ele tem a companhia da namorada, a promotora de vendas Larissa Custódio, 24, durante as entregas por aplicativo. “O bom é que mata a saudade do dia. Ela está junto comigo dando força para conquistar os nossos objetivos”, explica.

“Gosto muito de estar com ele. Chega a noite e venho junto. É bom porque a gente conhece coisas e lugares novos”, diz Larissa, que namora o vendedor e motoboy há dois anos. Para aumentar as chances de serem chamados para fazer entregas, ela também liga o aplicativo, o que duplica as oportunidades. “Vai pela rapidez, com os dois trabalhando juntos.”

O casal Thiago de Souza e Larissa Custódio, durante entrega, na última semana - Rubens Cavallari/Folhapress

Muitas vezes, cabe à vendedora dar aquela força para que o namorado tenha a disposição necessária para encarar o desafio. Foi o que aconteceu na última quinta-feira (10), quando a reportagem encontrou o casal em um ponto de entrega de pedidos na zona sul de São Paulo. “Eu não queria ir de jeito nenhum por causa da chuva e ela me incentivou”, afirma Santos.

Sobre os riscos de ter alguém na garupa durante o trabalho, Santos explica que é cuidadoso. “Vai de cada motoboy. Presto atenção no que estou fazendo, vou tranquilo, sem pressa. Não coloco a minha vida em risco e nem a dela ou de outras pessoas no trânsito.”

O motoboy Artur Gomes de Oliveira, 23 anos, trabalha das 9h às 23h todos os dias. Para que o namoro siga firme, ele conta com a disposição da namorada, a estudante Anny Gabrieli Andrade dos Santos, 21, que o acompanha alguns dias da semana. “Acredito que casal que vai no corre junto também cresce juntos. Ele sempre me ajudou em diversas ocasiões, então isso é o mínimo que posso fazer por nós”, conta. “Mesmo sendo um tempo no trabalho, a gente se diverte muito”, afirma.

Para Oliveira, é uma forma de alcançar os objetivos lado a lado. “Futuramente, ela também terá feito parte de tudo, quando a gente conquistar algo”, diz o motoboy, que é elogiado nos cuidados pela namorada. “Mesmo sendo uma profissão perigosa, ele me transmite muita segurança. É um ótimo motociclista, por sinal”, afirma Anny.

Motogirl conta com a ajuda do marido

A crise provocada pela pandemia atingiu em cheio o casal Luana Dias da Silva, 26, e José Augusto dos Santos, 36 anos. A renda familiar diminuiu e foi dela a iniciativa de se inscrever em um aplicativo para fazer entregas de moto, seis dias por semana —folga apenas na segunda-feira.

Luana trabalha com personalização de brindes, acessórios, entre outros. Como festas e eventos estão em baixa, a grana anda curta. Santos é professor de artes marciais e também viu cair o número de alunos. “Geralmente, quem toma a iniciativa das coisas é ela. Ela vai para cima e acabou, pronto”, conta o marido.

A motogirl Luana Dias com o marido José Augusto, que a acompanha nas entregas - Rubens Cavallari/Folhapress

O próprio serviço de personalização foi ideia da mulher, tendo o casal investido cerca de R$ 8.000 em máquinas para montar a estrutura para criação dos produtos na casa onde moram, no Jardim São Savério, próximo à região do Cursino (zona sul de São Paulo). “A mensagem que deixo para os caras é para não tentarem engessar a criatividade de suas mulheres”, afirma José Augusto.

A parceria de vida entre os dois, que estão juntos há sete anos, tem dado certo, mesmo em momentos difíceis como o atual. “Quem ganha junto sabe como gastar com sabedoria”, diz.
Para Luana, a companhia do marido na moto é fundamental. “Tentei uma vez ir sozinha, mas não foi muito legal. Com ele é bom, sinto uma segurança muito grande”, afirma.

A motogirl conta que não vê tantas entregadoras mulheres no dia a dia. Já o professor de artes marciais explica que maridos que passam por momentos difíceis devem incentivar e apoiar suas mulheres sempre no dia a dia. “Não pode deixar preconceitos determinarem o caminho da sua vida. Tem que ajudar. Deixar o machismo de lado e entender que tem uma companheira. Tem que auxiliar. Um ajuda o outro em um relacionamento”, afirma.

Garupa exige mais atenção e risco aumenta

Levar alguém na garupa no trabalho tem um quê de amor proibido. Entregadores reconhecem que o risco aumenta, exigindo mais atenção, assim como o consumo de combustível dispara.

Para Clayton Jones Ferreira, 29 anos, a companhia da mulher, Carla Rodrigues, 25, faz com que seja mais cuidadoso. “Quando está sozinho, você acelera e corre mais. Com outra pessoa, presta mais atenção, segura um pouco mais a onda”, diz

Para Ferreira, a presença da mulher na garupa é fundamental. “Ela vai comigo para incentivar. Muitas vezes, você fica na rua três horas e não toca o aplicativo para fazer entrega”, diz. Ele fala que é uma oportunidade também para que Carla espaireça em algum dia na semana, já que tem como rotina cuidar do filho do casal, de 9 meses. “Tem dia que chego em casa e vejo que o negócio foi feio. O menino rouba a atenção, a paciência, tudo”, brinca.

Sindicato desaconselha a prática durante o trabalho

O presidente do SindimotoSP (Sindicato dos Mensageiros Motociclistas, Ciclistas e Mototaxista Intermunicipal do Estado de São Paulo), Gilberto Almeida dos Santos, o Gil, afirma que a legislação veta a carona em garupa no trabalho e desaconselha a prática. “Está colocando a vida dele em risco e a de terceiros, numa exposição desnecessária. A orientação que o sindicato dá é de que não há necessidade de agregar mais uma pessoa à garupa”, diz.

Um dos maiores do setor, o Ifood diz que promove campanhas educativas para incentivar boas práticas no trânsito. “Dessa forma, contanto que as práticas estejam de acordo com a legislação do trânsito, a empresa não interfere na forma como os profissionais autônomos optam por trabalhar e, inclusive, na opção de levar alguém na garupa como acompanhante em seus trajetos”, diz, em nota.

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