Durante a pandemia de Covid-19, o professor de geografia Paulo Magalhães, 56 anos, se viu diante de um problema. Idealizador do “Aula Pública”, em que leva alunos às ruas da cidade para dar aulas ao ar livre desde 2016, na Emef (Escola Municipal de Ensino Fundamental) Duque de Caxias, no Glicério (região central de São Paulo), ele precisou se adaptar.
Como não poderia levar seus alunos para as ruas, o professor trouxe as ruas para as telas de computadores deles. Em um primeiro momento por histórias em quadrinhos e, depois, por vídeos gravados com a ajuda do professor de história Wilson Amaral, da escola da rede municipal, e postados nas plataformas de aprendizado disponíveis para os estudantes.
“No ano passado, eu criei um projeto chamado ‘Histórias em Quadrinhos’, em que eu peguei algumas fotos das nossas saídas e usei alguns aplicativos para transformar em desenhos e adicionar balões com falas”, diz Paulo Magalhães, ao Agora.
“Durante a pandemia, eu não tenho levado as turmas presencialmente, então vou juntamente com um professor para os locais, preparo um vídeo e subo nas plataformas de ensino que usamos. Então os alunos assistem ao vídeo e respondem algumas questões, que articulo com os outros professores, para que eles não percam tudo que trabalhamos nos últimos anos. É também para eles não esqueceram os locais que percorremos”, completa o professor.
No projeto, que ganhou o primeiro lugar no prêmio Direitos Humanos da Secretaria Municipal dos Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo, o professor levava, de 15 em 15 dias, os estudantes para pontos da cidade como praça da Sé, largo Paissandu, Theatro Municipal e outros pontos educativos da capital. Mais do que isso, ele quis colocar em destaque a própria região do Glicério e da Liberdade.
Nas saídas, que tinham autorização dos pais e conscientização da escola e dos alunos, o conteúdo lecionado estava atrelado ao currículo da cidade de São Paulo e com a BNCC (Base Nacional Comum Curricular).
“A gente conseguiu mexer com a estrutura do bairro e das pessoas da comunidade. Quando dou Aula Pública, aparecem pessoas da comunidade, pais e até moradores de rua. Uma vez levei 100 alunos de uma vez. O conteúdo ultrapassa a aula de geografia e fala muito também da questão da territorialidade e da cidade em si, tudo dentro do currículo escolar”, comenta Paulo Magalhães.
“Os alunos passaram a respeitar o espaço interno da escola, assim como o externo, até diminuindo a violência”, destaca.
Por enquanto, o projeto seguirá contando virtualmente pelas mãos do professor a história do bairro e da cidade. “Sou apaixonado por geografia e, pós-pandemia, continuaremos a vasculhar todos os cantos da cidade com nossos estudantes por meio do projeto Aula Pública”, enfatiza Paulo Magalhães.
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