Frio. Vento. Garoa.
O inverno está com tudo.
As paulistanas já sabem.
Tempo de enfiar a calça no cano da botinha.
Roberta caprichava no visual.
—Adoro esse tempinho.
Ela só reclamava de uma coisa.
—O chuveiro elétrico.
Especialistas concordam.
—É uma aberração. Só existe no Brasil.
Roberta diminuía o fluxo da água.
—Mas assim é só um xixizinho.
E os riscos aumentam.
—Pode queimar a resistência.
O pior era nos dias de lavar o cabelo.
—Quer saber? Vou cortar curtinho.
Roberta se olhou no espelho.
Os fartos cabelos tipo samambaia eram parte indeclinável do seu visual.
Ela resolveu fazer pesquisa no Instagram.
—Corto ou não corto?
Um antigo admirador se manifestou com veemência.
—Seria o mesmo do que eu fazer mudança de sexo.
O nome dele era Clésio.
Roberta se lembrava.
—Nossa… quem é vivo sempre aparece.
O rapaz tinha se mudado para Blumenau.
Deixando saudades no coração e um xampu anticaspa no banheiro.
—Voltei.
Roberta não cortou o cabelo.
O dispêndio extra de energia elétrica levou a um apagão geral no apê da beldade.
Mas quando ferve uma paixão, chuveiro é o de menos.
Voltaire de Souza
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