Descrição de chapéu maternidade

Doação de leite materno beneficia bebês e doadoras

Bancos de leite podem salvar a vida de bebês prematuros, além de fornecer orientação e suporte às mães no período do aleitamento

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São Paulo

O Agosto Dourado é o mês de incentivo à amamentação e os bancos de leite humano são peça fundamental na dinâmica de aleitamento materno. Em São Paulo, o Banco de Leite do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE) relatou um aumento no número de mães interessadas em doar leite, ação que traz benefícios não somente aos bebês que recebem o alimento, mas também às próprias doadoras.

"Quem recebe o leite doado são bebês internados em UTIs neonatais, prematuros, com doenças ou algo que impeça a amamentação da mãe", diz Walter Nelson Cardo Jr., médico neonatologista do HSPE.

O médico explica que, para a mãe produzir leite, é preciso que haja um estímulo que acontece por meio da sucção do bebê. As crianças prematuras ou com alguma doença, todavia, podem não conseguir sugar o seio materno, o que faz com que a mãe não produza o alimento.

É o caso da pedagoga Verena Rodrigues, 32. Ainda grávida, os médicos detectaram que seu filho, Leonardo, tinha uma arritmia cardíaca e ela precisou realizar uma cesárea de emergência com 32 semanas de gravidez.

Além da cardiopatia, Leonardo nasceu com má formação nos rins e teve que ser intubado. "Ele ficou totalmente intubado por 13 dias e eu não conseguia amamentar. No início, meu leite ainda não estava fortalecido para descer, porque era muito cedo. Como o estado dele era grave, eu fiquei muito abalada emocionalmente e também não conseguia produzir leite suficiente", explica Verena.

Durante os primeiros 16 dias de vida, Leonardo alimentou-se exclusivamente do leite doado por outras mães. Hoje, com 28 dias, ele ainda está internado no HSPE, mas começou a ser amamentado por Verena, que segue complementando a alimentação do filho com o leite do banco.

"O que salvou o Leonardo, além dos médicos, foi o banco de leite. Se não fosse isso, ele teria que tomar fórmula, mas nasceu debilitado e precisava das vitaminas do leite materno", conta a pedagoga.

Para a auxiliar de enfermagem, Tatiane Soares, 38, o banco de leite foi uma solução para si mesma, além de uma forma de ajudar outras mães. Ela trabalha no próprio Hospital do Servidor e é mãe de Thales, de um ano e dois meses.

"Quando eu voltei a trabalhar em novembro após a licença maternidade, meu peito inchava muito. Eu comprei uma bombinha para tirar o leite e jogava fora no banheiro, até descobrir o banco de leite", conta.

Até Thales completar oito meses, Tatiane usou o banco para coletar seu próprio leite e levar pra casa para alimentá-lo. Quando ele começou a comer legumes e frutas, ela parou de levar o leite para casa e passou a deixá-lo para doação.

"Eu ainda tinha muito leite. Até ele completar um ano, eu ia duas vezes por dia no banco de leite doar. Agora, vou uma vez por dia na hora do almoço", conta.

Tatiane explica que se deixa de tirar o leite no almoço, sente muita dor ao amamentar o filho à noite. Além disso, a coleta do leite durante o dia faz com que os seios fiquem menos pesados e doloridos, o que facilita seu trabalho como auxiliar de enfermagem. "Me alivia e eu acabo ajudando os outros", complementa.

Mãe amamenta duas meninas e é doadora

A bancária Letycia Sobreira, 29, é mãe de duas meninas: Luna, de oito meses, e Nina, de dois anos e três. No início da amamentação de sua primeira filha, tinha leite em excesso e não conseguia se deslocar até um banco de leite para doar. Por conta disso, acabava jogando o leite fora.

Foi quando descobriu a possibilidade da coleta domiciliar, modalidade em que os profissionais do banco de leite do Hospital do Servidor deslocam-se até a casa da doadora para recolher o leite materno. Dessa maneira, semanalmente, Letycia passou a destinar o excesso para doação.

"Eu doava cerca de dez frascos por semana, cada um com 700ml", relata. Os registros desse período atestam que a bancária doou mais de 150 litros de leite durante a amamentação de sua filha mais velha.

Durante a gravidez de sua segunda filha, Letycia precisou fazer uma pausa nas doações, já que a produção de leite no período era menor, suficiente apenas para conseguir amamentar a mais velha.

Com o nascimento de Luna, seu corpo retomou o maior volume de leite. "Agora, há uns oito meses, eu amamento a mais velha e a mais nova ao mesmo tempo e voltei a fazer doação", conta.

Letycia segue na modalidade da coleta domiciliar. "Eles vêm em casa buscar o leite toda semana, trazem os frascos de vidro já esterilizados e fornecem também touquinha, máscara e etiquetas, tudo certinho para a doação", diz.

A mãe reitera a importância do ato: "é uma forma de acolher essas crianças que acabaram de vir ao mundo com esse leite que é tão poderoso e essencial para a vida delas".

Além da doação, banco de leite dá suporte para mães

A produção de leite da bióloga Beatriz Gomes, 31, não é suficiente para que ela seja uma doadora. Mesmo assim, o banco de leite tem função essencial na sua rotina de aleitamento.

Ela é mãe da Mariana, bebê de um ano e dois meses, e trabalha no banco de sangue do HSPE de segunda à sexta-feira, das 7h às 16h. Quando voltou da licença maternidade, sentiu a necessidade de continuar amamentando a filha, que, na época, tinha cinco meses de idade.

Beatriz, então, começou a realizar o procedimento de coleta do leite em sua casa aos fins de semana ou no período da noite após o trabalho. Todavia, foi informada que poderia utilizar o banco de leite do hospital para coletá-lo durante o expediente.

"Eu consigo ofertar meu leite para ela mesmo trabalhando fora", comemora a bióloga. Ela explica que pode trazer os próprios potes esterilizados ou usar os oferecidos pelo hospital. Assim, tira o leite na salinha de ordenha, deixa no freezer e, no dia seguinte, leva os frascos para que seus pais, que cuidam de Mariana, possam alimentar o bebê.

A dinâmica acontece desde dezembro e Beatriz elogia o suporte dos profissionais do banco de leite durante o processo. "A minha produção não é suficiente para doar, mas a oportunidade de ter o banco de leite aqui dentro do hospital é muito válida, porque, além das mães da UTI poderem utilizar o leite, isso permite que nós funcionárias possamos continuar amamentando", defende.

Doar potencializa benefícios da amamentação

De acordo com o médico neonatologista Walter Nelson Cardo Jr., a doação de leite materno ajuda as próprias doadoras. "Mulheres que doam o leite recebem os benefícios da amamentação, como menor risco de câncer de mama, maior imunidade e menor risco de engravidar no período", explica.

Assim, mesmo se os filhos diminuem ou cessam a demanda de leite, a mulher pode seguir doando e aproveitando os benefícios. Também é importante reforçar que a doação não prejudica a amamentação dos filhos, diz o médico, porque o leite doado é o excesso que não é consumido pelo bebê.

Segundo Cardo Jr., qualquer mulher saudável que esteja produzindo leite pode doar. Ao se voluntariar, é feita uma triagem para verificar se a mulher está tomando algum medicamento incompatível com o procedimento. "Em caso de dúvida, ligue no banco de leite e pergunte. Às vezes, uma mãe deixa de doar por acreditar que não pode", esclarece.

As mulheres também não devem ter receio ou vergonha de doar pouca quantidade de leite. "Tem bebê prematuro que toma 1ml de leite algumas vezes por dia. Então, se uma mulher doar 50ml, consigo usar para vários bebês", diz.

"Qualquer leite doado para os bancos de leite é uma preciosidade. O pouco que você pode doar de leite, a gente utiliza", complementa o neonatologista.

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