Voltaire de Souza: Chega de palhaçada

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Voltaire de Souza

Dúvida. Incerteza. Inquietação.
É confusa a política no país.
O clima econômico também se deteriora.
Laurênio era um empresário de prestígio na área de varejo.
—Como está o dólar?
—Subiu, seu Laurênio.
—E a bolsa?
—Caindo, seu Laurênio.
Ele respirou fundo.
—Desse jeito não dá para continuar.
Veio a notícia urgente.
—Os caminhoneiros, seu Laurênio.
—O que é que tem?
—Parando as rodovias.
Laurênio se levantou da cadeira.
—E as nossas entregas?
—Parece que está difícil, seu Laurênio.
—Absurdo. Intolerável.
O assessor se chamava Neves.
—Nunca vi o patrão tão nervoso.
Serviram um chá de boldo.
—Amargo. Mas é bom para o fígado.
Laurênio continuava agitado.
—E os nossos estoques?
—No osso, seu Laurênio.
A manhã avançava abafada pelos lados do Ipiranga.
—Essa palhaçada tem de acabar.
O presidente Bolsonaro continua fazendo discursos.
—Um grande babaca. É isso o que ele é.
Neves ficou espantado.
—Mas o senhor sempre gostou dele…
Laurênio deu ordens ao garçom.
—Chega de chá com torrada. Me manda um parati.
A cachacinha fortaleceu as convicções de Laurênio.
—Chega. Basta. É demais.
Laurênio deu seu ultimato ao presidente Bolsonaro.
—Faz esse golpe de uma vez, caceta. E para com a enrolação.
Alguns preparam o chá.
Outros, a porrada.

Caminhoneiros cruzam os braços e ficam com os caminhões estacionados em um posto de combustível
Caminhoneiros cruzam os braços e ficam com os caminhões estacionados em um posto de combustível - Pedro Ladeira/Folhapress
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