Um relatório técnico feito pelo Caex (Centro de Apoio Operacional à Execução) do Ministério Público de São Paulo apontou que o que causou o estouro dos pneus de uma composição do monotrilho da linha 15-prata, em fevereiro de 2020, foram problemas de projeto e execução da linha, assim como, problemas de projeto, fabricação e montagem dos trens.
Segundo o MP, esses problemas resultaram em uma interferência entre o run flat e a superfície interna da banda de rodagem dos pneus.
O run flat é um dispositivo que fica posicionado dentro do pneu para que este consiga rodar desinflado, ou seja, permite que um trem totalmente carregado e com o pneu desinflado possa ser levado em velocidade reduzida (de no máximo 15 km/h) até a estação mais próxima para realizar o desembarque dos passageiros em segurança.
No relatório, o Ministério Público conclui que as irregularidades encontradas são de responsabilidade do Consórcio Expresso Monotrilho Leste. “Como o fornecimento do material rodante e da infraestrutura civil estava contratualmente a cargo do CEML - Consórcio Expresso Monotrilho Leste, constituído pelas empresas: Construtora Queiroz Galvão S/A (líder do Consórcio), Construtora OAS Ltda., Bombardier Transit Corporation e Bombardier Transportation Brasil Ltda., entende-se serem estas as responsáveis pelas irregularidades encontradas no Sistema Monotrilho.”
O documento faz parte do inquérito que foi aberto pelo promotor Silvio Marques, em março de 2020, para investigar possíveis irregularidades na linha 15-prata. Conforme apontou o procurador no pedido de investigação, “a linha acumula atrasos e uma série de falhas”.
A linha 15-prata acumula ocorrências desde a inauguração de suas primeiras estações. Em 2016, um dos trens do monotrilho partiu da estação Oratório com as portas abertas e exigiu que a operação do metrô interrompesse a viagem imediatamente com parte da composição ainda na estação. Já em 2019, dois trens vazios se chocaram durante uma manobra próxima à estação Sapopemba.
O relatório aponta também, além dos pneus que estouraram e deixaram a linha sem operar por quase quatro meses, uma sequência de falhas registradas no mesmo ano de 2020.
O Ministério Público informou ao Agora que a investigação ainda está em andamento e completou dizendo que “foram requisitadas informações ao Metrô e empresas sobre as medidas adotadas a partir da constatação dos problemas (notadamente no tocante à segurança dos usuários) e sobre o prejuízo ao erário”.
A análise feita pelo Núcleo de Engenharia do Caex contou com informações e documentos técnicos cedidos pelo Metrô, como projetos executivos, relatórios, contratos, diários de obras e correspondências trocadas entre o Consórcio do Expresso Monotrilho Leste e o Metrô.
Resposta
Questionado sobre o relatório do Ministério Público, sobre quais providências estão sendo tomadas e se há riscos à segurança dos passageiros que utilizam a linha 15-prata, o Metrô respondeu que “a conclusão do Ministério Público de que o Consórcio CEML é o responsável pelas inconformidades que levaram aos danos nos pneus de um dos trens da linha 15, e posterior substituição das peças de outras composições, vai ao encontro do que foi constatado pelo Metrô à época, que inclusive multou essa empresa pelas falhas encontradas. A reabertura da linha foi feita apenas com os laudos de segurança e testes que asseguraram o correto funcionamento dos trens”.
O Consórcio Expresso Monotrilho Leste não respondeu aos questionamentos do Agora até a publicação desta reportagem.
Expansão da linha 15-prata
Segundo o governo do estado de São Paulo, gestão João Doria (PSDB), a linha 15 terá mais uma estação inaugurada neste mês, a do Jardim Colonial. Ela faz parte de mais uma etapa da construção da linha, que começou a ser construída em 2009 e que iria, inicialmente, da Vila Prudente à Cidade Tiradentes, com data de entrega até 2012.
Após atrasos, alterações no projeto e a retomada das obras em abril de 2019, a linha 15-prata hoje vai até a estação São Mateus e receberá quatro novas estações. Depois do Jardim Colonial, serão entregues mais duas no sentido leste —Boa Esperança e Jacu Pêssego— , e uma no sentido oeste, Ipiranga. As três têm previsão de entrega para 2024.
Diferentemente das composições metroviárias e ferroviárias, que utilizam apenas rodas metálicas, o monotrilho é sustentado por rodas e pneus.
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